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quinta-feira, 4 de abril de 2019

"Ilusões Perdidas" de Honoré Balzac


Excertos
"A avareza começa onde termina a pobreza."
"...onde começa a ambição terminam os bons sentimentos."
"Faz como eu, escreve hipocrisias em troca de dinheiro e sejamos felizes."

Acabei de ler o volumoso romance "Ilusões Perdidas" do francês do século XIX Honoré Balzac. A obra foi inicialmente publicada em três tomos separados em anos sucessivos, criando uma trilogia e aqui reunidas num único livro com mais de 700 páginas.
Balzac estudou a sociedade francesa pormenorizadamente e através de dezenas de romances montou o retrato dos vários tipos de pessoas que compunham o seu povo, criando um conjunto intitulado "A comédia humana". Ilusões perdidas faz parte desta coletânea. Aqui se mostra o poeta provinciano sonhador cujo sucesso o tornam ambicioso e o luxo de Paris o cega da manha hipócrita da alta sociedade decadente e imoral da capital, enquanto familiares, trabalhadores e honestos, se sacrificam até à miséria na terra de origem, mas onde os mesmos males, embora de forma mais simples, também minam todas as relações sociais e criam as suas vítimas.
A primeira parte decorre na cidade do sudeste de França: Angoulême, David filho de um tipógrafo, é um sentimentalista inventor sem aptidão para o negócio que fica com a empresa do seu pais egoísta, avarento e explorador do seu herdeiro. O jovem mantém uma amizade com Lucien, pobre mas descendente de nobreza pelo lado da mãe, este sente-se  poeta e tenta subir socialmente fazendo uso da sua beleza perante uma das principais damas casadas da cidade. O primeiro casa com a irmã do segundo, Eve,  e o poeta consegue despertar a paixão na madame Bargeton até rebentar o escândalo de adultério e ambos partem para Paris.
A segunda parte é em Paris, onde a necessidades de preservar as aparências sociais leva, de uma forma apressada, a madame afastar-se de Lucien. Este sem rendimentos, apesar de alertado por escritores idealistas honestos e pobres, entra no meio jornalístico onde genialmente usa a pena como crítico literário e de teatro ao sabor dos seus interesses pessoais e políticos, desvalorizando obras-primas, inclusive de amigos, arranja uma atriz como amante, endivida-se para exibir luxo face à mulher que o abandonou, entra em conflito com ela através dos seus artigos e esta arma um estratagema de vingança em que o poeta ingénuo e provinciano cai em desgraça e na miséria.
Na terceira parte regressamos à cidade inicial, onde David luta pela sobrevivência da tipografia perante um concorrente desleal e oportunista, mas gere mal o negócio ao se dedicar à sua invenção de novos tipos de papel até que também lhe caem nas mãos as dívidas do cunhado feitas na capital. Eve tenta gerir a situação, mas tanto em Paris como na província, a maldade não ajuda os bem intencionados  trabalhadores e a Lei favorece os aristocratas e os ricos usurários e oportunistas. Lucien regressa miserável e a madame volta como mulher do novo Prefeito da cidade e o conflito agrava-se...
Balzac junta à linguagem da literatura clássica do século XIX, partes de descrição prolixas e prosaicas das disfunções da sociedade em França, inclusive os vícios legais e das pessoas, sem omitir o confronto ideológico pós revolução francesa com o regresso da monarquia que cria duas correntes artísticas e jornalísticas, onde teatro, literatura e jornalismo em vez de se enfrentarem com honestidade entre si se destroem sem respeito pelo valor das ideias ou das obras produzidas. Já então os interesses editoriais em conluio com a crítica literária esmagavam grandes artistas e escritores originais enquanto elogiavam obras medíocres tornando-as sucessos imerecidos. Um retrato social por cheio de comentários sobre os problemas da sociedade e dos vícios dos seus personagens que abrem frequentemente pistas para o percurso em que a trama irá seguir.
Um clássico da literatura que é ao mesmo tempo uma lição sobre a realidade do mundo de então, mas que de facto é muito semelhante ao atual, onde a injustiça dos poderosos é a força que move a sociedade.

2 comentários:

Pedrita disse...

eu li na adolescência, uma vizinha comprava livros mas lia pouco e esse estava ainda embalado e falou q eu podia ler. foi qd eu comecei a descobrir q tinham livros bem mais inquietantes. eu amo essa obra. bejios, pedrita

Carlos Faria disse...

Chocou me muito como os críticos literários podem destruir grandes obras apenas por motivos financeiros e guerras editoriais. Balzac denuncia isto genialmente