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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

"O Mistério de Sittaford" de Agatha Christie

 

Acabei de ler mais um livro do género policial da genial escritora inglesa Agatha Christie: "O Mistério de Sittaford".

Numa pequena aldeia isolada, durante um nevasca, um grupo de vizinhos reúne-se em convívio e decide fazer uma sessão de espiritismo onde é anunciado o assassinato de Trevelyan que se encontra a 10 km de distância, imediatamente o seu maior amigo não deixa passar o assunto em branco e vai a pé confirmar o facto. Depois disso, o inspetor Narracott decide prender um sobrinho da vítima endividado que o foi visitar à hora do crime e fugido, mas a namorada deste está convicta da sua inocência e com um jornalista decide investigar até à descoberta da verdade.

Este é um dos romances de Agatha Christie onde a investigação não é protagonizada pelos seus personagens mais comuns: Poirot e Miss Marple, o que é bom, pois imprime um estilo diferente sem perder o suspense típico desta escritora que possui uma escrita escorreita mas nunca com a genialidade da sua criatividade da literatura policial.

Um romance de entretenimento simpático, fácil que gostei e recomendo a qualquer leitor, sobretudo aos amantes do género policial.

sábado, 18 de dezembro de 2021

"AUGUSTUS" de John Williams

 


Excerto

"Os princípios fortes emparelhados com uma disposição azeda podem ser uma virtude cruel e desumana."

Acabei de ler a obra ficcionada e vencedora do Book Award de 1973 do americano John Williams "Augustus".

Um romance histórico que faz uma biografia do imperador romano César Augusto, cujo nome era Caio Otávio. A grande particularidade desta ficção é o seu género epistolar, toda a vida do protagonista resulta  da montagem das cartas de intervenientes que falam do imperador ou da sua vida pessoal sob a influência deste e inclusive missivas do próprio Augusto a falar das suas decisões, sentimentos e impressões das pessoas com quem estava envolvido.

Sendo Augusto uma personagem histórica os principais aspetos e figuras secundárias estão condicionados aos factos do passado, contudo o autor assume a sua criatividade em muitos assuntos e algumas acomodações para servir à sua obra. Assim compreenderemos a relação de Marco António e Cleóptera e os objetivos desta como rainha de Egito e amante de senhores de Roma, perceberemos como Augusto conquistou o poder e dominou durante meio século o império e o combate com os seus maiores adversários e assassinos de Júlio César. Tomamos conhecimento do modo de vida romano com os seus vícios, virtudes e abusos bem como a gestão política e militar do império. Sentiremos o choque com a forma como as mulheres da nobreza eram instrumentos políticos dos líderes e como estas poderiam sofrer com isso ou levar uma vida lasciva para compensar a sua necessidade de subserviência à sombra dessas funções. Foi um prazer contactar com os grandes mestre da cultura clássica a descreverem a sua época e a falar da sua obra: Horácio, Virgílio, Mecenas, Ovídio, Estrabão e Nicolau de Damasco, todos eles contemporâneos e próximos de Caio Otávio.

Estilisticamente o autor independentemente da sua grande qualidade de escrita literária, tem o cuidado de elaborar textos com estilos distintos para assim sentirmos as personalidades e as capacidades distintas, as cartas dos pensadores, da filha Júlia de Augusto e de generais ou conspiradores mostram a diversidade e versatilidade de John Williams o que torna este romance não só um retrato de época como uma mostra das capacidades literárias do escritor.

O excerto escolhido, atribuído a Ovídio numa das cartas desta ficção, apenas é contrariado na obra pelo facto de ser necessário qualquer azedume para que a aplicação de princípios, concordando-se ou não com eles, puder ser cruel e desumana como se viu em muitas das decisões de Augusto nesta obra.

Um excelente livro que recomendo a qualquer leitor.