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quinta-feira, 23 de novembro de 2023

"O Mapa de Sal e Estrelas" de Jennifer Joukhadar

 

Citação

"as histórias acalmam a dor de viver, não de morrer. As pessoas pensam sempre que morrer vai doer. Mas não. É viver que nos magoa."

Estreei-me nesta jovem escritora sírioamericana com o seu primeiro romance "O Mapa de Sal e Estrelas".

Nour é filha de um casal sírio, emigrado em Nova Iorque e desenhadores de mapas, a mãe é cristã e o pai muçulmano, este morreu, criou um vazio nela e a família a retornou a Homs para reconstruir a vida. Aqui, a guerra civil apanha-os num bombardeamento. Mãe, irmãs, Nour e outros decidem fugir até Ceuta, um trajeto comum a tantos refugiados atuais das guerras no médio-oriente. A obra depois narra as dificuldades e mortes da caminhada pelos olhos da criança. Nour, tem sinestesia (associa cores aos sons e cheiros), em paralelo recorda a história que seu pai lhe contava sobre Rawiya: uma menina que fugira de Ceuta há 800 anos atrás para encontrar com Idrisi, o cartógrafo (personagem real) que depois foi encarregado de elaborar um mapa para o rei da Sicília dos territórios entre a Síria e o Magrebe. É a época dos cruzados e do expoente máximo da cultura e riqueza árabe, outra narrativa com as fantasias da idade média.

As agruras pintam o mapa com o sal das lágrimas e as estrelas desenham a esperança do caminho, realidades que se entrecruzam nos mapas de duas épocas tão diferentes dos mesmos territórios.

A autora, usa a sinestesia de Nour, para desta situação neurológica criar metáforas e dar cores e cheiros a situações e acontecimentos e fazer uma denúncia dos problemas dos refugiados sírios em torno da Europa. Não há acusações, nem toma partido por fações. Apenas temos vítimas humanas, que correm riscos de vida, morrem e sofrem e memórias de outros tempos fantasiosos que, sem serem pacíficos, contrastam na riqueza de então com a destruição atual.

Um livro muito fácil de ler numa narrativa comovente que mistura factos atuais, personagens históricas e fantasia para mostrar ao mundo um problema humano: os refugiados e vitimas inocentes das guerras, algo que presentemente cerca a Europa.

3 comentários:

Pedrita disse...

ah, vc leu!!! eu achei fascinante a tradição de desenhar mapas. meu avô tb fazia mapas. sim, fala tão abertamente das pessoas que precisam sair andando pq suas casas foram destruídas. sem escolha, sem planejamento, sem segurança alguma. fiquei muito impactada. a capa da edição q vc leu tb é linda como a q li. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Pedrita
Não sabia da sua relação com elaboração de mapas
Foi com base no seu blogue que optei por comprar este livro, pensei que dissesse algo para compreender a realidade da guerra na Síria, mas o livro é apartidário.
Todavia, a existência deste tipo de refugiados é falada todos os dias na comunicação social na Europa, pois diariamente morrem refugiados e imigrantes para entrar neste Continente, inclusive em Portugal, uma realidade que o Brasil não sente forte, pois estes Povos e os hispânicos não migram tão intensamente para aí.

Pedrita disse...

carlos, sim, eu fiquei fascinada qd vi q os personagens eram cartógrafos. meu avô era engenheiro agrônomo, mas fez muitos mapas em cartografia na vida. fiquei feliz que eu influenciei na leitura da obra que gostei tanto. sim, o livro fala da infinidade de pessoas que precisam ir a pé pra algum lugar pra fugir da violência e dos conflitos. fala das vítimas, independente de que nacionalista. o q me agradou muito. ah, migram pra cá sim. os lugares humanitários não sabem como distribuir os imigrantes. temos os q vem da síria, vietnã, afeganistão e angola, mas temos tb imigrantes do haiti, venezuela e bolívia. falei de livro no meu blog. beijos, pedrita