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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

"O Nervo Ótico" de María Gainza


Acabei de ler um livro muito elogiado pela crítica e numerosos leitores "O Nervo Ótico" da argentina María Gainza. A obra embora seja ficção não corresponde a um romance, são uma série de contos ou crónicas narradas por uma personagem feminina, guia turística, amante de pintura e residente em Buenos Aires.
Cada capítulo corresponde a uma crónica diferente no qual a narradora nos faz recordar um quadro, por norma do Museo Nacional de Belas Artes de Buenos Aires, e cruza a sua situação pessoal com os efeitos dessa pintura sobre ela ou conta um pormenor ou aspeto central da vida do pintor.
Assim, ao longo das diferentes estórias vamos percebendo pormenores da vida da narradora: a sua gravidez, memórias de família, a doença do marido, a juventude e namoros deste, a doença dela, o pânico de voar, relações de amizade que servem de mote para valar de episódios da vida, o estilo de pintura de artistas argentinos como o maneta Cándido Lopez, o espírita Augusto Schiavoni, ou outros e ainda nomes da pintura europeia como o mestre em pintar cavalos de Dreux, o academismo incómodo de Courbet, o deficiente Toulouse-Lautrec, uma partida de mau-gosto de Picasso e uma certa inveja de El Greco face a Michelangelo Buonarroti, etc.
Saliento a excelente escrita da María Gainza, dá prazer a sua estética, muito contemporânea, bela e fácil de ler, nem sempre comum nalguns novos estilos de escrita. 
Por norma sou um grande apaixonado por literatura que junta narrativa e informações artísticas como pintura e me faz descobrir obras ou autores. Hoje em dia com a internet posso complementar esses dados com pesquisas onde aprofundo essas indicações. Curiosamente, este livro conseguiu isso tudo numa técnica narrativa original, mas o livro não me deslumbrou como esperava, talvez porque as expectativas já eram muito altas após tantos elogios. Contudo, suspeito que entre as razões da minha falta de deslumbramento se tenha prendido com o grande número dos artistas da obra não serem os que mais me tocam e quando refere os que mais gosto a personalidade que deixa transparecer não é a mais favorável, assim aconteceu com Picasso e, sobretudo, com El Greco, por quem tenho uma grande admiração e conheço extensivamente a sua obra exposta, inclusive em Toledo.
Há um outro aspeto que me incomodou: a narradora é sempre a mesma mas há pormenores desta que não me soam coerentes e senti isso dentro de um mesmo capítulo. Apesar de tudo é uma obra interessante que dá a conhecer artistas, nem sempre os que mais brilham na constelação da história da pintura, e tem uma escrita que encanta.

6 comentários:

Pedrita disse...

não me animei muito. nunca tinha ouvido falar. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Tem sido o sucesso editorial pelo mindo fora, listado nas melhores obras do seculo XXI por alguns jornais de referência global, em Portugal tem estado esgotado.

Maria disse...

Confesso que esperava mais deste livro, não foi tão fantástico quanto estava à espera que fosse.
Como costumo dizer: Gostei um pouco, mas não adorei!
Tinha as expectativas demasiado altas, por isso o comprei; de certo modo, foi uma desilusão...

Boas leituras!
🌿

PS. O Carlos não pára, estou uns dias sem vir aqui... e tenho logo duas surpresas :)

Carlos Faria disse...

Maria
Pois... talvez porque a crítica colocou demasiado alto esta obra exigimos que tenha esse nível, mas de facto não tem. Boa mas não deslumbra.
Sim no inverno todo o tempo livre é posto ao serviço da leitura, mas nenhum destes livros é muito grande.

Bárbara Ferreira disse...

Compreendo isso que o Carlos diz de os pintores e obras mencionados não lhe apelarem muito, porque senti o mesmo. Há muitos autores cuja menção me diria e tocaria mais - mas, precisamente, foca muito no museu de Belas Artes de Buenos Aires, ao qual nunca fui, e um Prado ou um d'Orsay ter-me-iam sido mais íntimos. Ainda assim, confesso que adorei a leitura, e dei-lhe nota máxima, não me tendo, no entanto, arrebatado.

Carlos Faria disse...

Bárbara
Pelos vistos estamos de acordo, excelente escrita, uma seleção de artistas que nos disse pouco, talvez um livro feito mais para consumo dentro da Argentina do que para exportação. A obra esteve esgotada quando a quis comprar talvez por isso a vontade de ler aumentou e o grau de expectativa deve ter subido tendo em conta os encómios da crítica