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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O Conde de Abranhos de Eça de Queiroz


Acabei de ler o romance "O Conde de Abranhos" de Eça de Queiroz, talvez a obra mais sarcástica e mais crítica da classe política feita por este escritor, mesmo sem ser extensa.
Pela força da palavra, num estilo delicioso e cheio de humor, Eça de Queiroz expõe a biografia do político Abranhos, onde, de rajada, mostra o seu desprezo por parentes inconvenientes à sua imagem pública, o seu faro oportunista das situações, a sua desadequação do saber-fazer disfarçada pela retórica, as respetivas convenientes mudanças de posições, o clientelismo que se tende instalar a sua volta e o afastamento dos seus ideais de gestão pública dos interesses das classes mais baixas.
Eça de Queiroz, apesar de divertido, é duro pelo sarcasmo com a classe política e com o estado da Nação, um livro que se perdeu atualidade foi apenas no facto de todos os defeitos do sistema denunciados na obra hoje serem mais elaborados, ampliados e despudoradamente evidentes, tal como as suas consequências.
Uma excelente obra de lazer, divertida e cheia de crítica política que vale a pena ler...

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

"Alves & C.ª " de Eça de Queiroz


Nesta sequência de três obras de Eça de Queiroz que estou a ler, terminei agora o curto romance "Alves & C.ª " onde o escritor aborda um caso de adultério feminino para dissertar ironicamente sobre as soluções tradicionais e irrefletidas de defesa da honra e as suas consequências, bem como as alternativas mais racionais ou cobardes de conciliação e conformes com o espírito de muitos dos ofendidos e dos culpados, enquanto faz uma exposição do pecados privados face aos bons costumes e hipocrisias públicas sociais à época no campo da fidelidade conjugal.
Uma trama linear, com uma linguagem mais simples do que noutros livros de Eça, mas onde a ironia e a boa disposição continua sempre presente, mesmo durante os momentos mais dramáticos e intensos da desgraça do protagonista Alves. Um romance simples que diverte e dá prazer sem ser pretensioso.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O Mandarim de Eça de Queiroz


Acabei de ler o pequeno romance/novela "O Mandarim" de Eça de Queiroz (numa edição diferente da imagem e pertencente a uma coleção completa das obras deste escritor), um livro de muito fácil leitura pela sua qualidade de escrita, reduzida dimensão e pelo humor irónico, crítico e lição moral que contém.
Não haja dúvida que Eça domina a técnica da escrita literária como poucos portugueses o fizeram até hoje e o seu olho clínico é por norma um retrato social da sua época cheio de boa disposição. Neste caso a história mistura o fantástico, algumas ambições transversais à maioria das pessoas (o desejo de ser rico e acesso aos bens e ao prazer), um retrato da China pelos olhos ocidentais e os vícios mesquinhos do cidadão lusitano comum, terminando com um lição de moral onde o dinheiro não traz a felicidade a uma consciência culpada.
Uma obra que dá imenso prazer a ler e pode ser um aperitivo para entrar na obra de Eça ou então para o recordar sem ser através das suas obras mais extensas.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

"Miramar" de Naguib Mahfouz

Editora Civilização

Conclui a leitura de "Miramar" do único escritor em língua árabe galardoado com o prémio Nobel da literatura até ao presente, neste caso de nacionalidade egípcia. Escolhi este livro com o objetivo de através desta forma de arte tentar compreender melhor a sociedade deste País.
O romance passa-se na década de 1960 e descreve, nos vários capítulos e na primeira pessoa, a vida por um curto período de quatro clientes egípcios ocidentalizados residentes na pensão Miramar, onde todos ficam fascinados pela criada jovem, bonita, rural e honesta com ambições à modernidade.
Assim, o relato daqueles dias é repetidamente exposto pelos olhares diferentes de cada um dos clientes as respetivas tentativas de a proteger ou de a seduzir, atitude posto em contraste com a pureza ética da jovem face aos interesses individuais destes hóspedes que desenvolveram vícios de sobrevivência numa sociedade em mudança devido à revolução em que o Egito passou do domínio britânico para a esfera dos ideais socialistas, período conturbado e vulnerável às ambições dos arrivistas oportunistas e da resistência dos saudosistas nacionalistas e onde cada um tenta tirar proveito próprio do novo ciclo face às suas origens.
A trama e as várias visões estão bem entrecruzadas, a escrita é fácil, embora os recurso a recordações sobre o passado político do País e a cultura islâmica por vezes tenham levado o tradutor a explicações em nota de rodapé para melhor entendimento do leitor, o estilo literário parece ocidentalizado, pelo que se torna numa obra fácil e dá uma visão do comportamento de uma franja social de cidadãos egipcios que vivem ocidentalmente numa sociedade conservadora, oriental, islâmica e indecisa entre dois mundos culturais. Gostei.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

"Amada de Vida" de Alice Munro


Acabei de ler a série de 14 contos que integram o livro "Amada Vida" de Alice Munro, a escritora canadiana vencedora do prémio Nobel da literatura em 2013 de quem sou grande admirador.
Foi a primeira vez que li as obras de Alice Munro sem ser na sua língua original e confesso que os sentimentos e prazeres que despertaram em mim nesta versão da editora Relógio d'Água foram semelhantes aos de quando a lia em inglês: sinal de que a tradução, a métrica e o estilo de escrita respeita o original que me encantava.
Os 14 contos correspondem a 10 ficções, seguida de 4 memórias autobiográficas do período da infância/adolescência da autora. Na sua grande maioria os contos são passados em meios essencialmente rurais, tendencialmente conservadores, sobretudo no período pós II Guerra Mundial ou meados dos século XX e onde os protagonistas são pessoas comuns sem nenhuma particularidade para serem tratados como heróis, expondo-se assim os seus simples e humanos anseios, receios, vícios e constrangimentos sociais na sua vida normal, onde pontua o amor, a sobrevivência e a traição; ambientes e situações em que Alice Munro também se reviu na sua juventude.
Alice Munro tem um estilo próprio de mostrar as virtudes e defeitos do cidadão comum sem os julgar globalmente pelas suas boas ou más decisões e é nisto que está a originalidade e a sua grandeza literária. Por norma prefiro as suas histórias mais pessoais, pelo despudor e elegância com que se mostra ao leitor, contudo, nas restantes histórias a autora consegue fazer o retrato global do interior das pessoas desde a infância até à velhice condicionadas pelo seu meio. Embora este não tenha sido o meu livro predilecto desta escritora, foi uma obra que gostei e recomendo para quem a quiser descobrir ou iniciar-se no conto.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

"O Monte dos Vendavais" de Emily Brontë

Edição book.it

Acabei de ler um dos livros mais famosos da literatura britânica do século XIX, "O Monte dos Vendavais" de Emily Brontë, uma estória obsessiva de paixão, despeito e vingança, onde o meio rural, a paisagem de charneca e o clima húmido e tempestuoso intensificam o ambiente opressivo e sombrio do romance. Se fosse uma obra literária atual caberia em grande parte no estilo negro gótico.
A estória é narrada com recurso à descrição de acontecimentos passados (analepse) que vão desenrolando a trama que explica a situação no presente, onde o ouvinte principal surge como autor da obra mas sem participar no evoluir do romance.
Como obra do período romântico os sentimentos, defeitos e qualidades das personagens são extremados, o que gera uma certa incredibilidade sob o elevado grau de subserviência das vítimas e da maldade dos maus, contudo o fio condutor da estória e estilo de escrita é cativante e prende o leitor à estória.
Para quem gosta de romances com sentimentos muito intensos num ambiente opressivo é uma obra interessante, para mim valeu mais pele estilo de escrita e de narrativa.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

FELIZ ANO DE 2014

A todos os que uma forma ou outra têm interagido com este blogue ao longo deste ano que agora finda, que pretendem continuar por aqui em 2014 ou passem a ser novos leitores, apresento os meus votos de boas leituras num
FELIZ E PRÓSPERO ANO 2014
que os vossos sonhos para o próximo ano se concretizem e que o mundo se torne mais justo e humano.
Bem hajam os construtores da Cultura, da Justiça e da Paz!
Imagem Wikipedia