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sábado, 29 de dezembro de 2018

"Um copo de cólera" de Raduan Nassar

Excerto
entenda, pilantra, toda 'ordem' privilegia» «entenda, seu delinquente que a desordem também privilegia, a começar pela força bruta»"

Li, apenas num único dia, a novela "Um copo de cólera" do escritor brasileiro Raduan Nassar, vencedor do prémio literário Camões de 2016. O objetivo foi mesmo descobrir o autor que me era desconhecido, há décadas que não publicava e mesmo assim recebeu um dos galardões mais importantes da escrita em língua Portuguesa.
A novela, com pouco mais de 100 páginas, conta o período de vida do protagonista ao longo de uma noite e um dia na sua residência. Este chega a casa ao anoitecer e encontra a sua amante, uma jornalista, que já ali o espera... após uma noite de paixão e sono, acorda de manhã, inicia a sua rotina matinal, toma o pequeno almoço numa calma de pessoa satisfeita pelos seus prazeres e então descobre que a sua sebe sofreu um ataque de formigas que o enraivece: a sua cólera vira-se primeiro contra os insectos, depois para os empregados e por fim a sua companheira que o irrita intencionalmente, então desenvolve-se um diálogo cada vez mais irado que culmina numa relação de luxúria animalesca que termina em agressão verbal e física extrema que os separa, até que após êxtase e a saída para o trabalho no regresso nova noite começa...
A estória mais não é que um relato de luxúria e fúria, a obra vale sobretudo pela escrita. Cada parágrafo tem a extensão do capítulo em que se insere, sendo que o maior é mais de metade da novela num texto continuado sem interrupções que envolve descrições, sentimentos e diálogos numa grande criatividade de formas no uso da língua Portuguesa e foi efetivamente esta arte de tratar as frases que gostei e deve justificar o prémio décadas depois do abandono da carreira literária.

6 comentários:

Pedrita disse...

realmente os livros do raduan podem ser lidos em um dia. amo esse e lavoura. ele tem um estilo muito poético de texto. há um filme igualmente contundente. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Pois comprei este por ser mais pequeno, mas o tema de Lavoura arcaica parece-me bem mais interessante que este de cólera e luxúria. A escrita de facto é uma obra de arte.

Bárbara Ferreira disse...

Tenho muita curiosidade quanto à obra do autor, por este livro, precisamente por marcar um regresso "triunfal" à escrita.

Carlos Faria disse...

Eu nos últimos tempos tenho dado preferência ao conteúdo da obra à forma de escrita, houve épocas que valorizava mais esta, no caso de Um copo de cólera de facto é sobretudo a vitória do tratamento da língua expresso em livro pela escrita e neste caso a Bárbara pode mergulhar no autor.

ematejoca disse...

Como continuo a dar mais valor à escrita do que à história propriamente dita, fiquei interessada imediatamente nesta novela. Conheço de nome o escritor brasileiro mas, nunca li nada dele.

Saudações de Düsseldorf, desejando-lhe para si e família um Novo Ano cheio de paz, alegria, saúde e bem-estar e _________ continuação de boas leituras.

Carlos Faria disse...

Então recomendo vivamente... um excelente poema em prosa com formas originais do uso da língua.