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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Estruturas e Instituições Culturais no Faial 3 - O CONSERVATÓRIO REGIONAL DA HORTA

Situado num dos belos edifícios do complexo de imóveis construído pela Alemanha, no início do século XX, para controlo dos cabos de comunicação submarinos que uniam aquele país à América do Norte; o Conservatório Regional da Horta tem sido um dos responsáveis pelo aumento de qualidade na interpretação musical das filarmónicas do Faial, pelo aparecimento de reportórios cada vez tecnicamente mais exigentes em muitas das nossas bandas, pelo despertar da vocação musical em vários jovens e descoberta de talentos neste campo das artes.Com um corpo de professores provenientes de vários países europeus, com predominância para o leste europeu e itália, além de alguns faialenses, este conservatório forma musicalmente jovens e adultos em domínios tão diversos como interpretação em instrumentos regionais, de orquestra, de filarmónica, piano e voz.
Sem o Conservatório não teria sido possível a revolução musical que se tem assistido no Faial e que se alastra às várias formas de expressão como orquestras de câmara, orquestras ligeiras, bandas filarmónicas, tunas, grupos de folclore, música popular portuguesa, grupos de cantares, corais e mesmo em tocadores de pop e rock...
A partir daqui sairam tocadores que efectuaram experiências musicais de intercâmbio e cooperação, dentro da ilha e desta com o exterior, que só pode beneficiar a todos e, sobretudo, a MÚSICA.

domingo, 27 de janeiro de 2008

TEATRO NA RIBEIRINHA

No passado, apesar da escassez de bens económicos, a Ribeirinha do Faial era rica em actividades culturais e o teatro era uma das formas mais queridas da população. No passado, muitos jovens ensaiavam ao longo de várias noites comédias cheias de crítica social e denúncia dos principais problemas que a comunidade sentia. Por vezes o suscesso alcançado era motivo para digressões do grupo pelas várias localidade da ilha e fonte de um intercâmbio saudável de pessoas.
Hoje, esta forma de expressão é cada vez mais rara, mas não morreu... integrado na "Semana Desportiva e Cultural da Ribeirinha 2008" (um projecto conjunto da iniciativa do Município com o INATEL e que percorre todas as freguesias do Faial), neste fim de semana, elementos de Centro de Convívio de Idosos, com alguns colaboradores mais jovens, levaram à cena uma obra original - "Um Funeral Anulado" - cujo guião foi escrito propositadamente para o momento e a versão final do texto fruto do trabalho desenvolvido pelos actores ao longo dos ensaios.

As confusões, uma caricatura dos muitos vícios no seio das comunidades actuais

As confusões avolumam-se e as críticas também.

Intercâmbio de gerações na realidade...

... e os conflitos entre elas em teatro.

Formas distintas de encarar a vida e os problemas.

Nestes serões há sempre um final feliz e uma lição moral a tirar.

Outro grupo, constituído por pessoas que lutam por manter vivas as tradições desta comunidade, apresentaram outro retrato crítico da sociedade actual, com a pequena peça "A Consulta", onde mostraram que o próprio povo reconhece muitos dos aspectos criticáveis desta sociedade que integra.
Os serviços de saúde e o sistema de segurança social

e as suas ligações perigosas....

Pelo esforço, pelos momentos hilariantes e pela capacidade de denúncia, ficam aqui os parabéns e votos para que as tradições culturais desta freguesia se mantenham vivas.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O FAIAL CORTADO À FACA VI - A falha da Ribeira do Rato

Enquanto a sul da Pedro Miguel as lombas estão associadas a falhas geológicas que provocam uma vertente sul pouco inclinada e outra a norte muito abrupta, o que indica que as zonas a norte abateram em relação a sul, depois de se atravessar o "vale" desta freguesia, ocorre uma situação simétrica face à parte meridional da ilha.
Pequena lomba a norte da Ribeira do Rato, altamente inclinada para sul, indicando que agora é o bloco sul que se encontra abatido e que a falha da Ribeira do Rato inclina para sul.
Agora, é a vertente norte da lomba que apresenta um declive mais suave, contrariamente às lombas a sul de Pedro Miguel.


Aproveitando perturbações no plano da falha da Ribeira do Rato, instalou-se nesta vertente sul uma antiga rua, que sobe quase na perpendicular à lomba, daí resultou uma via muito íngreme, que devido à sua inclinação se chama "rua do Calvário", para lembrar a dificuldade da subida, à semelhança do relato bíblico da paixão. Um efeito da geologia na toponímia da ilha.

Ao chegar ao plano de falha a estrada muda de direcção quase 90 graus, neste caso para a esquerda, situação semelhante ocorre em todas as vertentes inclinadas das lombas do Faial.

Na parte leste do Faial, onde se situam as lombas, a principal via que circunda o Faial, por vezes desenvolve-se quase na perpendicular à costa, sobretudo nas vertentes mais inclinadas onde se situam as falhas geológicas. Assim, estas implicaram uma mudança brusca nas direcções da Estrada Regional para contornar os degrau dos acidentes geológicos e de modo a se obterem declives mais adequados à circulação automóvel. Um elemento que mostra como a geologia a interfere com o ordenamento do território, mesmo que os homens não tenham consciência do facto.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Estruturas e Instituições Culturais no Faial 2 - O CINECLUBE DA HORTA

O Cineclube da Horta faz hoje 5 anos e por isso: PARABÉNS!
O Cineclube da Horta é uma consequência da evolução cultural no interior da sociedade faialense, procura não só satisfazer aqueles que não se limitam a ver a componente lúdica do cinema, embora não a exclua, como também ser uma instituição onde se discutem ideias e se mostram caminhos estéticos alternativos, além de promover a formação nas artes cinematográficas e o estabelecimento de intercâmbios com instituições locais e externas para desenvolver actividades culturais de qualidade.

A Direcção do Cineclube da Horta é composta por pessoas que não ficam a aguardar que as instituições oficiais organizem eventos culturais. Estas, arregaçam as mangas, idealizam acções e procuram os meios, económicos e instititucionais, para tornar realidade os seus projectos. Assim, além da exibição semanal de filmes no Teatro Faialense e de acções de formação, é de destacar a idealização e organização do Festival de Curtas Metragens Faialense: Faial Filmes Fest.

O Faial Filmes Fest começou pequeno, sobretudo com aprendizes locais de cinema e seus professores, transbordou para o âmbito nacional, onde já é uma referência no seu género e, se tal for possível, sonha dar passos cada vez maiores. Hoje consegue cativar grande número de jovens para a apresentação de trabalhos, despertar um público local sedento de ver as obras dos seus conterrâneos e trazer órgãos de comunicação social de âmbito local, regional e mesmo nacional.
Entre as obras concorrentes, produzidas localmente e não só, existem vencedores de outros concursos de referência, mostrando a qualidade do que aqui de apresenta.

Momento da exibição do filme de Dziga Vertov (fonte: homepage do Cineclube da Horta)

O último Faial Filmes Fest terminou em beleza com a exibição do filme histórico "O homem da câmara de filmar" de Dziga Vertov, com música ao vivo, tocada por professores do Conservatório de Angra do Heroísmo e composta pelo picoense Antero Ávila, mostrando como é possível os vários campos da cultura e ilhas desenvolverem projectos conjuntos.
Por tudo isto, numa instituição discreta, que só agora completa meia década e com um número limitado de sócios, é caso para se louvar a dinâmica deste Cineclube e dizer: Parabéns pelo Aniversário e pela Obra até hoje realizada!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

RECITAL DE CANTO E PIANO - uma voz expressiva e bem acompanhada

Realizar um recital lírico completamente em português, iniciando com Marcos Portugal, passando por compositores pouco conhecidos do Brasil, prosseguindo com músicos nacionais, aventurando-se por arranjos do folclore açoriano e concluir com as trovas de Francisco Lacerda, não é fácil! Mas Sandra Medeiros conseguiu completamente o objectivo de cativar e encantar o público.
Foi dona de uma voz segura e muito agradável, a que se associou uma grande capacidade expressiva. Deste modo, Sandra Medeiros enriqueceu todas as canções que apresentou, enquanto Francisco Sassetti, ao piano, soube valorizar convenientemente a música e, sobretudo, as potencialidades da voz.
Pode ser difícil ser-se conhecido como cantor lírico de Portugal, mais ainda se proveniente dos Açores, mas que estas terras têm vozes de qualidade, que dignificam a música, lá isso têm! Neste blog já é a terceira grande surpresa agradável neste domínio, como já tinham sido os casos de Ana Ferraz e José Corvelo, este também açoriano e natural da ilha das Flores.
Quem tiver oportunidade de ouvir a voz de Sandra Medeiros, aproveite!

domingo, 20 de janeiro de 2008

NEVES DO PICO

Após uns dias de verdadeiro inverno, eis que a montanha do Pico se apresentou este fim-de-semana totalmente livre de núvens e com as primeiras neves bem visíveis de 2008, embora não muito extensas.

O Pico visto da Avenida Marginal da Horta

A montanha do Pico, um vulcão poligenético que ainda não evoluiu para formar uma caldeira, como a do Faial, é um autêntico farol do Triângulo, devido à sua altitude de 2351 m, e é sempre bonita de se ver em qualquer uma das três ilhas que compõe esta sub-região. Contudo, vê-la de manto branco e completamente exposta, o que não é muito frequente, atrai sempre o olhar, mesmo para aqueles que cá vivem permanentemente.
Resta saber se com as mudanças climáticas este cenário tenderá a desaparecer..., pelo seguro, fica o registo desta realidade no início do século XXI

sábado, 19 de janeiro de 2008

VULCÃO DOS CAPELINHOS - a Cratera há 50 anos

Tal descrito neste blog, desde o início da erupção dos Capelinhos, em Setembro de 1957, este vulcão apresentou períodos de elevada explosividade devido à entrada da água do mar no interior da chaminé vulcânica, que não só formou uma ilha, como a destruiu, a reconstruiu, emitiu escoadas de lava e, já no início de Janeiro de 1958, projectava grandes blocos de rocha que atingiam a ilha do Faial na zona do Farol.
Mesmo assim, havia quem se aventurasse a subir às encostas íngremes de cinza vulcânica da nova terra, espreitar para o interior da cratera e tirar a foto abaixo exposta!
[Foto publicada em: Machado, F. e Forjaz, V. H. (1968) "Actividade Vulcânica do Faial - 1957-67" Ed. Com. Reg. Turismo Distrito da Horta]

Graças a estes corajosos, ou talvez inconscientes do risco, pode-se ver o vapor a sair da cratera inundada de água, esta ao entrar na chaminé e ao encontrar magma, com elevadas temperaturas, gerava as importantes explosões típicas dos vulcões submarinos de pequena profundidade, actividade eruptiva descrita como do tipo Surstseyano = Surtsiano.
Esclarece-se que um vulcão em período eruptivo pode parecer calmo num dado momento e quase de repente iniciar uma explosão, embora mecanismos de vigilância permitam prever uma ocorrência deste tipo com alguma antecedência, o que dificilmente dará tempo para uma fuga atempada para uma distância segura. Dificuldade que eu próprio já senti e onde a sorte nos protegeu, o que sempre recordo com grande emoção, mas, noutros casos, o azar bateu mesmo à porta!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O FAIAL CORTADO À FACA V - Falha da Lomba dos Frades

Na Lomba da Espalamaca, referida no anterior post desta série (ver mapa) ao olhar para norte, vê-se, a partir da base da escarpa em degraus, um vale assimétrico no qual se instalou a freguesia da Praia do Almoxarife. O outro lado da vertente é largo, sobe suave e progressivamente para norte e culmina na crista da Lomba dos Frades, assinalada com um traço vermelho. (clique nas fotos se pretender a sua ampliação)
Freguesia da Praia do Almoxarife, vista do cimo da escarpa e lomba da Espalamaca

Todavia se prosseguirmos viagem, depois de subirmos a suave Lomba dos Frades, deparamo-nos com outro degrau abrupto para o lado norte, o que é resultado de mais uma importante falha geológica, a terceira desta série acidentes geológicos, paralelos e responsáveis pela formação destas lombas com forte inclinação da vertente norte mas mais suaves do lado sul. Na base desta última estrutura existe um outro vale largo, sem qualquer declive lateral específico e onde se instalou a freguesia de Pedro Miguel.
A escarpa da Lomba dos Frades, vista da Estrada Regional em direcção ao mar, onde se observa a grande inclinação deste lado quando comparado com o lado sul. Ao fundo a ilha do Pico e os ilhéus da Madalena.

Pormenor da grande inclinação do lado norte da Lomba dos Frades, observada da Estrada Regional, junto à base da escarpa e já na freguesia de Pedro Miguel.

O lado norte da Lomba dos Frades, vista a partir da Estrada Regional em direcção do interior da ilha (Leste), nalguns locais esta escarpa de falha parece mesmo ter sido cortada à faca .

A partir da falha da Lomba dos Frades uma mudança significativa ocorre, mas isso fica para outros momentos, contudo essa modificação colocou, definitivamente, o nome de Pedro Miguel na geologia do Faial.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Recital de Canto e Piano - novos elementos

Na sequência do post de ontem e após uma pesquisa na internet, eis algumas páginas relativas aos protagonistas do recital de Canto e Piano a realizar no próximo dia 19 no Teatro Faialense:

Sobre Sandra Medeiros, uma soprano açoriana


Sobre Francisco Sassetti

Face aos curricula, continuo cada vez mais a considerar que vale a pena aproveitar esta proposta musical.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

RECITAL DE CANTO E PIANO no Teatro Faialense

Na sequência de um pedido da Câmara Municipal da Horta e com muito gosto o faço, divulga-se neste espaço o Recital de Canto e Piano a realizar no Teatro Faialense, no próximo dia 19 de Janeiro, pelas 21:3o h.
Custo do bilhete de entrada: 5 euros.
(clique para ampliar o cartaz)

Não conheço nem a soprano, nem o pianista, embora o nome de família deste último seja imensamente conhecido. Assim, se alguém tiver algum informação a dar sobre os mesmos, desde já se agradece.
O programa apenas fala de Canção em Português. Não sei se o jorgense Franciso Lacerda, de quem muito gosto, estará incluído no reportório ou algum compositor luso contemporâneo, como Fernando Lopes Graça, ou outro mais antigo fará parte do recital, mas certamente é uma oportunidade para se conhecer o que se faz ou se compôs no nosso País ao nível do canto lírico. Eu pelo menos conheço algumas canções que, apesar de mal divulgadas entre nós, são de grande interesse e beleza... fica aqui o convite.
Conheça a nossa cultura, aproveite e disfrute!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O FAIAL CORTADO À FACA IV- Falhas da Espalamaca e do Facho

Prosseguindo para norte nesta cobertura das falhas na metade oriental do Faial, depois da falha responsável pela Lomba do Cruz do Bravo, encontramos a Lomba da Espalamaca, a qual tem a particularidade da sua escarpa continuar inclinada para norte, mas ser composta por dois degraus, devido à existência de duas falhas geológicas na sua zona mais próxima da costa: a Falha do Facho, que forma o degrau inferior e de maior dimensões e a Falha da Espalamaca, na parte superior e com menor desnível. (clique nas fotos para as ampliar)Na sua zona mais litoral, esta estrutura apresenta uma grande imponência na paisagem, e os dois degraus dão uma aparência de suavisar a inclinação para norte destas duas escarpas de falha sobrepostas. Junto ao litoral encontra-se a Praia do Almoxarife que dá o nome à freguesia mostrada na foto e já no mar situa-se a zona de desgaseificação submarina cujo vídeo de Marco Santos foi aqui mostrado em Agosto, já no extremo da foto vê-se parte da costa a ilha do Pico.

Depois do segundo degrau deixar de ser visível mais para o interior da ilha sobre a vertente norte, a falha do Facho marca de forma abrupta a paisagem e a zona é uma das que parece cortada à faca, sinal de que estamos perante uma falha que sofreu rupturas geológicas recentes, onde a erosão pouco afectou a cicatriz e um indicador de ser uma estrutura geológica potenciamente geradora de sismos.
Agora do topo da Lomba da Espalamaca, na zona do Miradouro da Horta, os dois degraus são muito evidentes... ao fundo as vertentes do vulcão da Caldeira e a localidade de Chão Frio, parte integrante da freguesia da Praia do Almoxarife.
Para quem teve dificuldade em distinguir os dois degraus, na foto acima, o degrau inferior, formado pela escarpa da falha do Facho, está grosseiramente indicado por traços a vermelho, enquanto a escarpa da falha da Espalamaca está indicada a rosa. O ponto amarelo corresponde ao local da foto abaixo.
Na foto imediatamente acima, está indicado a rosa o topo da escarpa da Espalamaca. A vermelho a vertente abrupta e muito inclinada para norte da falha do Facho. A amarelo mostra-se vertente suave para sul resultante do relevo natural não afectado pelos dois acidentes tectónicos descritos neste post.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Estruturas e Instituições culturais no Faial 1 - O TEATRO FAIALENSE

Inaugurado em 1856, o Teatro Faialense foi durante mais de um século uma das principais infraestruturas particulares de apoio à cultura na ilha do Faial, tendo entrado em elevado estado de degradação durante a década de 1970, o que conduziu ao seu encerramento.
Os moldes de aquisição municipal e da respectiva recuperação foram nos anos de 1990 motivo de acesa querela política que não dignificou nenhum dos intervenientes, atrasou o processo e impediu a compatibilização de ideias diferentes com aspectos complementares e válidos, o que teve custos sociais e económicos para toda a ilha.
Após seis anos de obras o Teatro Faialense é recuperado e abre novamente ao público em 2003 como um complexo cultural: um pequeno auditório, sala de espectáculos, bar e outros anexos de apoio. A sua exploração fica a cargo da então recém-criada empresa municipal Hortaludus.
A recuperação arquitectónica do imóvel é digna de louvor, a utilidade do espaço como infraestrutura de apoio ao cinema, teatro, dança e música, bem como para o convívio social do bar anexo, são uma aposta ganha. As ideias de aproveitamento do complexo como espaço de congressos uma aposta perdida.
Hoje, o Teatro Faialense é o principal pólo de onde se mostra a dinâmica cultural do Concelho da Horta, sendo sobretudo frequentado por jovens e interessados e dinamizadores da cultura, mas onde os principais autores das antigas querelas raramente são vistos em eventos culturais.
Aqui passam os maiores vultos musicais e do teatro que visitam a ilha, aqui é exibida toda a actividade cinematográfica da ilha promovida pelo Cineclube da Horta e pela Hortaludus, aqui se desenrola o Faial Filmes Fest e aqui se mostram os frutos do ensino artístico da ilha.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O FAIAL CORTADO À FACA III - Falha da Cruz do Bravo ou dos Flamengos

Se na arriba costeira muitas das principais falhas do Faial não são muito evidentes, no interior da ilha, sobretudo na sua metade oriental, quer em mapa, quer na morfologia da paisagem, observa-se um conjunto de falhas paralelas, que vão desde a zona sul até à costa norte da ilha.
A mais meridional é na Feteira e não é muito evidente em fotografia...
Nos Flamengos surge a primeira grande cicatriz de uma falha, conhecida por uns como "Falha dos Flamengos", outros dão-lhe o nome da lomba por ela formada "Falha da Cruz do Bravo".
A falha da Cruz do Bravo é uma falha normal e inclinada para norte (ver tipo de movimentos de falha). Na foto é visível que a zona mais escarpada fica para a direita (norte na foto). O pormenor da inclinação é importante por reflectir a estrutura tectónica do Faial mais importante (tectónica em geologia está relacionado com estudo dos movimentos das falhas e das rochas).
Para quem não vê a falha desenha-se abaixo a sua escarpa com um conjunto de linhas paralelas vermelhas.
À esquerda da foto é a zona plana onde se instalou a freguesia, que ficou preenchida pelos materiais das últimas explosões da Caldeira, por ser uma bacia defronte deste vulcão, os quais soterraram grande parte da escarpa. A existência de um degrau no terreno até ao limite da foto aponta que esta falha geológica já esteve activa após ter sido coberta, um sinal de alerta para se observar e analisar a sua perigosidade sísmica.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

CAPELINHOS - a queda dos grandes blocos

Mantendo o compromisso de todos os meses relatar o que foi o vulcão dos Capelinhos nesse mês há 50 anos ao longo deste período das comemorações da erupção, retoma-se hoje a descrição da sua actividade no, com referência ao início de Janeiro de 1958.
[Texto parcialmente fundamentado e foto publicada a partir de: Machado, F. e Forjaz, V. H. (1968) "Actividade Vulcânica do Faial - 1957-67" Ed. Com. Reg. Turismo Distrito da Horta]

As camadas de lava basáltica formadas durante as primeiras manifestações estrombolianas a 16 de Dezembro de 1957 foram, no período perto da passagem de ano, de 1957 para 1958, totalmente destruídas por explosões.
Este material fragmentado deve ter sido a matéria prima que permitiu a queda de grandes blocos de rocha em torno do Farol da já então arriba fóssil do Costado da Nau, os quais se misturavam com outros fragmentos de lava ainda juvenil, mais ou menos incandescentes... o vulcão começou assim a mostrar a sua força e a ser um perigo para os mais afoitos espectadores.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA - que lugar para as Ciências da Terra?

Até meados do século passado sabe-se que a divulgação científica era considerada um trabalho menos nobre no campo das pessoas ligadas às ciências.
Depois o impacte de grandes obras de divulgação científica, em livros ou na televisão, de Richard Dawkins, Carl Sagan, Steve Hawking, David Attenborough e muitos outros, ou de denúnica de problemas ambientais, como "A Primavera Silenciosa" de Rachel Carson, mostraram a importância da divulgação do conhecimento científico, de uma forma acessível ao grande público, como meio para se valorizar a ciência, cativar novas gerações de investigadores, fundos para os projectos a implementar e catapultar o conhecimento e o progresso das sociedades.
Na minha opinião, em Portugal a Divulgação Científica nunca foi um instrumento valorizado e um dos campos onde mais se sente essa lacuna é nas Ciências da Terra.
À excepção de alguns programas ligados ao 50º aniversário dos Capelinhos ou ao terramoto de Lisboa e de alguma informação de apoio nalguns programas sobre ambiente, a Geologia, Geografia física, Geofísica e Geomorfologia, etc. estão ausentes dos programas de televisão, jornais e livros de Divulgação Científica produzidos nacionalmente.
A título de exemplo e não de bairrismo, no trimestre que antecedeu ao presente Ano Internacional do Planeta Terra, a CBC, o canal de serviço público de rádio e televisão canadiano, apresentou, com grande pompa e divulgação nas duas línguas oficiais federais, uma série de cinco episódios, em horário nobre, sobre a Geologia do Canadá, com o nome "Geologic Journey" ou "Odyssée Géologique" para preparar o grande público para as comemorações a decorrer ao longo do presente ano.
Hoje a série está disponível em dvd e à venda em todas as principais lojas de produtos deste suporte audiovisual naquele país.
Em Portugal que se passa?
As orlas Mezocenozóicas, a Zona Centro-Ibérica, a Faixa Piritosa Alentejana, o Vulcanismo das Ilhas, a Tectónica e Sismicidade em Território Nacional, entre outros assuntos, não dariam temas para séries televisivas de modo a dar a conhecer ao povo português as principais características do chão nacional?
No momento em que as Ciências da Terra parecem preteridas, face a outras matérias no ensino básico e secundário, a quem interessa este tipo de desconhecimento sobre o nosso País?
Quem olha os eventos da página nacional das comemorações do Ano do Planeta Terra, vê que a maioria dos acontecimentos já ocorrem nos anos normais e apenas a dinâmica de alguns núcleos de professores permite uma concentração de acções nalgumas regiões, como no caso de Leiria (parabéns!).
Na internet, a divulgação está sobretudo a cargo de alguns blogs pessoais e escolas. Não parecem existir páginas de instituições com conteúdo e diversidade tipo USGS, Smithsonian Institute ou outras típicas de países onde o conhecimento é a alavanca para o progresso nacional.
A quem interessa esta falta de um sistema forte de divulgação científica em Portugal, com destaque para as Ciências da Terra?
Alguém dos profissionais ligados a este campo de saber está a fazer algo para mudar esta situação em Portugal?
Com esta lacuna alguém pode admirar-se com a pretensa desvalorização nacional dada às Ciências da Terra?
Dúvidas que talvez não terei resposta, mas que já não mais posso em consciência calar.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

PRESÉPIOS E RANCHOS DE NATAL NO FAIAL

No Faial, desde criança que os meus primeiros dias do ano eram passados a ver presépios tradicionais em casas particulares, muito deles disponíveis à população em geral, que visitava estes monumentos efémeros, percorrendo de rua em rua e, mais recentemente, de lugar em lugar, onde se retratava o nascimento do Menino Jesus e as tradições locais.
Hoje, os presépios estão cada vez mais raros. Existem concursos para a tradição se manter... mas o que não é feito por amor tende a desaparecer e estas obras de arte estão presentemente em vias de extinção e ninguém ainda aprendeu a cultivar, novamente, na população faialense a paixão pelo presépio. (clique nas fotos para as ampliar)Entre os poucos que encontrei destaco o presépio situado na Estrada Regional, no lugar dos Espalhafatos, freguesia da Ribeirinha; onde, através de figuras animadas, estão presentes todos os ingredientes indispensáveis ao presépio: a cena da gruta, os pastores e os reis magos, bem como a maioria das artes, ofícios e folclore típico das nossas comunidades rurais, como curiosidade, também um vulcão activo e em erupção.
Se os dias eram para se ver presépios, os serões eram para ouvir os ranchos de Natal. Sempre me lembro de existirem dois tipos:
- os ranchos zabumbas (sei que o termo também existe no Continente) onde nos instrumentos musicais predominam a percursão com tambores, caixas, ferrinhos e castanholas; acompanhados de flauta (pífaro) e, mais recentemente, harmónicas; e
- os ranchos tunas, onde predominam as cordas com destaque para os bandolins e violas.
Ambos formas de expressão musical tradicional em declínio e onde os concursos, nos moldes habituais, não têm sabido cultivar o orgulho e o prazer com que estes ranchos eram alimentados nas nossas comunidades antigamente. Na foto acima o rancho tuna da Feteira, o único que até ao momento tive o prazer de ouvir em 2008.