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sexta-feira, 6 de março de 2020

"Arranha-céus" de J. G. Ballard

Excerto
"o arranha-céus era um exemplo de tudo o que a tecnologia tinha feito para tornar possível a manifestação de uma psicopatologia verdadeiramente «livre»."

Terminei de ler o meu segundo livro do inglês J. G. Ballard: "Arranha-céus". Este escritor, nas suas obras, criou e explorou ambientes de tensão psicológica extrema fruto dos desequilíbrios do modelo de desenvolvimento socioeconómico atual que podem despertar o pior que há no íntimo das pessoas, criando mundos de da realidade demencial. Todavia estas criações distinguem-se das distopias futuristas que procuram denunciar o caminho errado da sociedade contemporânea as situações deste autor ocorrerem no presente, dentro de determinados locais ou nichos, como também acontece neste romance, e servem para polarizar ao máximo essas disfunções, enquanto o mundo envolvente aparentemente continua na sua normalidade absurda.
No presente livro, escrito nos anos de 1970, um arranha-céus de 40 andares e dois mil residentes no leste de Londres é o expoente máximo que integra tecnologia, arquitetura de vanguarda, conforto e prazer pelos serviços de lazer e comerciais: piscinas, supermercados, bancos, escolas, cabeleireiros, parques infantis, restaurantes, etc. tudo está estrategicamente disponível dentro do edifício, mas neste subsiste a estratificação social: uma classe mais baixa na parte inferior, uma classe média na sua zona central e uma elite pequena e dominadora no topo, tal como o luxo e a qualidade dos serviços se arrumam de acordo com esta hierarquia social. No que parecia um mundo em equilíbrio inicial e com relações interclasses entre as mais variadas profissões liberais, eis que alguns abusos e preconceitos vindos de cima geram revoltas nos andares inferiores. Estes incidentes irão num crescendo até a um nível de loucura e violência extrema, mas mantém cativos alguns viciados nesta guerra de classes amoral, sem limites e geradora da implosão desta comunidade... enquanto no exterior o dia-a-dia decorre sem nada que se considere fora da norma.
A escrita escorreita, por vezes com metáforas duras, está ao serviço de um mundo onde se perde a dignidade e humanidade, algumas cenas são de grande violência, tanto psicológica, como física e inclusive contra animais domésticos, criando um retrato negro do que a espiral da loucura pode levar. Gostei, lê-se facilmente, mas pode impressionar leitores sensíveis.
Como vários livros de Ballard, este também passou a filme, entre as várias adaptações cinematográficas da sua obra está uma vencedora de melhor filme do ano em Hollywood (Crash), o trailer abaixo é respeitante a arranha-céus.

4 comentários:

Pedrita disse...

eu vi o filme, agora quero ler o livro. o filme é muito interessante, gostei muito. beijos, pedrita
https://mataharie007.blogspot.com/2019/08/arranha-ceu.html

Carlos Faria disse...

Eu não vi o filme, pelo trailer penso que o livro será mais violento, pelo menos psicologicamente, pois a maioria da violência física é deduzida e a mais evidente é com animais, mas é uma obra muito forte.

Anónimo disse...

Onde você comprou essa edição?

Carlos Faria disse...

Comprei na Wook