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segunda-feira, 9 de setembro de 2019

"Coelho Enriquece" de John Updike


Excerto
"Como se pode respeitar o mundo se este é conduzido por um grupo de miúdos que envelheceram."

No terceiro volume da tetralogia Coelho, o escritor norte-americano John Updike transporta-nos para a vida nos Estados Unidos em 1979, na presidência de Carter em plena crise dos reféns da embaixada dos EUA em Teerão.
Em "Coelho Enriquece" vencedor do prémio Pulitzer para ficção, Harry já é quarentão, acomodado numa vida social e profissional rotineira e entediante, após alcançar o desafogo financeiro pelas cedências pessoais economicamente oportunas e quando o filho jovem sente todas as inseguranças da idade (muito semelhantes às do progenitor que ele agora não compreende), originando o conflito de gerações ao tentar encaminhar o herdeiro contra a vontade deste que se quer afirmar sem se afastar de casa e responsabilizando o pai de todos os seus males. O protagonista casualmente encontra uma jovem que suspeita ser sua filha da relação contada em "Corre, Coelho" que irá despertar a sua curiosidade e levá-lo a agir em conformidade.
Apesar de neste volume não haver o culminar de uma crise e depois a descompressão à semelhança dos anteriores, a tensão vai ardendo sempre em lume-brando com picos mais elevados mas sem nunca ser plenamente resolvida. Um dos aspetos mais fortes neste romance é a insistência da vertente sexual das personagens com numerosos pormenores libidinosos e obsessivos  na vida íntima de Coelho que são descritos sem filtro na narrativa. Embora sem um estilo pornográfico, as descrições destes atos e pensamentos eróticos são pormenorizadas com um realismo intenso que podem repugnar alguns leitores. Pior ainda quando parecem ser transversais a toda a sua geração saída da revolução sexual com a queda de tabus e ávida de experiências antes que a velhice chegue.
A escrita bem trabalhada, por isso não casual, mas assegura aquele estilo realista de aparente despreocupação comum a muitas obras das últimas décadas nos Estados Unidos.
Gostei da história, recordei muitos acontecimentos noticiosos que marcaram a minha adolescência, aliás o prémio atribuído por norma premeia retratos históricos dos EUA, mas senti um certo enfado nas obsessões e pormenores da vida íntima de Coelho, não sendo eu partidário de censuras morais, aprecio algum recato e pudor em arte, apesar de Updike seguramente pretender retratar a influência do líbido das pessoas no seu comportamento social e mostrar que apesar de uma vida pública adulta ninguém na realidade se liberta das tensões hormonais iniciadas na adolescência, agindo-se emocionalmente muitas vezes como criança sob uma falsa fachada madura num permanente conflito.


2 comentários:

Pedrita disse...

adorei essa capa. cada vez com mais vontade de ingressar nesse universo. pena q esqueci de olhar ontem no sebo que fui se tinha algum dele. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Não sei se irá gostar, mas se quiser experimentar essa tetralogia convinha começar pelo Corre, Coelho, é mais pequeno e assim arranca do início e se desgostar também é o menor e dá indícios para as sequelas.
Tenho ouvido dizer que Updike é muito diferente em diferentes romances, mas estes são semelhantes e como tal não dá para ver os outros estilos.