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quinta-feira, 11 de junho de 2020

"A Cidade" de William Faulkner


"A Cidade" de William Faulkner", norteamericano laureado com o Nobel da literatura, é o segundo volume da trilogia da família Snopes, cujo primeiro "A Aldeia" li recentemente.
Em A Aldeia Lem Snopes dominou a economia rural do Velho Domínio do Francês, enriqueceu ao entrar na família de Will Varner e no fim partiu para a capital do condado: Jefferson. 
Aqui, a sua ambição desmedida não pára, para tal alia-se ao presidente da câmara, explorando a relação deste com a sua mulher e mãe da sua filha Linda, bastarda, mas que o levou ao casamento de conveniência. Assim, em paralelo, desvia bens municipais de que sai ileso devido à teia montada, enquanto os seus parentes, já conhecidos anteriormente, vão sendo atraídos do campo para esta cidade com atos mais ou menos duvidosos até ao desfalque no banco onde Lem e o sogro tem ações. A partir de então começa a fase deste subir no domínio da cidade, enriquecer e limpar o seu nome socialmente numa terra de moral conservadora das religiões protestantes britânicas e ainda vingar-se como marido traído, retendo Linda de quem depende grande parte do património que deseja, expulsa os elementos do clã que lhe sujam o nome e vai até ao sucesso final com vítimas pelo caminho. Ficam as pistas para o terceiro volume.
Toda a estória é contada por três testemunhas das práticas de Lem Snopes: (1) Rattlif que fora o principal narrador do primeiro volume que o compreende, explica e perspetiva as ações futuras dele; (2) Gavin Stevens, advogado e depois procurador público de Jefferson, que se apaixona também pela mulher de Lem e mais tarde por Linda e vive em permanente luta entre os seus sentimentos, a aproximação e o cuidado social, sendo alvo dos reparos e conselhos da sua irmã gémea, casada e com quem coabita e (3) o filho desta, Charles Mallison, cujos primórdios de Lem na cidade lhe foram contados por um primo e passa a testemunha e agente envolvido como criança e adolescente que servia de intermediário inocente entre partes em jogo.
O texto tem, por norma, um tom sarcástico, irónico ou de crítica social, o que o torna divertido, e recorre à técnica escrita de fluxo da consciência: o narrador vai expondo de forma cruzada e sequencial no parágrafo as ações, os comentários, os à partes, reposições de omissões de dados passados, as reflexões pessoais do narrador e até as suas hesitações, erros e correções. Isto obriga a uma grande atenção do leitor devido às variações bruscas no tempo, lugar e de sujeitos, com frequentes intercalações estranhas entre a introdução da ideia da frase e a conclusão do assunto.
Apesar de leitura difícil diverti-me muito, embora certos capítulos se tornem prolixos de pormenores do início à conclusão da ação devido ao fluxo da consciência, o que pode cansar, mas em paralelo permite um retrato social profundo das populações dos Estados Unidos longe dos grandes centros urbanos.

2 comentários:

Pedrita disse...

adoro esse autor. esse eu não li. fiquei curiosa, mas pelo que entendi é uma trilogia que começa com a aldeia. que ainda não li. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Sim, é uma trilogia, o próximo é a Mansão que já está cá em casa, não são obras muito fáceis de se ler, por isso eu intercalo para descansar, mas ele também não as escreveu de seguida. Mas penso que esta família Snopes é de uma originalidade que vale a pena.