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terça-feira, 11 de novembro de 2025

"O último Avô" de Afonso Reis Cabral

 

Há já algum tempo que tinha curiosidade em descobrir os dotes de escrita deste descendente direto de Eça de Queirós, tive interesse nalgumas obras dele mas não cheguei a comprar, talvez por serem obras baseadas em personagens reais e temia serem deprimentes, mas desta vez fiquei desperto mal este romance saiu: "O último avô" de Afonso Reis Cabral.

Augusto Campelo é um escritor idoso reconhecido, mas de grande prepotência em família. Este decide queimar o manuscrito do que talvez fosse a sua obra magistral sobre o seu passado longínquo na guerra de Angola, o seu neto Augusto, seu grande admirador e que lhe segue as pisadas, é chamado, mas pouco depois o avô morre e deixa-o testamenteiro do seu legado. Começa a busca da provável existência de um original escondido em casa, vêm-lhe à memória o que o velho lhe contara sobre África, as recordações sobre sua mãe há muito morta que fugira para se libertar da força do pai que admirara e conhecera as narrativas da guerra. Recorda-se do papel da avó de equilibrar a força do marido, o peso social do sucesso e as tensões familiares . A morte do autor leva a novas pressões do mundo literário, da amante do avô e dos familiares sobre o que estaria no manuscrito e a necessidade de o publicar. Será que África teria assistido a um herói ou um carrasco que destruiria o bom nome que ao neto cabe proteger.

Afonso Reis Cabral não é uma réplica do seu trisavô, aliás a necessidade de alguém ser igual a si próprio e não uma cópia de um génio familiar é magnificamente trabalhada no romance. Escrito e narrado num estilo atual, o autor escreve bem, o romance cativa logo no início, depois entra-se num labirinto de memórias que cruzam três gerações, lugares diferentes e realidades distantes que no fim se entroncam num final surpreendente, cheio de revelações que mostram a distância que pode existir entre a imagem de um génio e a sua personalidade. 

Fácil de ler, gostei e recomendo a qualquer tipo de leitor.

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