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sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O FAIAL CORTADO À FACA VI - A falha da Ribeira do Rato

Enquanto a sul da Pedro Miguel as lombas estão associadas a falhas geológicas que provocam uma vertente sul pouco inclinada e outra a norte muito abrupta, o que indica que as zonas a norte abateram em relação a sul, depois de se atravessar o "vale" desta freguesia, ocorre uma situação simétrica face à parte meridional da ilha.
Pequena lomba a norte da Ribeira do Rato, altamente inclinada para sul, indicando que agora é o bloco sul que se encontra abatido e que a falha da Ribeira do Rato inclina para sul.
Agora, é a vertente norte da lomba que apresenta um declive mais suave, contrariamente às lombas a sul de Pedro Miguel.


Aproveitando perturbações no plano da falha da Ribeira do Rato, instalou-se nesta vertente sul uma antiga rua, que sobe quase na perpendicular à lomba, daí resultou uma via muito íngreme, que devido à sua inclinação se chama "rua do Calvário", para lembrar a dificuldade da subida, à semelhança do relato bíblico da paixão. Um efeito da geologia na toponímia da ilha.

Ao chegar ao plano de falha a estrada muda de direcção quase 90 graus, neste caso para a esquerda, situação semelhante ocorre em todas as vertentes inclinadas das lombas do Faial.

Na parte leste do Faial, onde se situam as lombas, a principal via que circunda o Faial, por vezes desenvolve-se quase na perpendicular à costa, sobretudo nas vertentes mais inclinadas onde se situam as falhas geológicas. Assim, estas implicaram uma mudança brusca nas direcções da Estrada Regional para contornar os degrau dos acidentes geológicos e de modo a se obterem declives mais adequados à circulação automóvel. Um elemento que mostra como a geologia a interfere com o ordenamento do território, mesmo que os homens não tenham consciência do facto.

3 comentários:

RJ disse...

O ordenamento do território sem a sua vertente de geologia não era nada.
Nomeadamente no que respeita à sismicidade e às vertentes (em teoria)instáveis.

Cá por Coimbra há uma estrada (circular externa) que se desenvolve (parcialmente)ao longo de uma falha aprox. N-S. Há uma zona onde se nota bem pois há transição de materiais, do "grés de silves" para xistos.

Carlos Faria disse...

ao Rj
Já foquei neste blog algumas vezes o tema do ordenamento do território face aos problemas associados a riscos geológicos, devido a estar a viver numa comunidade, cuja estrutura foi completamente reordenada na sequência do sismo de 9 de Julho de 1998, que destruiu quase na totalidade a freguesia onde resido e ao papel que tive nessa época nessa matéria, por isso isso é um tema que me é muito caro.
Quanto ao grés silves, faz-me recordar os meus trabalhos sobre o Triásico, mas nunca conheci pessoalmente os depósitos em causa.

RJ disse...

Coimbra está principalmente em cima do grés de silves e de calcários amarelos (mais recentes), que formam o monte da Universidade e a zona onde vivo.
Até acho que se chamam "Camadas de Coimbra".

O pouco que sei de ordenamento foi com a delimitação de áreas de risco sísmico em trabalhos na universidade, a partir de uma carta geológica que apanhava uma localidade, apresentando desde depósitos sedimentares arenosos perto de um rio até encostas de xisto mais "duro".
Imagino que o pior seja zonas de falha, encostas com sedimentos instabilizados e depósitos arenosos (liquefacção de areias).