"O Lobo das Estepes" do escritor germânico Hermann Hesse, laureado com o prémio Nobel da literatura, apresenta o desencanto e revolta de um homem com a humanidade mas que inconscientemente anseia integrar-se no mundo que refuta e despreza por considera a sociedade rendida a um estilo de vida banal e medíocre nas suas relações em comunidade, curiosamente a sua luta para ultrapassar esta misantropia e depressão que o atrai para o suicídio desenvolve-se, precisamente, com a ajuda de pessoas de grupos sociais marginais e despromovidos, como prostitutas e músicos de salão traficantes de psicotrópicos, que lhe demonstram como valorizar e aproveitar a vida, desde a produção de arte genial e eterna, até tirar proveito da obra popular passageira capaz de só despertar o prazer frugal do momento e fundamental para temperar a vivência do ser humano e assim se justifica apostar na sobrevivência e adiar a morte inevitável em alternativa a se tornar num alienado vencido.
O romance tem uma espécie de prólogo editorial que pertence à obra, possui uma grande densidade psicológica e um conjunto de reflexões que evidenciam a contraditória luta íntima entre o aspirar ao sublime e a perfeição, exemplificados nas obras de Goethe e Mozart, e a importância de aproveitar o banal para tirar proveito da vida que justifique a sobrevivência numa luta de personalidades múltiplas de que cada indivíduo é na realidade composto, onde até mesmos génios como Goethe e Mozart são capazes de ser crianças e de amar a brincadeira, havendo assim que equilibrar a convivência na alma de cada um entre o desejo para os ideais e as tendências internas para os seus opostos.
Este romance, que é de facto uma obra-prima, antecede em muito a questão levantada por Umberto Eco em "O nome da Rosa": se o riso também faria parte de Deus ou era fruto do mal, sendo que Hesse, de uma forma diferente, evidencia que no ser humano a felicidade está em saber conjugar o sério, perfeito, maduro e imortal, com o divertido, tosco, infantil e passageiro que tempera a vida. Gostei muito do livro e a escrita é magnífica, os meus sublinhados de ideias interessantíssimas a reter surgiram em muitas das suas páginas, é uma obra que recomendo a leitura, mas a quem gosta de obras profundas e onde a facilidade do conteúdo exposto não seja um fator limitante ao prazer de ler.
5 comentários:
esse eu não li, embora esteja em lista há tempos. beijos, pedrita
Recomendo, houve uma parte que era duro mas desembocou numa conjunto genial.
Embora Hermann Hesse não seja o meu escritor preferido, pelo menos, mereceu o Nobel.
Este livro tem qualidade suficiente para ser distinguido no campo da literatura... o Nobel da literatura parece nem sempre desejar premiar este domínio artístico, parece que já houve motivações várias ao longo de diferentes anos que não a literatura.
carlos, eu detestei portnoy tb. datado. leia outro. os outros gostei muito mais.
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