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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

"HOMO SOLIDARICUS Derrubando o mito do ser humano egoísta" de Wegard Harsvik e Ingvar Skjerve


 Citação

"o homem não é escravo dos genes e da biologia é o que permite o Homo solidaricus"

Terminei a leitura do ebook "HOMO SOLIDARICUS  Derrubando o mito do ser humano egoísta" dos políticos trabalhistas noruegueses Wegard Harsvik e Ingvar Skjerve, uma obra que junta a forma de ensaio à de um manifesto político das ideias dos autores com base no modelo de sociedade da Noruega e na crença de que o ser humano não está refém dos seus genes para ter de ser um lutador egoísta pela sua sobrevivência e ascensão social, o que é, metaforicamente, designado como Homo economicus, mas que este pode ser também fruto de uma cultura e tornar-se num espírito cooperante para criar uma sociedade melhor e constituída pelo Homo solidaricus. 

Os autores estão ideologicamente enquadrados nas ideias socialistas e são declarados adversários do liberalismo, acreditam na bondade da generalidade das pessoas e que estas estão disponíveis para o bem ao próximo, para prosseguir com a denúncia de ideias perniciosas associadas ao liberalismo e à crença na meritocracia que, segundo os mesmos, seguem filosofias radicadas no egoísmo, refere personalidades que propagam estas ideias, centrando-se na obra de Ayn Rand, que conduz a uma competição desenfreada do capitalismo tipificada no Homo economicus.

Depois expõe um conjunto de experiências no âmbito das ciências sociais e naturais, envolvendo não só sociedades humanas, mas também de primatas e outros animais, para evidenciar que a cooperação também é um mecanismo radicado na natureza favorável à sobrevivência das espécies, sendo que os cidadãos podem ser educados no sentido do benefícios da solidariedade desde que esta seja modelada por princípio de justiça de forma a transformar o homem num fruto da biologia e da cultura do tipo Homo solidaricus, onde o caso mais avançado neste sentido é a sociedade norueguesa e escandinava. 

Mesmo subscrevendo muito dos princípios e valores enunciados na obra, não deixo de sentir que se está perante um manifesto ideológico, onde as ideias fora do âmbito dos autores são todas consideradas nefastas e a crença da quase perfeição nas suas. Infelizmente, ensinou-me a vida que nas ciências sociais muitas vezes os estudos são moldados pelos preconceitos dos investigadores, pelo que a seleção das experiências apresentadas são todas no sentido da defender as ideias do autores do livro e tudo o que não está conforme com estas, sente-se que estes consideram como sendo análises e conclusões falsas e artificialmente afetados pelos preconceitos dos outros que pensam diferente que à partida não merecem qualquer credibilidade. 

Apesar da ressalva de ser um manifesto tendencioso, gostei muito do livro, bom para a reflexão sobre sombra que ameaçam o mundo atual e concordo com muitos aspetos, cita intensamente um autor que me tem marcado nos últimos anos e cujas obras em ebook já aqui apresentei: Yuval Noah Harari. Novamente a seleção é limitada aos pontos que vão no sentido dos autores deste manifesto.

Este ebook é uma tradução do Brasil, mas que recomendo a todos os que gostam de refletir ideias políticas, embora, presentemente, muitos se alheiem deste campo de reflexão, deixando espaço aberto à ocupação desse vazio de amadurecimento do pensamento para preenchimento por populistas oportunistas que podem comprometer o futuro.

2 comentários:

Pedrita disse...

sim, é só ver as justificativas para a guerra pra ver que o egoísmo e a prepotência são bem mais predominantes na sociedade não civilizada que a cooperação e respeito. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Acredito que há gente de facto solidária e altruísta, que esse lado for alimentado essa fracção se alargue, mas não que seja a generalidade das pessoas e tivesse a noruega a densidade populacional de S. Paulo e sem petróleo não sei se seria tão bom exemplo... mas há que reconhecer que gerem o seu povo com mais justiça e equidade que muitos outros países ricos e poderiam fazer como na península arábica. Mas gostei de ler o livro que foi traduzido exatamente para o Brasil