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sábado, 29 de setembro de 2018

"Tempos Difíceis" de Charles Dickens


Excertos
"Uma mão forte nunca funcionará...Concordar com tomar um dos lados artificialmente e para sempre com razão, e outro lado artificialmente e para sempre enganado, nunca, nunca irá funcionar.... Deixe milhares e milhares de pessoas a sós, todas a levarem vidas dessas e todas a caírem numa confusão desse género e elas serão um só..."

"Todas as forças estreitamente aprisionadas laceram e destroem. O ar que teria sido saudável para a terra, a água que a teria enriquecido, o calor que a teria amadurecido, desfazem-na quando enjaulados."

"Tempos difíceis" de Charles Dickens é um romance escrito em meados do século XIX que engloba crítica social transversal a vários setores ativos (sobretudo política, industrial, obreiro e sindical), uma denúncia das condições de vida dos operários, a exposição do preconceito que envolve a luta de classes que acredita que uma é toda má e a outra sempre boa, um manifesto ambiental contra a poluição industrial urbana, uma proposta para uma educação que conjugue o amadurecimento emocional com a aquisição do conhecimento para a evolução saudável do indivíduo e ainda uma estória detetivesca a cobrir tudo isto para garantir um certo suspense temperado com algum sarcasmo dos defeitos civilizacionais.
Na cidade de Coketown (fictícia) proliferam fábricas que a cobrem de negro e cuja laboração é assegurada por um grupo de pessoas denominado Braços. Um banqueiro assume a sua ascensão da pobreza para o seu lugar social como fruto do seu trabalho o que o motiva para desprezar os trabalhadores que sofrem e não sobem na vida como ele. Por sua vez o chefe de uma família comercial educa os seus filhos apenas para uma estratégia racional, sem emoções baseada em factos contrapondo-se ao pessoal de um circo de onde acolhe uma criança e nesta via de formação a sua filha aceita casar-se com o banqueiro bem mais velho para bem de um irmão estroina e imaturo, o que causa a inveja de uma velha dama preterida, as dificuldades dos trabalhadores conduz a lideranças no seio dos braços onde uma esmagada desonrosa e desonestamente a outra, paralelamente surge um roubo no banco e uma tentativa de vingança passional cuja engrenagem é acelerada por oportunistas do momento aos vislumbrarem todos estes defeitos dos protagonistas. Assim se constrói uma trama que conduz a uma lição de ética, moral, uma proposta de convivência social e um manifesto ambiental.
A escrita é escorreita, mas num tom algo artificial pela opção sinuosa para deixar críticas sociais veladas e denunciar preconceitos sem tomar partido por uma das parte, apontar rumos e deixar pistas para o crime e vícios individuais sem abrir todo os segredos, além de denunciar problemas ambientais já evidentes à data da obra.
Um excelente livro que apela à justiça social, à cooperação entre classes e a uma educação plena da pessoa humana. Fácil de ler e interessante.

2 comentários:

Pedrita disse...

fui até ver, esse do dickens não li. adoro esse autor. quero ler esse, me interessei muito depois da resenha. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

E um Dickens muito bom, por defender as suas opiniões de justiça sem desrespeitar nenhuma classe, várias personagens têm coisas más e outras boas, em vez de uma visão maniqueísta e as descrições dos problemas ambientais são muito boas. Título no original Hard Times.