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sábado, 14 de outubro de 2023

"Os comedores de pérolas" de João Aguiar


Citação

 "Ou andamos todos a puxar uma nora sem dono ou estamos todos na mão de Deus."

Ao fim de vários anos regressei a João Aguiar, um jornalista e escritor português de quem lera romances históricos passados em território nacional antes do nascimento de Portugal e com heróis reais pré-nacionalidade de que muito gostei pela informação fornecida sobre esses tempos. Agora leio numa obra publicada em 1992 passada em Macau já na sombra da transferência da administração deste território para a China que decorreu em 1999.
Em "Os comedores de pérolas" o protagonista, Adriano, um jornalista que na sequência de uma luta via profissional por uma causa ambiental entra em depressão é lhe recomendado aceitar um trabalho de analisar o espólio de um antigo comendador de Macau, com documentos em português, chinês e inglês, para daí se publicar um livro sobre a vida desse homem de há um século atrás e patrocinado por um seu descendente. Só que rapidamente Adriando se apercebe que nesses documentos há segredos e existem aspetos cujos tradutores falseiam o conteúdo para esconder envolvências com mafias chinesas, contrabando e tráfico humano e começa a sofrer pressões para preservar o bom nome do magnata e sua mulher.
A situação agrava-se quando com incidentes e assassinatos descobre que ele mesmo está em risco de vida e à sua volta existe uma teia de espiões ao serviço do neto do Comendador que financia o seu trabalho.
Os comedores de pérolas é de facto um romance de investigação e ação do género literário de suspense ou tríler, que nem falta a mulher por quem o herói se encanta, cuja tensão vai aumentando à medida que a narrativa avança em forma de diário irregular do protagonista. Nas notas existem reflexões sobre o fim da presença de Portugal em Macau e a sensação de amargura do declínio do império e descrições sobre a mistura de culturas neste território, o património em risco devido à transição administrativa da cidade, referências a locais emblemáticos e a realidade das redes mafiosas designadas de seitas ou tríades.
Uma escrita mais jornalística do que embelezada por figuras de estilo literário e não muito pretensiosa, mas uma obra que vale a pena ler pela facilidade de cativar, daí ter sido um sucesso editorial na época, enquanto vai colocando as preocupações culturais associadas à retirada de Portugal deste território pequeno face a Hong Kong. Macau, que já visitei e por isso percebi a razão de ser de tais alertas: uma terra que oficialmente ainda usa a língua Portuguesa, mas onde, de facto, praticamente ninguém fala uma palavra do vocabulário de Camões, apesar de um núcleo com o património arquitetónico bem preservado e classificado pela UNESCO. Gostei do romance, fácil e recomendo a quem gosta do género de investigação e ação

5 comentários:

Pedrita disse...

fiquei curiosa. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Dele recomendaria A voz dos deuses, sobre sobre o herói lusitano Viriato; A hora de Sertório sobre aquele general do império romano que lutou ao lado dos lusitanos; e O Trono do Altíssimo que descreve o declínio do paganismo e ascensão do cristianismo na antiga Braga ainda romana no tempo do bispo S. Martinho de Dume. São excelentes livros históricos que dão para perceber algumas das origens da cultura e identidade portuguesa.

Joaquim Ramos disse...

Também dizem muito bem do Navegador Solitário.

Carlos Faria disse...

Navegador Solitário não li, nem sei o tema... tenho uma amiga que deve ler em breve Inês de Portugal, sobre Inês de Castro.

Pedrita disse...

vou colocar na minha lista. falei de livro no meu blog.