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domingo, 7 de outubro de 2018

"Mr. Vertigo" de Paul Auster


Citação
"temos de encarar o nosso talento como um instrumento elástico que deveremos puxar tanto quanto possível."

Voltei novamente ao escritor norteamericano Paul Auster, agora com Mr. Vertigo, que à semelhança do anterior, é de novo uma obra biográfica, mas desta vez narrada na primeira pessoa.
Walt Rawley conta a sua vida desde o momento em que miúdo de rua, órfão em Saint Louis e fã da equipa de basebol Cardinals é retirado da cidade pelo Mestre com a promessa de o fazer voar e informado-o da aceitação dos violentos tios que o acolhiam por obrigação sem amor. Após um treino cheio de trabalho e tarefas duríssimas num ermo na companhia de um jovem negro, de uma índia velha, do treinador e da mulher amada por este, Walt descobre que de facto tem o dom da levitação e começa o seu voo pelos EUA sob a direção artística do seu formador.
Uma ascensão meteórica que é interrompida pelo invejoso tio, pela vingança que a natureza exerce aos dotados desta capacidade e a morte do Mestre. Assim, no auge, vê-se ainda jovem de novo só num país onde o sexo, o submundo dos vícios e a paixão do basebol o dominam e levam-no à vertigem da queda (vértigo) de forma imparável, até conseguir uma fuga, reabilitar-se, ter uma vida adulta quase normal com a memória de um passado glorioso e uma velhice perto de alguém que ele admirara.
Com uma componente inicial de maravilhoso, nesta biografia vislumbram-se os males da América profunda: racismo, jogo, sexo, capitalismo bolsista e outros problemas que a vida do Rapaz Prodígio e depois Mr. Vertigo atravessaram ao longo de quase 8 décadas de história. Escrito como memória do protagonista, com reflexões e introspeções ao estilo de Auster, é uma obra que dá a conhecer os Estados Unidos do século XX e a dificuldade de se vencer neste país duro cheio de armadilhas e onde é mais fácil qualquer um tropeçar do que voar...

6 comentários:

Bárbara Ferreira disse...

Muito interessante. Nunca li nada deste autor, mas tenho "A Trilogia de Nova Iorque" na estante... talvez lhe pegue em breve, a sua descrição deste livro deixou-me intrigada.

Carlos Faria disse...

A trilogia foi o primeiro que li, embora ainda seja considerado a sua obra maior, lembro-me que não me cativou muito, embora uma das 3 estórias tenha a recordação que gostara muito. Mas como li esse livro há já longos anos, talvez a minha maturidade como leitor não fosse suficiente para o saborear. Até agora o que mais gostei foi Leviathan, também lido este ano.

Pedrita disse...

não li. parece interessante. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Os livros de Auster tendem a ser sempre bons livros, não é por acaso que costuma ser apontado como um potencial Nobel... embora mais elitista que outros que são mais popularuchos que também muitos leitores consideram nomeáveis.

Abel Pereira disse...

Vou agora na página 72 e comecei a ter dificuldade em continuar a ler, por isso lembrei-me de procurar possíveis comentários que lançassem alguma luz sobre o andamento da narrativa. Partindo do seu comentário parece que talvez valha a pena continuar.

Carlos Faria disse...

Abel Pereira
Confirmo que nem sempre a leitura desta obra é fácil, tem momentos duros, outros até mais aborrecidos, a obra vale pelo seu conjunto e pelo retrato que é feito da América à sombra deste rapaz prodígio