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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Por Budapeste

Nestes dias o blogue tem andado sem vistorias minhas, pois ando em férias por Budapeste. Hungria.





 Cidade muito bonita, com monumentos marcantes construídos ou redesenhados sobretudo no século XIX, com forte imponência sobre o Danúbio.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

"Um Estudo em Vermelho" de Arthur Conan Doyle

Acabei de ler aquele que terá sido a obra em que o escritor inglês Conan Doyle criou a personagem do investigador Sherlock Holmes que se tornou na principal referência mundial de detetive na literatura policial. "Um Estudo em Vermelho", é assim não só a obra do aparecimento deste investigador, como também da apresentação deste ao seu futuro e fiel companheiro de aventuras Dr. John Watson, sendo este o principal narrador do livro.
John Watson estabelece-se em Londres após ser ferido na guerra do Afeganistão, procura um alojamento condigno ao nível dos seus rendimentos, então um amigo apresenta-o a um conhecido que pretende partilhar as despesas do seu apartamento: Sherlock Holmes, um assíduo do laboratório por interesse de segredos de medicina legal e venenos. Após se conhecerem aceitam viver no mesmo domicílio, este impressiona-o pelas suas deduções e explica-lhe a sua metodologia de análise de crimes. Eis que pouco depois um inspetor policial pede-lhe ajuda na resolução de um homicídio ocorrido numa casa vazia, sem marcas de violência sobre a vítima mas em que este espelha o terror de quem sabe que está a ser morto. Logo Sherlock convida-o ao acompanhar e a assistir ao seu trabalho e troca com Watson as suas induções e deduções, enquanto o polícia e um seu rival da esquadra esgrimam esforços de obtenção de louros em parte à custa dos trabalho de Holmes, mas eis que um segundo assassinato vem destruir todas as teorias dos agentes oficiais e o nosso detetive brilha com a captura do criminoso. Dá-se então um salto no tempo onde se conhece as causas distantes no EUA para o ato de vingança agora perpetrado em resultado de uma injustiça gerada na época do estabelecimento dos mórmones no Utah e edificação da sua capital Salt Lake City que sem dúvida Sherlock conseguiu induzir através das suas pesquisas.
Mesmo não sendo uma obra de plena maturidade de Conan Doyle, gostei do romance, é de fácil leitura e já todas as premissas do que foi a sua obra literária no campo policial surgem enunciadas neste romance, que vale ainda por se conhecer ao nascimento desta dupla e a apresentação do seu estilo único.


domingo, 13 de outubro de 2019

"Autobiografia" de José Luís Peixoto

Excerto
"... os segredos sem alguém que os guarde são o desconhecido."
"Muitas vezes , os outros não nos deixam mudar porque não estão dispostos a mudar a forma como nos veem, fazê-lo  implicaria que eles próprios mudassem."

Já foram muitos os livros que li do atual escritor Português José Luís Peixoto (JLP). Aliás, foi com ele que despertei para a literatura que se ia fazendo neste País no início do século XXI pelas novas gerações, logo, sempre que leio quem já tanto me impressionou qualquer nova leitura arranca numa perspetiva elevada. "Autobiografia", tão divulgado e cheio de elogios críticos nos OCS, obriga-me a que a minha apreciação a este livro tenha de ser liberta de ambos efeitos.
"Autobiografia" recentemente publicado passa-se em 1997/98 quando José, um jovem com vontade de se tornar num bom escritor, com apenas o seu primeiro romance publicado, pretende escrever o segundo e se vê perante a encomenda de fazer uma biografia ficcionada do já reconhecido autor José Saramago e com este entra em contacto para levar a cabo esse trabalho. Paralelamente, Saramago não só lê em segredo o único livro de José como revê nele as suas angústias e potencialidades de iniciante na arte literária no começo da carreira. Decide então ajudá-lo sem José se aperceber, até porque este também está a lutar com vícios privados que o conduz a situações extremadas e uma relação amorosa  que perturbam a sua perceção da realidade.
A partir destes temas JLP constrói uma teia de textos que intercalam pura ficção, apresentação de aspetos reais da vida de Saramago até à atribuição do prémio Nobel e ainda reconstruções imaginadas do passado deste, a que mistura o dia-a-dia da personagem José e das pessoas à sua volta, família, amante e amigos, bem como excertos do seu trabalho biográfico e descrição dos contactos dele com o escritor. Deduz-se a integração e recriações das memórias do verdadeiro intercâmbio ocorrido entre Saramago e JLP, em parte associado à atribuição do prémio Saramago a este, então um jovem escritor e recebido pelo seu segundo romance.
Assim, este livro com influências pós-modernas de fusão da ficção com a realidade, a inclusão de notas de rodapé do protagonista sobre o texto que estaria a escrever, a menção de obras importantes de Saramago e uma escrita criativa que mistura estilos distintos para expor realidades diferentes e ainda com a própria forma de escrever de JLP, que no presente já não consegue me surpreender como nos seus primeiros livros. Tudo isto gera um jogo de espelhos da admiração de JLP a Saramago e o respeito deste àquele demonstrado quando da aproximação entre os dois, a que acresce as angústias de um escritor enquanto jovem versus a maturidade do idoso reconhecido já como mestre.
Nem sempre leitura é fácil, não só porque este jogo de espelhos nem sempre é evidente no início de cada parágrafo, como também os saltos no tempo e entre a realidade e a ficção levam a que o leitor se possa perder ou estranhar o teor da narrativa numa escrita que não perde a criatividade e poesia na diferentes formas. Gostei e para quem gosta dos dois escritores por trás desta obra ou queira conhecer as dificuldades desta carreira recomendo este romance, cheio de particularidade e originalidades.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

"Um Crime na Exposição" de Francisco José Viegas


Excerto
"A Expo  é esse desígnio e nada a pode prejudicar, nem um crime, nem dois, nem, muito menos, três crimes como parece ser o caso. Três crimes destes seria a glória de qualquer romancista, evidentemente, não se desse o caso de estarmos a falar de Expo."

"Um crime na Exposição" de Francisco José Viegas (FJV) é o segundo romance deste escritor que leio. Uma personalidade pública dos média portugueses e se a primeira obra me tinha interessado, a segunda fez-me render ao seu  estilo particular de literatura policial.
O inspetor Jaime Ramos foi remetido do Porto para Lisboa durante a Expo'98 como pena de uma exaltação excessiva com um criminoso. Na Exposição ocorre o crime de um biólogo marinho encontrado no aquário, um investigador de rocaz-dos-Açores e a quem lhe cortaram um dedo do pé. Dois dias a seguir uma colega do oceanário, mexicana e amante daquele, também estudiosa da mesma espécie, é morta com evidências do crime ter sido perpetrado pelo mesmo autor. Segue-se o assassínio de uma arquiteta paisagística desta feira. Tal série tem o risco de gerar um escândalo que estoire o desígnio de Portugal neste evento. Entretanto, líderes políticos aproveitam-se para atacar o governo, existem relações diplomáticas em perigo por as vítimas estarem ao serviço de diferentes países ou terem aparecido em pavilhões de Estados estrangeiros. O protagonista - desenraizado do seu Porto nesta capital que lhe é estranha, com o seu vício por cigarrilhas dos Açores, a sua paixão pelo seu clube e com o seu habitual ajudante Isaltino de Jesus - vê uma teia que envolve amor, traição e espionagem científica internacional, ausculta o subinspetor Filipe Castanheiro em Ponta Delgada sobre as atividades universitárias nos Açores das vítimas, onde um cadáver é descoberto aparentemente sem qualquer relação e um professor disserta sobre estes jovens.
A originalidade da narrativa de FJV está que a investigação policial não gera um suspense acelerado. A intriga é um acessório que se vai desenrolando aos poucos, com pistas e descobertas ao ritmo do dia-a-dia, sendo atravessada por divagações, comportamentos e palavras das personagens sobre a solidão e o envelhecimento masculino; as paixões e os vícios dos portugueses, e à descrição poética da beleza geral e dos recantos magníficos que existem nos locais da ação. Uma divulgação dos principais atrativos do País e Regiões citadas.
Na narrativa há ainda a interferência de personalidades e entidades públicas reais que agem de forma coerente com a imagem delas e, de uma forma saudável, expõem-se as rivalidades conhecidas entre as instituições as pessoas mencionadas, fazendo-se uma crítica com humor à sociedade portuguesa.
Não conheço nenhum açoriano que descreva de forma tão encantadora e solitária a ilha de São Miguel e a cidade do Porto como as personagens criadas nos livros de FJV, cuja força permite que as mesmas atravessem já um conjunto de romances de anti-heróis que marcam o leitor. Por tudo isto gostei muito desta obra que é também um livro de viagens por Portugal e pela Expo'98 com uma escrita bem cuidada e de qualidade, cujo cerne é um romance policial mas não um thriller.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

"A Aventura de um Fotógrafo em La Plata" de Adolfo Bioy Casares

Excerto
"Não há burlador que não seja simpático: é um requisito indispensável para a burla."

Adolfo Bioy Casares é um autor argentino que eu desconhecia de todo e que me foi recomendado por um amigo meu de Minas Gerais. Poucos dias depois cruzei-me numa feira com dois livros dele, embora nenhum coincidisse com a primeira indicação recebida, mas comprei ambos, um de contos, em espera, e este pequeno romance "A Aventura de Fotógrafo em La Plata".
Trata-se de um romance quase novela cujo ritmo vertiginoso associado a uma escrita muito cativante nos prendem à leitura desta estória essencialmente lúdica.
Nicolás Almanza é um ajudante de fotógrafo num bom estúdio de uma pequena cidade, neste um rico encomenda um fotografias para um livro sobre a cidade de La Plata, por coincidência vê um trabalho do jovem e admira a sua qualidade, sendo que cliente e patrão acordam em entregar a cobertura ao aprendiz, que terá todas as despesas cobertas e salário em função da entrega de fotos. Mal Nicolás chega a La Plata conhece uma família, um pai e duas filhas, que logo o acediam, por sua vez todas pessoas com quem vem a cooperar, o seu amigo detetive na cidade com companhias suspeitas de subversão política vão alertá-lo para o perigo da relação sentimental que vai desenvolvendo com as duas jovens e o progenitor que parecem usá-lo com objetivos duvidosos e onde todos o parecem disputar.
Paralelamente vamos descobrindo as descrições de La Plata através dos imóveis fotografados e das embrulhadas que o repórter se vai envolvendo numa sequência alucinante de paixões, ciúmes, conselhos, encontros furtivos e deambulações por restaurantes, ruas e pensões sem vir o dinheiro prometido apesar de persistir em cumprir a encomenda e tudo conduz a um final surpreendente.
Um doce romance divertido e empolgante devido à técnica de narrar e de escrever do autor. Gostei muito como um doce aperitivo à qualidade literária de Casares.