Há já algum tempo que tinha curiosidade em descobrir os dotes de escrita deste descendente direto de Eça de Queirós, tive interesse nalgumas obras dele mas não cheguei a comprar, talvez por serem obras baseadas em personagens reais e temia serem deprimentes, mas desta vez fiquei desperto mal este romance saiu: "O último avô" de Afonso Reis Cabral.
Augusto Campelo é um escritor idoso reconhecido, mas de grande prepotência em família. Este decide queimar o manuscrito do que talvez fosse a sua obra magistral sobre o seu passado longínquo na guerra de Angola, o seu neto Augusto, seu grande admirador e que lhe segue as pisadas, é chamado, mas pouco depois o avô morre e deixa-o testamenteiro do seu legado. Começa a busca da provável existência de um original escondido em casa, vêm-lhe à memória o que o velho lhe contara sobre África, as recordações sobre sua mãe há muito morta que fugira para se libertar da força do pai que admirara e conhecera as narrativas da guerra. Recorda-se do papel da avó de equilibrar a força do marido, o peso social do sucesso e as tensões familiares . A morte do autor leva a novas pressões do mundo literário, da amante do avô e dos familiares sobre o que estaria no manuscrito e a necessidade de o publicar. Será que África teria assistido a um herói ou um carrasco que destruiria o bom nome que ao neto cabe proteger.
Afonso Reis Cabral não é uma réplica do seu trisavô, aliás a necessidade de alguém ser igual a si próprio e não uma cópia de um génio familiar é magnificamente trabalhada no romance. Escrito e narrado num estilo atual, o autor escreve bem, o romance cativa logo no início, depois entra-se num labirinto de memórias que cruzam três gerações, lugares diferentes e realidades distantes que no fim se entroncam num final surpreendente, cheio de revelações que mostram a distância que pode existir entre a imagem de um génio e a sua personalidade.
Fácil de ler, gostei e recomendo a qualquer tipo de leitor.

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