Passado cerca de 20 anos, reli, agora em português, o romance "Órix e Crex" que encontrei na biblioteca pública da Horta. Um livro da canadiana Margaret Atwood, que na tradução lusa tem o subtítulo "O Último Homem", no original só "Oryx and Crake". Este é o primeiro livro de uma trilogia que já li integralmente em inglês, contudo, apenas falei neste blogue do último volume, já que as leituras dos anteriores decorreram antes da existência de Geocrusoe ou deste se ter tornado um espaço para falar de livros.
O romance decorre num futuro próximo, distópico, com o descontrolo da investigação tecnológica, sobretudo, da genética; num ambiente de catástrofe das alterações climáticas, no niilismo das pessoas e da dominância dos interesses económicos e capitalistas dos empórios industriais e comerciais. O que gerou uma sociedade de desigualdades na vidas do génios, acolhidos pelas empresas, face à dos cidadãos comuns, uma realidade geradora de uma violência intensa, novas religiões ecologistas e separação entre os espaços paradisíacos para os protegidos e os infernais para os restantes, as plebelândias. Um sistema mantido à custa de uma polícia de segurança altamente poderosa com uns serviços de informação que espiam tudo e prontos a agir para a preservação da situação sem qualquer respeito pelos direitos dos cidadãos.
No livro vemos o mundo pelos olhos de Jimmy, de inteligência mediana, criado no mundo dos privilegiados, que estabeleceu amizade com o seu colega de escola Glenn, um génio nas ciências de ponta. Este adota o nome de Crex como guru na maratona entre os animais extintos e as novas criações genéticas, ambos viram as suas famílias dilaceradas por questões de segurança e no passatempo de pornografia da internet descobrem outra criança por quem se apaixonam, em adultos, esta será chamada a viver no seu mundo como Órix, só que a desilusão de Crex com a humanidade leva-o a criar um ser perfeito e a destruir a espécie humana, deixando Jimmy a tarefa de cuidar da sua criação no pós-humanidade, quando este adota o nome de Homem das Neves.
A narrativa passa-se no período pós-humanidade, onde vemos a vida quotidiana do Homem das Neves, o sobrevivente da calamidade premeditada por Crex que protegeu apenas Jimmy, vamos então percebendo o seu papel de cuidador dos crexianos criados por Crex e a descrição destes seres perfeitos na ideia daquele, este presente é intercalado com as memórias da sua vida anterior dentro dos grandes espaços dos privilegiados, descrição dos produtos destas empresas: géneros alimentares altamente processados e geneticamente modificados, drogas para sensações de bem-estar além do natural e animais e plantas híbridos para os fins mais diversos. Neste mundo, os dois amigos têm como passatempo a internet, com jogos e onde se percebe a vida miserável e violenta nas plebelândias.
É um romance ao mesmo nível dos de ficção distópica do futuro da humanidade na Terra como "1984" e o "Admirável Mundo Novo", Órix e Crex mostra o caminho arriscado atual da humanidade com a combinação da evolução tecnológica, o capitalismo desigual e o niilismo da sociedade, além do perigo de alguém genial se revoltar contra este mesmo mundo e intencionalmente o destruir e ainda como pode ser uma aberração querer criar algo perfeito com base em critérios humanos.
2 comentários:
li por sua indicação e é o meu preferido dela. antes de vir ler sua resenha fui reler a minha. lendo o seu texto, não me atentei a trilogia, vou procurar. sim, qd li minha postagem a obra me despertou tudo novamente. https://mataharie007.blogspot.com/2019/11/oryx-e-crake.html
Na primeira leitura o segundo volume foi-me difícil agarrar, curiosamente, agora estou a vê-lo de olhos diferentes, verei como evolui a minha impressão uma vez que até conheço o ciclo completo...
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