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segunda-feira, 14 de março de 2022

"Vício Intrínseco" de Thomas Pynchon

Excerto

"O quê? Só devia confiar nas pessoas boas? Meu, as pessoas boas são compradas e vendidas todos os dias. Mais vale confiar em alguém mau, de vez em quando, não faz nem mais nem menos sentido. Quer dizer que dava a mesma hipótese a ambos os lados.

Acabei de ler o meu segundo livro do escritor americano contemporâneo, de estilo pós-moderno, Thomas Pynchon: Vício Intrínseco. Passado nos anos de 1970, Doc Sportello, é um detetive privado, viciado em marijuana que entre as suas alucinações, passagem por bares, cervejas, mulheres várias e confronto com a polícia que persegue hippies e drogados na região de Hollywood e tem nele um alvo, faz investigações de raptos e crimes, embora por vezes ele confunda a realidade com os devaneios provocados pela erva. No início é visitado por uma sua ex-namorada a dizer que o seu amante riquíssimo está em vias de ser raptado ou assassinado pela esposa e respetivo amante e sai em seguida. Só que ambos desaparecem e Doc entra a investigação num mundo de droga, tráfico, hippies, polícias, crimes e justiça feita fora das regras legais e infiltrados em redes mafiosas.

O romance monta como um puzzle a Califórnia de então, o movimento hippie cheia de droga, gente do cinema, muitas referências a grupos musicais reais e músicos de então, trajes e cortes de cabelo, a contestação ao Vietname e o choque cultural da época. Contudo a narrativa não é linear, típico no movimento pós-moderno, existem mudanças bruscas de ambiente de reais para alucinatórios, muitas personagens, entrada na mente do protagonista que nem sabe se está a assistir a factos reais ou a efeitos da droga, o que faz com que o leitor se possa perder, mas vale a pena prosseguir pois as peças vão-se ligando no meio deste labirinto de cenas ora psicadélicas ou com humor negro, ora de crítica social, ora de entrada no submundo da prostituição, tráfico de droga ou de influências, interesses imobiliários, polícias corruptos e os que não olham a meios para alcançar a vingança ou limpeza de uma sociedade que consideram decadente e bons e maus marginais e personagens que são caricaturas originais. 

Não é fácil seguir a história, mas diverti-me e por isso valeu a pena a leitura, um policial onde nem sempre sabemos se houve de facto crimes e assassínios, umas vezes sim, outras não, faz parte da linguagem labiríntica da obra.

3 comentários:

Pedrita disse...

não li nada desse autor, mas fiquei com vontade de ler desde que vi a adaptação para o cinema. o post do filme está aqui https://mataharie007.blogspot.com/2016/05/vicio-inerente.html

Carlos Faria disse...

Não fácil de ler se não estivermos dispostos a nos deixarmos perder nos labirintos com que ele tece a obra... até que nos voltemos a encontrar, efetivamente solução e factos são aspetos que se tornam nebulosos na sua narrativa.
Gostei de ver a apresentação do filme que sabia existir mas nunca vi.

Pedrita disse...

eu gostei muito do filme e bom saber que o livro tb dá voltas pq é muito interessante. vou ler.
falei de livro no meu blog.