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terça-feira, 16 de abril de 2019

"Eusébio Macário" de Camilo Castelo Branco

Regressei à literatura portuguesa com "Eusébio Macário" de Camilo Castelo Branco e escrito no início do último quartel do século XIX.
A obra é uma paródia sobre o estilo de vida provinciano rural, com padres devassos, homens e mulheres promíscuos que vivem na hipocrisia e má-língua dos pecados alheios mas que por conveniência financeira são capazes de aceitar uma vida dentro das regras morais.
Eusébio tem uma farmácia e um casal de filhos é amigo do abade que tem uma amante, o regresso do Brasil do irmão desta, após longe ter feito fortuna, irá levar a uma revolução na vida desta comunidade, onde a moral e os bons costumes são chaves de beneficiar deste filho retornado à terra que por sua vez está ávido de reconhecimento social público.
Camilo que está à época em conflito com as novas ideias literárias procura nesta paródia reagir aos seus adversários, pelo que satiriza o realismo escrevendo com muita adjetivação e com uma riqueza lexical enorme, sendo que em tal excesso de palavras muitas destas caíram em desuso ou são regionalismos, pelo que nos parecem estranhas, embora no contexto se perceba. Nesta novela o contraste com o seu contemporâneo Eça de Queirós torna-se flagrante no modo de parodiar os problemas nacionais, ambos génios no domínio da língua, só que com estilos bem diferentes e o autor de Os Maias é de uma elegância ímpar.
Igualmente o escritor aproveita para explicar alguns comportamentos e expressões que caracterizam a sociedade da sua época cheia de vícios privados mas defensora de virtudes públicas e para falar de alguns reviravoltas políticas no conturbado período que se seguiu à luta entre absolutistas e liberais defensores do regime Constitucional. 


5 comentários:

ematejoca disse...

Embora eu seja agnóstica, gostei de ler o seu inteligente comentário, Carlos.

Também li este romance de Camilo Castelo Branco, ainda quando vivia no Porto. Na biblioteca dos meus pais, encontrava-se a obra completa do Camilo.

Pedrita disse...

acho que só li uma obra desse autor há muitos anos e não foi esse. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Obrigado Ematejoca... é a segunda obra de Camilo que li, mas gostei muito mais de A queda de um Anjo.

Eu além desta só li A queda de um anjo, mas a famosíssima dele é Amor de Perdição, que já vi em filme e em série de TV.

Joaquim Ramos disse...

Bom dia, cheguei aqui depois de ler o seu excelente comentário no blog da ematejoca.
E as recensões que aqui vejo também me agradam e muito.
E são muito úteis a um leitor como eu que já não tem espaço para livros, o dinheiro para os comprar não abunda e o tempo é sempre escasso; porque ao nos sintonizarmos com o seu gosto, nos permite seleccionar o melhor.
Lançava-lhe um desafio de escolher, sem muito pensar, o que levaria se fosse para uma ilha deserta durante um mês.
Da minha parte, vem-me à ideia sem preocupações de pseudo intelectual, livros que essencialmente me deram prazer. É isso que lhe pedia também.
- As pontes de Madison County de Robert James Walker
- A amante holandesa de Rentes de Carvalho
- O processo de Kafka
- Crime e castigo de Dostoiévski
- Noite sem fim de Agatha Christie
- O homem que via passar os comboios de Simenon
- Para sempre de Vergílio Ferreira

Muito obrigado e boas leituras.

Carlos Faria disse...

Assim de repente é difícil responder, deveria levar também música como A canção da Terra de Mahler, várias cantatas de Bach e sonatas de Beethoven.
Em livros também não é escolha fácil: A montanha mágica de Mann, O Assassino cego de Atwood, Os demónios, os Irmãos Karamazov e Guerra e Paz, preciso de reler O memorial do Convento e a Cidade e as Serras.