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sábado, 13 de dezembro de 2025

"O Tempo Envelhece Depressa" de Antonio Tabucchi

 

Regressei ao escritor italiano Antonio Tabucchi, agora com este livro de nove contos: "O Tempo Envelhece Depressa". Esta é a terceira obra que leio deste autor e a segunda de contos, sendo que, neste género, parece-me que entro num filme de Fellini.
Nestas nove histórias curtas, as personagens parecem deslocadas do seu tempo e projetam o passado já vivido para o seu presente. Assim, vemos um doente terminal pelos olhos de um parente que recorda a sua infância com familiares; um espião que vai à campa de Bertold Brecht que ele vigiou; um advogado da Alemanha de Leste que narra o feito de ter defendido perseguidos com filmagens de um realizador do regime sem fita; um judeu ucraniano que viveu na Roménia num asilo em Israel que confunde a paisagem com Bucareste; um militar contaminado com radioatividade que ensina uma criança a ler o futuro nas nuvens; um ciclo repetitivo que força gente a render um eremita num mosteiro em ruína em Creta; um antigo investigador que visita um jardim botânico onde se encanta com uma lavadeira que canta; e uma magrebina que vive em Paris e se perde nas memórias das areias de Marrocos.
Tabucchi tem dois dos livros que mais me marcaram "A mulher de Porto Pim" com contos sobre a baleação na ilha onde vivo e o romance "Afirma Pereira" um relatório de espiões que mostra o regime fascista em Portugal, duas obras de grande genialidade e ligação a Portugal que o tornam o escritor italiano mais português de todos. O tempo envelhece depressa é um livro diferente de uma pessoa madura, rico literariamente e olha o passado. Gostei, mas o saudosismo do passado torna-o melancólico.

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