Páginas

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

QUE FAZER COM ESTE TEMPLO?

No início deste fim-de-semana os ribeirinhenses são chamados mais uma vez a se pronunciarem se pretendem uma nova igreja paroquial no novo centro da sua localidade e se estão dispostos a abraçar a causa ou se esperam que alguém lhes oferte um templo tipo "chave na mão" e claro... arriscam-se a nada ter.

Entretanto e independentemente da decisão do povo desta localidade, a pergunta em título é mais abrangente, pois o imóvel na foto não é apenas uma ruína desta freguesia deixada pelo sismo de 9 de Julho de 1998, é um testemunho da reconstrução do sismo de 31 de Agosto de 1926, é agora património de todos os ribeirinhenses, faialenses ou açorianos e a pergunta repete-se...
Que fazer com este templo?
Alguém sabe a resposta adequada e como a pôr em prática?

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CONCERTO DE SOLIDARIEDADE

Concerto de solidariedade a favor da família sinistrada do recente incêndio ocorrido na rua Serpa Pinto, na baixa da Horta e destinado à aquisição de bens mobiliários e electrodomésticos perdidos no fogo.

Mais importante que o concerto ou a música é a sua acção solidária para com os afectados com aquele fogo, entretando já realojados. Apoie esta iniciativa com o seu contributo... colabore para suavizar a desgraça desta família e trazer-lhe alguma felicidade e alegria.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

INVERNO: CONTRASTES

Ao longo do Inverno tenho ouvido numerosas notícias sobre o frio na Europa e na América do Norte, no passado fim-de-semana vi imagens de neve e tempestade em Portugal Continental, enquanto na minha cidade natal estava prevista uma descida de temperatura até aos 17 graus negativos...
O Grand River gelado no Inverno, junto à Baixa de Galt em Cambridge, Ontario, Canada

Por cá, na minha ilha adoptiva do Faial, decidi ir gozar os 17 graus positivos e um pouco se sol no porto mais próximo de casa e um dos meus lugares predilectos para me deleitar nas horas livres...
As ondas de norte na Ponta da Ribeirinha, contígua à Boca da Ribeira, no passado Domigo.

Junto ao porto da Boca da Ribeira, os surfistas  aproveitavam igualmente a tarde de Domingo para brincar com ondas do mar de norte que fustigavam a ponta da Ribeirinha, em águas que certamente teriam temperaturas muito próximas das do ar atmosférico.
Surfistas, uma presença frequente no Porto da Boca da Ribeira.

O calor da tarde deste dia de Janeiro e o cenário do Pico ao fundo são motivos suficientes para se perceber que muitas vezes o paraíso está aqui...
O Pico, visto da Boca da Ribeira no passado fim-de-semana.

Efectivamente, no Faial e nos Açores em geral, há dias normais de Inverno assim...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

VOCABULÁRIO TÉCNICO: o Biscoito contra o clinquer

Estabelecer acordos entre países de expressão oficial portuguesa sobre o modo de escrita da língua de Camões, com a desculpa da necessidade de uniformizar o português para vencer os desafios da modernidade, independentemente se tal acontece ou não na realidade com as novas regras, enquanto se ignora como criar as novas palavras de português técnico é sempre uma forma coxa de modernizar a língua.

O clinker ou clinquer dos geólogos, o BISCOITO para a muitos açorianos

Basta ler qualquer artigo científico de um investigador lusófono, quando ainda se atrevem a escrever na língua de Camões, para compreender a babel que é o português científico. Desde duplas grafias no criação de novas palavras, passando pela utilização de termos diferentes para descrever um mesmo fenómeno natural e terminando na grande carência de neologismos técnicos, que faz inundar os textos em português de palavras inglesas, cuja tradução literal muitas vezes faria envergonhar o autor do seu uso e desesperar qualquer purista sedento da oportunidade para um novo vocábulo fundado em raízes greco-latinas.
Todavia, irrita-me que a comunidade lusa sinta a necessidade de termos estrangeiros, enquanto ignora que, ao longo de centenas de anos, o povo, incluindo o ilhéu, já tinha palavras de uso diário exactamente para descrever as mesmas coisas... o clinker ou clinquer dos geólogos, diz-se em puro açoriano: BISCOITO, tendo em conta a semelhança morfológica com alguns tipos de massa de cozinha.
Digam-me lá se não é mais bonito e descritivo dizer que uma escoada basáltica tem uma cobertura de biscoitos, no lugar de uma camada de clinker?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

DISCUTIR CINEMA - blog do Cineclube da Horta

O Cineclube da Horta continua a sua actividade de mostrar o cinema de qualidade, a divulgar o que se produz na Europa e em muitos outros países além dos Estados Unidos, sem exclusão da produção norte americana, reactivou agora o seu blog sobre cinema.
O blog do cineclube da Horta, é assim uma sala de discussão para aqueles que observaram nalgum local o filme exibido pelo Cineclube da Horta e gostam de tornar pública a sua opinião. É também uma oportunidade para aqueles que discretamente gostam de ouvir as impressões de outros espectadores sobre uma dada obra que lhes foi dada a observar e é ainda um forma de fazer chegar ao Cineclube as suas impressões, gostos e preferências, um modo desta instituição conhecer melhor o público alvo da sua actividade.
Este espaço não deixa de ser mais uma fonte de informação, feita por cidadãos comuns que gostam de cinema, independentemente de residirem no Faial ou não, inclusivé para quem ainda tenha a possibilidade de observar noutro local o filme discutido.
Cartaz de A turma, imagem extraída do blog do cineclube da Horta

Esta semana já se sabe o filme exibido e em apreciação é a Turma (entre les murs) de Laurent Cantet...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

FÓRUM: "Equidade, Justiça Social e Paz"

A partir do pedido do divulgação, pelo pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Horta, apresenta-se abaixo o Programa do Fórum "Equidade, Justiça Social e Paz"
Clique na imagem para ampliar e leitura do Programa

Desejos de boas discussões e melhores frutos e acções...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

JOÃO AGUARDELA - 1969 - 2009

João Aguardela, foto daqui , local com mais elementos sobre a sua vida e obra
Vocalista e líder dos Sitiados, mentor do projecto Megafone de pesquisa de música tradicional portuguesa e fusão com sonoridades electroacústicas, Linha da Frente e d'A Naifa. Faleceu ontem, dia 18 de Janeiro, em Lisboa com 39 anos.

Independentemente do sucesso da Vida de Marinheiro, foi n'A Naifa que mais de perto acompanhei e me encantei com este músico, fica aqui a ligação para o último dos vários post sobre este grupo no Geocrusoe, como a minha homenagem a este músico que com a sua obra deixou a música portuguesa mais rica, sabendo que mais rica ficaria se o João Aguardela continuasse connosco a trabalhar.

sábado, 17 de janeiro de 2009

O FIM DA LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA DAS ILHAS VULCÂNICAS IV: A Teoria do Ponto Quente - Hot Spot

As ilhas vulcânicas desde o seu início estão condenadas a desaparecerem, porque a erosão tende continuamente a desmantelar o cone vulcânico a partir do seu topo, enquanto o recuo das arribas reduz a área da ilha, mas existem mais razões para isso.
Corvo, a menor ilha dos Açores corresponde a um cone de um vulcão muito erodido, embora não deva ter atingido grandes dimensões, a ilha já foi bem maior do que hoje (foto de angrense retirada daqui)

As ilhas, apesar de terem o seu exterior à temperatura ambiente, em profundidadeas rochas estão aquecidas pelo calor do vulcão, que as dilata. Com a extinção deste, aquelas arrefecem ao longo de milhares de anos, contraiem-se e tornam-se mais densas, reduzindo assim o volume global da ilha...
Caldeirão do Corvo, as paredes oeste desta caldeira (à direita na foto) contactam hoje directamente com a arriba costeira, demonstrando que todo o flanco ocidental do vulcão já foi erodido (foto de angrense retirada daqui)

O próprio fundo do mar, feito de rochas vulcânicas, desloca-se como uma passadeira rolante a partir das cristas oceânicas, onde se forma, e arrasta consigo as ilhas. Ao longo da viagem, estes fundos também arrefecem, contraiem-se e vão-se afundando, submergindo ainda mais a ilhas inicialmente tão imponentes.
Os ilhéus das Formigas, com idade próxima das ilhas mais antigas dos Açores, são os restos de um vulcão e do que terá sido uma ilha no passado (foto de F. Tempera, proveniente e nas condições mencionadas aqui)

Assim, ao longo de milhões de anos, com o "envelhecimento" das ilhas e o arraste dos fundos aceânicos, os vulcões deslocam-se do local inicial da sua formação, onde se situava a fonte do magma que os alimentava e extinguem-se, progressivamente os edifícios vão sendo erodidos e submergem com a descida dos fundos marinhos. Transformam-se novamente em Montes Submarinos, enquanto ilhas mais jovens voltam a surgir na zona inicial. Este fenómeno gera os arquipélagos e alinhamentos de montes submarinos, estes ficam menores com o aumento da distância ao local onde se formaram.
Formação de um alinhamento de ilhas e montes submarinos com a deslocação dos fundos oceânicos sobre uma fonte de magma em profundidade e sensivelmente fixa (esquema daqui).

Os Açores situam-se hoje junto à crista oceânica do Atlântico, numa área de fundos marinhos pouco profundos e onde existe uma fonte de magma em profundidade, mas há indícios que outras ilhas muito mais antigas e irmãs deste arquipélago já existiram, encontrando-se montes submarinos presentemente a milhares de quilómétros daqui, junto ao mar da Terra Nova (Newfoundland), no Canada.
Montes submarinos próximos da Terra Nova, que segundo alguns correspondem às ilhas mais antigas formadas na região dos Açores ( imagem daqui).

A confirmar-se esta teoria para os Açores, as nossas ilhas, tal como as do Havai, correspondem aos vulcões mais jovens de um vasto alinhamento de muitos outros vulcões extintos e já submersos, que se extendem por longas distâncias nos fundos oceânicos, reflexo de uma actividade vulcânica que já perdura por centenas de milhões de anos e, provavelmente, por cá novas ilhas surgirão num futuro mais ou menos distante.
Batimetria do Atlântico com os Montes Submarinos dentro do traço a vermelho e os Açores dentro do amarelo (imagem daqui e adaptada).

Os locais sensivelmente fixos à superficie do planeta que alimentam um vulcanismo por muitos milhões de anos e originam este tipos de alinhamentos de cones, são frequentemente designados por Pontos Quentes, tradução do inglês, Hot Spot.
Existem Pontos Quentes nos Oceanos e nos Continentes e muito provavelmente os Açores devem a sua existência à presença de um deles nesta área do Planeta Terra e a confirmar-se a teoria, umas ilhas poderão desaparecer, mas novas deverão surgir e os Açores continuarão a existir por muito tempo.

Bibliografia consultada para os hot spot e teoria dos montes submarinos associados aos Açores: Hamblin, W. K. & Christiansen E. H.; "Earth's Dynamics Systems" Prentice Hall Ed.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA DAS ILHAS VULCÂNICAS III: o Recuo da Linha de Costa 3

Raramente uma arriba é constituída apenas por um único tipo de material, consolidado rígido ou brando, normalmente estas intercalam rochas com características diferentes, inclusive, as escoadas basálticas apresentam, frequentemente, um topo e uma base desagregada, denominada clinker, assim quando estas se sobrepõem, na arriba alternam camadas coesas com soltas.
Escoada típica de lava escoriácia, pouco espessa com uma zona central consolidada mas com o topo e a base constituidos de material desagregado (clinker)

Esta variabilidade faz com que o mar comece a erodir os materiais desigualmente, em função do grau de resistência destes, erosão diferencial, originando, por vezes, grutas litorais - algumas de grande beleza -, mas responsáveis por recuos bruscos da arriba, devido à possibilidade de colapso dos respectivos tectos. Esta situação pode colocar casas litorais sob ameaça de destruição e aconselha a que se planeie convenientemente as zonas de construção urbana junto à costa, de modo a se evitarem zonas de risco.
Aspectos da erosão diferencial por resistência diversificada das camadas sobrepostas, à direita uma plataforma de abrasão de material resistente ao nível do mar e ao centro grutas de material mais brando à mesma cota.

Esta diversidade de materiais é responsável, além das grutas, pela criação de arcos, enseadas (onde saltamos para o mar), poças (que transformamos em piscinas naturais) e uma grande geodiversidade de aspectos que dão grande beleza do nosso litoral.
A evolução natural duma arriba com sobreposição de materiais diferentes, grandes desnível e inclinações...

Mas, mais lenta ou rapidamente, em função das proporções de materiais brandos ou consolidados e da intensidade dos agentes erosivos externos, o mar vence sempre a longo-prazo, o recuo progressivo do litoral é um facto. Assim, as ilhas vulcânicas com o tempo, além de ficarem mais baixas, também se tornam mais pequenas e todos os post desta série se encaminham para a desfecho final desta luta, que para o caso dos Açores mostrará uma hipótese que corresponde a uma surpresa para alguns.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA DAS ILHAS VULCÂNICAS III: o Recuo da Linha de Costa 2

Quando os materiais vulcânicos que formam a linha de costa são brandos ou desagregados, como cinzas e bagacinas, então a erosão marinha é muito intensa, o recuo do litoral faz-se rapidamente e em muito pouco tempo surge uma arriba costeira com um perfil altamente instável.
Materiais brandos de escoadas piroclásticas desagregadas (ignimbrito) expostos à erosão intensa do mar.

Os homens lá procuram descobrir técnicas de engenharia para reduzir a velocidade do recuo da arriba, muitas vezes porque se esqueceram do contínuo avançar do mar sobre a ilha e construíram em zonas onde o risco de desabamentos é muito elevado a curto-prazo. Infelizmente, as intervenções de protecção, mesmo quando bem sucedidas, apenas atrasam o processo, mas nunca eliminam o avanço do mar sobre a ilha a longo-prazo.

Quebra-mar artificial para reduzir a grande velocidade de recuo da arriba de ignimbritos provocada pela erosão marinha.

Bastaram 50 anos para que o mar sobre os materiais brandos do vulcão do Capelinhos escavasse arribas costeiras elevadas e os mais de 2 quilómetros quadrados de terra emersa criados por esta erupção estão hoje reduzidos a menos de metade e o recuo desta arriba de materiais brandos e desagregados continua....
Arriba em material brando nos Capelinhos, todavia à direita da foto está um ilhéu anterior a 1957 e relíquia de uma antiga erupção, o qual protegeu e reduziu a intensidade da erosão.


Raramente o mar encontra numa zona de costa apenas um tipo de material -consolidado rígido, desagregado ou brando - a mistura destes é o mais comum. Nos Açores, tais situações dão origem a formas que retratam a luta pela sobrevivência das ilhas vulcânicas na redução da sua área emersa devido à acção marinha, diversidade a tratar em parte em próximo post.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA DAS ILHAS VULCÂNICAS III: o Recuo da Linha de Costa 1

As escoadas de lava que saem dos vulcões espraiam-se ao chegar ao mar, formando muitas vezes deltas lávicos, mas esta lava arrefecida, que parecia constituída de material consolidado, rígido e compacto, vai sofrer uma alteração química contínua, provocada pelos sais dissolvidos na água e pelos seres vivos que se fixam nestas rochas, bem como erodida pela persistente rebentação das ondas.
Pequenos deltas lávicos e plataformas de abrasão marinha em São Jorge (Manadas), com o Pico e o Faial ao fundo.

Como para auxiliar o efeito da acção do mar, associa-se a este processo a movimentação dos grãos de areia e dos blocos de calhau, em virtude da energia da ondas. Este chocar contínuo tem um efeito abrasivo sobre estas lavas, que assim vão sendo destruídas lenta e progressivamente, formando-se superfícies planas que o mar vai galgando cada vez mais e denominadas de plataformas de abrasão.
Uma fase muito inicial de formação de arriba costeira sobre uma escoada lávica.

A erosão e a abrasão marinha conduzem ao recuo da linha de costa e à destruição da própria plataforma, submergindo-a, pois os grãos arrancados à lava são transportados e sedimentados no fundo do mar. Então, como para o interior da ilha a altura da escoada de lava é maior, surge um pequeno degrau, a arriba costeira (vulgarmente designada nas ilhas apenas por rocha) que marca a zona onde a superfície da escoada já não é tão frequentemente galgada pelo mar. Só que o oceano não desiste...
Um estado mais avançado de uma arriba costeira sobre lava consolidada e rígida, vendo-se um recife à direita como testemunho do recuo da linha de costa.

O degrau continua a ser agredido pelo mar, a linha de costa lenta e progressivamente recua sempre mais, enquanto a altura da arriba costeira se torna cada maior. Por vezes, em zonas onde a lava resistiu, formam-se pequenos ilhéus ou recifes em torno da ilha, entre os quais a passagem de pequenas embarcações faz parte das aventuras dos passeios litorais no Verão açoriano.
Mas nem sempre o litoral vulcânico é constituído de lava consolidada e rígida, alguns dos materiais expelidos pelos vulcões são suaves, mas o mar não tem compaixão das rochas brandas, só que isso fica para um próximo post.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA DAS ILHAS VULCÂNICAS II: O Ataque dos agentes erosivos

Ultrapassada a fronteira do nível do mar, tornam-se mais evidentes as forças que tendem a destruir os edifícios construídos pelos vulcões, já antes existiam e actuavam, mas os seus efeitos agora estão mais expostos aos nossos olhos.
Assim, as ilhas crescerão sempre que a actividade eruptiva for do tipo construtivo e emitir, de uma forma mais ou menos calma, lava ou piroclastos em maior quantidade do que aqueles materiais que estão a ser destruídos pelos Agentes de Geodinâmica Externa: o vento, as variações de temperatura, os vários estados físicos de água e os seres vivos, que por acção da gravidade estão conjunta, lenta e continuamente a desmantelar todas as montanhas da Terra.
Muitas vezes nem é preciso o ataque dos agentes de geodinâmica externa, são os próprios vulcões que nos seus momentos mais explosivos desenvolvem uma actividade do tipo destrutivo e em pouco tempo desfazem aquilo que durante milhares de anos construiram. Nestas fúrias eruptivas, as zonas mais altas dos cones vulcânicos são fragmentadas e toneladas de material espalhadas em volta, enquanto o cimo destas estruturas se abate e se criam caldeiras. As montanhas... as ilhas ficam então muito mais baixas.
Mas enquanto os vulcões estão adormecidos ou depois se extinguem, tanto os seres vivos com os químicos das raízes das plantas e outros compostos orgânicos dos animais, como os sais e gases dissolvidos na água e no ar que circula entre os grãos de rocha, modificam a composição dos minerais, dá-se então a Alteração das Rochas, cujos grãos ficam mais vulneráveis desagregam-se e são arrancados depois pelas plantas, animais, vento e águas; ocorre aquilo que se chama a Erosão das Rochas, que por acção da gravidade sofre o Transporte para zonas mais baixas.
A força da água nesta batalha é de tal forma intensa que escava vales profundos nos materiais alterados e erodidos e os transporta sempre para locais mais baixos e nas ilhas tende a depositá-los novamente no fundo do mar Sedimentação, precisamente de onde as ilhas vieram.
Mas o homem, que se julga muitas vezes um ser vivo à parte, é também consciente ou inconscientemente um destruidor dos edifícios vulcânicos, escava-os, desentranha os grãos das rochas antes protegidos e acelera a alteração, a erosão e o transporte de muitos materiais que irão sedimentar no mar. Embora também seja um dos poucos que tenta ir buscar areias e outros materiais das profundidades para proteger as suas ilhas, muitas vezes sem resultado, nalguns casos mesmo desastrosamente, mas ocasionalmente tem as suas vitórias!
Contudo o mar, esta imensidão de água que cerca qualquer ilha, nunca se dá por vencido. Não satisfeito por tudo o que conjuntamente a alteração, a erosão e o transporte trouxeram para o seu interior, rebaixando a terra emersa continuamente, vai com o seu cerco atacar todas as ilhas pela linha de costa, reduzindo-lhes progressivamente a suas áreas e criando estruturas tão características que ficam para um próximo post.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA DAS ILHAS VULCÂNICAS I - O nascimento das ilhas

As ilhas vulcânicas nascem no fundo do mar, por vezes mesmo a grandes profundidades, a partir de erupções, inicialmente quase imperceptíveis aos humanos, pois a espessa camada de água impede o aparecimento de sinais da actividade do vulcão à superfície do oceano.
Numerosos montes submarinos no Atlântico Nordeste, para além dos arquipélagos da Macaronésia. Imagem wikimedia

Muito devagar, mesmo de um modo descontínuo no tempo, durante milhões de anos a lava vai-se empilhando à volta destas chaminés e construindo estruturas em forma de cone. Primeiro muito pequenos, com uma largura relativamente grande face à altura, mas aos poucos vão crescendo, as suas vertentes tendem a ficar mais inclinadas e transformam-se em Montes Submarinos (Seamounts em inglês). 
Imagem tridimensional da batimetria de um monte submarino, vendo-se a cratera no topo. Imagem proveniente nas condições descritas na wikimedia

O cimo dos Montes Submarinos continuam a receber mais produtos  vulcânicos e ficam cada vez mais próximos da superfície do oceano, as ocorrências eruptivas começam a dar os primeiros sinais à tona de água: alterações da cor do mar, peixes mortos, variações de temperatura, projecções de blocos de rocha. São erupções semelhantes àquela que ocorreu em 1998/99 junto à ponta da Serreta na Terceira... 
Erupção da Serreta, onde se podem observar "bolhas" de lava cheias de gases quentes emitidas pela chaminé em profundidade. Foto extraída da referência (1)

Durante alguns períodos os vulcões ficam adormecidos, mas de tempos a tempos acordam e retomam a sua actividade, os montes submarinos continuam a crescer mais um pouco e criam baixios ou bancos submarinos, como é o caso do Banco Dom João de Castro nos Açores, que podem tornar-se perigosos para a navegação, pois os barcos arriscam-se a encalhar ou naufragar e onde, em condições favoráveis, se instalam corais.
Baixios poucos profundos visto do ar, dispostos concentricamente indiciando a forma da cratera e provavelmente cobertos de corais. Foto wikimedia

As erupções submarinas, quando o topo da chaminé já se situa a pequena profundidade, frequentemente são explosivas, gerando a emissão de jactos de cinzas, blocos de lava e vapor, devido à espessura da massa de água já não conseguir "abafar" a força do vulcão.
Erupção submarina pouco profunda, foto proveniente da referência (2)

Felizmente a erupção pode continuar e o cimo do cone um dia passa a cima do nível do mar, já não é mais um monte submarino, nem um baixio ou um banco... nasce uma nova ilha e o vulcão pode continuar a construir os maiores picos da terra ou as elevações mais altas de muitos países, como aconteceu em Portugal com o Vulcão do Pico.
O cone vulcânico do Pico, com 2351 m de altitude, situado na ilha do Pico e visto do Faial, o ponto mais elevado de Portugal

Referências
(1) - Forjaz, V. H.; Rocha, F. M.; Medeiros, J. M.; Meneses, L. F. & Sousa, C. (2000) "Notícias sobre o Vulcão Oceânico da Serreta, Ilha Terceira dos Açores" Ed. OGVA 
(2) - Machado, F. & Forjaz, V. H. (1968) "Actividade Vulcânica do Faial - 1957-67" Ed. Com. Reg. Turismo Distrito da Horta

sábado, 3 de janeiro de 2009

PRESÉPIO DE NATAL

Quando cheguei ao Faial em criança, o Natal nas casas rurais era dominado pelas Prendas do Menino Jesus, sempre dentro dos limites dos escassos rendimentos que a agricultura então permitia;
- as Árvores de Natal, enfeitadas com garrafinhas de cápsulas de injecções embrulhadas em papel de estanho das guloseimas consumidas ao longo do ano, correntes de papel de seda compradas nas mercearias cá da terra e postais vindos das américas;
- os Altarinhos, em pirâmide, forrados de colchas de seda e rendas, iluminados com velinhas e decorados com junquilos, laranjas, tangerinas e pratos de trigo recém-germinado e...

- o Presépio Tradicional, com pequenas imagens de cerâmica ou outros materiais, não faltava a cena da natividade, os reis magos, os pastores e uma representação variada do quotidiano das nossas freguesias rurais. Eram autênticas aldeias, com casas de madeira ou cartão, pastos de líquenes, florestas de musgo, árvores de plantas diversas, caminhos de areia, muros de bagacina, rios de alumínio, lagos dentro de louça... e uma infindável lista de outros objectos que a imaginação do autor utilizava nas suas representações, para que os amigos e a pequenada de toda a comunidade o visitasse durante a quadra.

Hoje o Presépio de Natal é uma raridade, alguns são peças originais de arte contemporânea, mas os tradicionais ainda subsistem por amor de alguns e incentivados por um concurso municipal... António Matos Rocha, um luso canadiano residente no Alto dos Espalhafatos, localidade pertencente à Ribeirinha, todos os anos insiste em fazer o seu presépio e a abrir as portas aos visitantes, este ano manteve a tradição e venceu o primeiro lugar dos presépios tradicionais... Objectos animados, ribeiras de águas correntes, matança de porco, folclore, festa do Espírito Santo, folclore e muito mais a visitar até ao final desta semana nas comemorações do Dia de Reis. Parabéns!

Ah... existiam também os Ranchos de Natal... mas esses não cantavam nas casas, corriam os salões das colectividades, apinhados de gente para os ouvir, bailar e dançar e já foram alvo de atenção no início do ano passado, tal como o presépio de então do mesmo autor.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

CONCERTO DE ANO NOVO 2009 NA HORTA

O Ano Novo 2009 chegou e o Concerto da Paz ou de Ano Novo, a cargo da Orquestra Skomorokhi de São Petersburgo, dirigida pelo maestro Victor Akulovich,... também.

A bela igreja de São Francisco e com excelente acústica - um imóvel classificado e cada vez mais arruinado - lá abriu as portas novamente e... apesar da hora e do sol intenso, encheu! Houve público de todas as idades, línguas maternas diversas e muita boa música que a todos encantou...
Interessantíssimo os muitos arranjos e orquestações de música erudida, popular russa e tradicional portuguesa, para uma orquestra onde predominavam naipes de balaicas, domras, acordeões, flauta e oboé. Os músicos tocaram com estilo e gosto que contagiou os presentes.

No final... o público de pé a aplaudir entusiasticamente e a insistir mais e mais, enquanto os músicos a correr com instrumentos, pautas e roupas saíam da igreja. Só então se soube que o avião os esperava sem demora e não havia mais tempo de música a ganhar pelos muitos faialenses presentes, outro concerto os aguardava na Praia da Vitória, ilha Terceira.

Abaixo um excerto deste concerto, executado em muito más condições, num momento em que duas domras e uma balaica se desafiam com o Carnaval de Veneza de Niccolò Paganini.



O primeiro dia do ano de 2009, sem dúvida, teve para mim um concerto músical inequecível.