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sábado, 30 de novembro de 2019

"A Mancha Humana" de Philip Roth

Excerto
"as defesas mais fortes estão crivadas de pontos fracos."
"a liberdade é perigosa. A liberdade é muito perigosa"
"cada dia que passa as palavras que ouço dizer parecem corresponder cada vez menos à descrição do que as coisas realmente são."

Li "A Mancha Humana" do escritor norteamericano Philip Roth, a escolha deste livro foi mais ponderada do que o habitual, pois apesar dos muitos elogios e popularidade deste autor, o primeiro livro que comecei a ler dele desisti: enojado e irritado "O Complexo de Portnoy". Assim levei vários anos a ouvir recomendações para uma segunda oportunidade ao autor, este título era um dos mais sugeridos, não o único, e quando saiu nesta coleção de baixo-preço e seleccionados pela sua qualidade, decidi-me. Desde já ficou em muito reabilitada a imagem de Philip Roth, pois gostei muito da trama e da mensagem do livro, embora a sexualidade seja tratada com alguma grosseria e vernáculo, esta não é o centro obsessivo da obra com uma escrita escorreita e agradável, mas não a senti excecional na beleza e forma.
Está-se no ano do escândalo sexual do Presidente Clinton com Mónica, quando nasceu a amizade entre o escritor Zuckerman e Coleman Silk. Este é um homem de 71 anos que foi reitor da universidade local, a revolucionou e modernizou pela sua capacidade, atingindo o auge de reconhecimento público e deixando ódio em medíocres oportunistas do meio académico. Eis que de repente toda a sua vida desmorona ao utilizar uma palavra num dado sentido que também pode ser racista. O escândalo leva-o a afastar-se, a mulher tem morte súbita e ele encontra suporte amoroso numa empregada de limpeza de trinta anos, inculta e analfabeta mas em que o ex-marido - com síndrome pós-traumático do Vietname - pretende destruir o casal que vêm de facto a morrer. Zuckerman vai então descobrir quem foi Silk e descobre um segredo na sua origem que é uma mancha que apesar disso ele conseguiu ultrapassar e vencer socialmente num meio cheio de preconceitos, racismo e intolerância quando tudo parecia impossível decidindo passar a livro toda essa descoberta.
O romance faz um retrato profundo da América, onde se mistura o puritanismo, os traumas dos veteranos e onde o topo do sucesso social estava reservado a uma elite branca que tolerava outras cores mas numa realidade segregacionista onde se ferem e condicionam pessoas numa guerra racista, moralmente hipócrita e de competitividade sem tréguas nem ética.
Vale a pena ler esta obra por esta informação bem estilizada nos vários aspetos da trama e cheia de deixas críticas que denunciam vícios que estão a ameaçar o desenvolvimento e a humanidade em sociedade.

10 comentários:

Pedrita disse...

esse dele eu não li. gostei muito da capa. tb não gosto de o complexo de portnoy, acho um livro datado. mas eu tinha lido um dele antes e gostado muito. fiquei curiosa. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Este é mesmo bom, está datado porque sabemos que é em 1998, mas muito do seu conteúdo está atual e é um bom romance.

ematejoca disse...

Em Novembro do ano passado, falamos sobre o romance "A Mancha Humana" de Philip Roth, no encontro do Círculo Literário, cujo conteúdo está cada vez mais atual.

Mencionado entre os favoritos ao Nobel da Literatura e, considerado um dos maiores escritores norte-americanos da segunda metade do século XX morreu sem receber esse Prémio, mas recebeu muitos outros.

Carlos Faria disse...

Como só li duas obras não sei da injustiça ou não na questão do Nobel, um dos livros odiei mesmo: O Complexo de Portnoy; este outro gostei muito da estória e do modo como desenvolveu a trama, sobre a forma de escrita nada de especial.
Talvez as obsessões em alguns dos romances, essa escrita sem nada de destaque, apesar da popularidade, sejam argumentos para a não atribuição de tal prémio que é menos influenciável aos interesses editoriais e grupos nacionais,
O Nobel não é dado por popularidade e sucessos de vendas, neste caso a lista dos galardoados seria bem diferente. Muitos fãs de um autor não percebem isto.

Kelly Oliveira Barbosa disse...

Em algum momento da vida vou me aventurar pelas páginas desse autor...

Carlos Faria disse...

Este vale a pena, como trama é muito bom e faz pensar a questão de uma forma bem original.

Bárbara Ferreira disse...

Li este há uns anos e confesso que não adorei. Achei algo lento, repetitivo...

Carlos Faria disse...

Para quem como eu que lê Faulkner, Agustina e Proust este Roth é alta velocidade e sem repetições. Não sendo o livro da minha vida, até porque a única obra que antes lera de Roth desistira enjoado este foi uma agradável surpresa.

Maria disse...

Tenho o livro mas ainda não o li. Comprei-o porque vi o filme homónimo com a Nicole Kidman e o Anthony Hopkins (tenho o dvd) e gostei.
Prefiro ler o livro antes de ver o filme, mas neste caso vai ser ao contrário.
🎄
Maria

Carlos Faria disse...

Nem sabia que a obra passara a filme, sim tem potencial para isso.