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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Guerra e Paz de Lev Tolstói - Volume 3


O terceiro volume de Guerra Paz, menos romanesco que os anteriores, é até ao momento o mais profundo e rico na análise e descrição das invasões napoleónicas na Rússia, desde a entrada dos franceses no País até à entrega de Moscovo já abandonada dos seus habitantes.
Entre os encontros e desencontros das personagens da aristocracia apresentadas no volume 1, Tolstói intercala capítulos a narrar o avanço francês e reflexões onde justifica a necessidade de se reinterpretar a história dos grandes acontecimentos mundiais. Considera que estes não resultam de um controlo racional e intencional dos grandes líderes, mas antes são o resultado da soma de pequenos acontecimentos, interesses individuais e oportunidades que geram um fluxo que desemboca em eventos significativos que marcam o evoluir da História. Tudo isto é exposto com uma elegância de escrita racional brilhante sem perder a beleza literária, nem se tornar cansativo.
Sem ser o aspeto nuclear do livro, Tolstói ao longo da obra faz o retrato da Rússia de então e uma crítica aos comportamentos sociais: um país completamente dominado pela aristocracia, com uma classe burguesa sem peso e um povo que é uma marionete propriedade dos primeiros, onde as pessoas (almas) são tão propriedade dos donos das terras como se igualmente de bens materiais se tratassem, pelo que os indícios de libertação veiculados pela revolução francesa despertam os alvores de outra que se desenrolaria um século mais tade explicando como se abafa o nacionalismo.
Um escritor visionário?... talvez, ou apenas um alerta à data da escrita face aos sinais que já então vinham de filósofos germânicos.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Guerra e Paz de Lev Tolstoi - Volume 2


A qualidade literária mantém-se, as personagens do primeiro volume regressam todas e vão-se tornando cada vez mais profundas psicologicamente e a componente de análise da sociedade russa, da política e da realidade europeia no período napoleónico enriquece-se.
Se no primeiro volume os momentos fortes são na guerra das armas e nas lutas dos valores nacionais, no segundo domina a paz podre das paixões e da incompreensão nas lutas do egoísmo ao altruísmo e aos valores individuais, por isso é bem mais novelesco, mas lê-se num ápice, tem momentos de elevada tensão na guerra dos sentimentos e novamente termina com uma lição de moral, mas deixa a porta aberta para uma nova sequela.
Cada vez é mais compreensível por que se está perante uma obra-prima da arte literária mundial que não envelhece e recomendável a todos os que amam a Literatura com L maiúsculo, embora o uso frequente e mais ou menos extenso do francês possa ser cansativo na atualidade onde esta língua caiu em desuso de muitos.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Ler ebooks - Obras primas gratuitas

imagem daqui

Sou amante do livro em papel e gosto de comprar não só obras literárias para ler no momento, como adquirir e guardar todas aquelas que gostaria de ler, assim a minha biblioteca vai crescendo em volume a um ritmo maior do que permite as minhas leituras.
Todavia já não excluo de todo o livro eletrónico, sobretudo em duas situações especiais: obras de análise da atualidade política, social ou económica, que se desatualizam com o tempo, que compro nas livrarias virtuais; e clássicos da literatura que não sei se algum dia terei tempo para os ler ou reler, mas que eventualmente poderei ter interesse se estiverem disponíveis, ter necessidade de consultar ou que os gostaria de ter à mão em viagem para uma eventual abordagem, desde que estes estejam disponíveis gratuitamente.
Presentemente, um interessante blogue português "Ler ebooks" tem vindo a publicar em formato epub e para baixar gratuitamente uma série de obras primas nacionais e internacionais cujo tempo fez perder os direitos de autor que importa ter, Isto através de um projeto do agrupamento de escolas de Rio de Mouro. 
As obras vão desde do livro infantil e juvenil como Andersen e Grimm, passando por poesia de Camões a Pessoa, ficção de Eça e outros, cartas históricas como Pêro Vaz de Caminha, série e blogue que recomendo para quem de alguma forma desejar possuir estas obras e esteja minimamente aberto à leitura de clássico no monitor do computador, tablet ou smartphone... uma excelente oportunidade a aproveitar.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PARABÉNS ALICE MUNRO - PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA 2013



Primeiro esclareço que como Canadiano de nascimento e amante de literatura, não só conheço razoavelmente bem a obra de Alice Munro, como desejava há muito que a mesma ganhasse o Prémio Nobel da Literatura e para mim soube da atribuição do galardão a esta contista com a mesma alegria com que soube há quinze anos da atribuição a José Saramago.


Uma escritora do sudoeste de Ontário, os seus livros são na generalidade contos com uma escrita feminina que retratam tensões familiares ou sociais dentro de pequenas comunidades rurais da sua área natal, onde muitas vezes a subserviência forçada do protagonista do conto – frequentemente fragilizado por problema ou deficiência pessoal, convenções sociais ou um comportamento obsessivo de alguem – leva a um desfecho mais ou menos previsível na tentativa de libertação individual.


Os dois livros de Alice Munro e já traduzidos que mais me marcaram foram “O amor de uma boa mulher” que se enquadra no género acima descrito, e a “A vista de Castle Rock” que falei aqui há já mais três anos, bem diferente, é sobretudo a história da sua família desde a Escócia no século XIX até à vida adulta de Alice Laidlaw de solteira em meados do século XX até ao seu primeiro casamento em que se passou a denominar Alice Munro.


Há poucos anos quase desconhecida em Portugal, nos últimos tem aparecido com maior regularidade traduções das obras de Alice Munro pela editora Relógio d'Água, sinal de que a qualidade desta magnífica contista Canadiana está a penetrar nos leitores Portugueses e seguramente muitos mais agora vão descobri-la e verão que vale a pena.


Mais uma vez Parabéns Alice Munro!

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Guerra e Paz de Lev Tolstói - Volume 1


Pensei se haveria de fazer uma abordagem sobre Guerra e Paz de Lev Tolstói logo ao terminar o primeiro volume ou esperar para o fim do romance, mas a importância deste tomo e o facto do mesmo ter uma espécie de conclusão final permitem-me uma resenha inicial antes de completar os seus quatro volumes.
Há já algum tempo que se me vem tornando evidente que a literatura mundial e de expressão portuguesa do século XIX tem obras-primas com uma escrita tão perfeita que são em simultâneo de fácil leitura, excelentes retratos de uma época, uma modelação perfeita das personagens e magníficas lições de ética, moral e crítica social, a que se associa ainda a virtude do seu texto não envelhecer.
O primeiro volume de Guerra e Paz consegue isto tudo na perfeição, expõe a vida aristocrática Russa, com os seus vícios e virtudes no início da época em que Napoleão ameaça toda a Europa e depois entra em guerra com este império do extremo oriental deste Continente. Amor, ciume, inveja, oportunismo, heroísmo, nacionalismo, ingenuidade, manha e altruísmo tudo está presente nesta sociedade que sai da sua fútil calma e abraça a guerra e onde os mais jovens partem para a batalha, enquanto pais e mulheres ficam entre São Petersburgo e Moscovo.
Uma escrita magistral, precisa e elegante num período em que o cultura francesa era o expoente máximo, é este o principal aspeto que torna este livro diferente do presente onde o inglês ocuparia aquele espaço de expressões e textos em francês. O livro termina com uma lição de moral na batalha de Austerlitz, onde se descobre a futilidade da ambição e dos vícios pessoais perante os valores reais da vida humana e da família.
Não há que temer entrar em Guerra e Paz pela dimensão da obra, para quem não se sentir com força para prosseguir esta saga da história das guerras napoleónicas, o primeiro volume tem princípio, meio e fim e dá a oportunidade a quem quiser prosseguir nesta epopeia russa para os volumes seguintes... é o que vou fazer a seguir e entrar no segundo volume.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

DIA MUNDIAL DA MÚSICA - a minha recordação musical mais antiga

Praticamente todos nós temos uma música que nos marcou em criança, que nos ficou na memória e a qual nunca mais nos esquecemos...
Sei que entrava no genérico de um programa de rádio no Canada... talvez para emigrantes. Não sei do que falavam a seguir, mas sei que a recordação musical mais antiga que tenho não é de uma balada de infância, não é de uma canção de cinema na televisão ou de um concerto num arraial de rua... é simplesmente deste tema tão marcante que se desenvolve em forma de sonata neste andamento:
Não é presunção, apenas aconteceu. Teria eu 2, 3 anos... também não sei, precisar. Só que nunca mais deixei de gostar desta música que saía daquele rádio sobre um frigorífico numa cada de emigrantes Portugueses e que me deixava parado, extasiado, enquanto soava e me marcava para sempre...