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quinta-feira, 27 de julho de 2017

"A mixture of Frailties" de Robertson Davies



Terminei a leitura do terceiro livro da trilogia de Salterton de Robertson Davies: "A mixture of frailties". O romance começa pouco após o casamento entre os jovens filhos de professores universitários rivais cujo falso anúncio permitira a trama do anterior livro exposto neste neste post. Um momento em que ocorre a morte da viúva mãe do noivo, uma mulher egoísta que emocionalmente escravizava o filho, que por retaliação à desfeita pela escolha da mulher filha do rival deixa em testamento cláusulas de gestão de todos seus bens incluindo sua fortuna enorme, cujo próprio descendente na sua submissão desconhecia existir, a um fundo de gestão por uma comissão cujos membros já eram conhecidos das anteriores histórias, destinado à educação na Europa de uma mulher da cidade no mundo da música a escolher pelos gestores segundo critérios rígidos, com possibilidade de repetição após a conclusão dos estudos até que haja um novo herdeiro masculino na família, enquanto o casal se limita ao usufruto da vivenda da mãe para residência, mas sem auferir rendimentos da fortuna e sem beneficiar da possibilidade de venda de propriedades pertencentes ao fundo.
A partir desta situação complexa e humilhante para o casal, Davies desenvolve o que de melhor sabe fazer nos seus romances: criar com elegância e humor uma trama em que explora o amadurecimento de uma forma de arte num potencial artista. Neste caso, como se transforma a voz de alguém dotado, mas sem cultura musical, numa artista e soprano de primeira grandeza no mundo da ópera, associado às peripécias que se geram em torno de uma jovem bela, imatura, vinda de uma cidade rural que vê de repente a possibilidade do seu sonho realizar-se, embora caída na teia de artistas e das suas rivalidades, com toda a astúcia possível desenvolvida no seio de Londres. Como sempre neste género literário, Robertson Davies cria uma delícia de obra culta com referências à história da música e uma argúcia de análise social divertida e muito anglo-saxónica.
Nas várias trilogias, uma característica a que se associam os romances deste escritor canadiano, este conseguiu cobrir e dar a conhecer através da literatura vários mundos da cultura e da arte, nomeadamente: festivais de cinema, a criatividade na pintura e na música (composição e ópera), a representação em teatro e a vida em circo, bem como as tensões que caracterizam os meios universitários, sempre com ironia e análise social que evidenciam um conhecimento dos meios culturais de uma forma difícil de se observar noutros escritores, além de que o facto de ter lecionado em várias Universidades lhe garantiu a bagagem para poder explorar repetidamente as tensões nos meios académicos. Gostei e muito e continuo a considerar no estilo mais clássico anglo-saxónico de romance o maior escritor do Canada da segunda metade do século XX

4 comentários:

Pedrita disse...

nossa, essas capas são tão bonitas. são variações com semelhanças, mas diferentes. gostei muito. acho que se fosse querer ler ia querer ler com essas capas. aconteceu isso com proust. tem uma edição no brasil que sou apaixonada. faltava o último e não me conformava de só o último ser de outra edição. levei um tempo até achar a edição da que eu tinha. a biografia de mao tb. eu queria a primeira edição que surgiu, não a compacta. era caríssima. qd achei em um sebo delirei. não quis ler o post pq quero ler esses livros. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Eu não li com esta capa, pois li a trilogia junta num único livro cuja a capa está na coluna da esquerda, mas para não repetir a mesma imagem nos três romances optei por esta de quando saíram em separado na década de 1950, infelizmente as versões individuais mais recentes são menos bonitas que estas que em parte assumem o conteúdo, neste caso o fazer brotar flores pela voz é de facto o cerne do que se fez à protagonista.

Kelly Oliveira Barbosa disse...

Parabéns pela leitura de uma trilogia completa. Ler trilogias, séries é um desafio para mim. Já comecei várias, mas acho que nunca terminei nenhuma rs.

Carlos Faria disse...

Não é fácil mesmo e mais difícil se não forem na nossa própria língua, além do tempo sobre variantes em torno de um tema, acresce a saudade que cresce em voltar à nossa língua.