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terça-feira, 31 de julho de 2007

AVANÇO DO MAR OU RECUO DA ARRIBA?

O litoral marinho é uma das zonas mais dinâmicas à superfície do planeta. As ondas, as correntes marítimas e as águas de escorrência das chuvas estão permanentemente a moldar a linha de costa, nuns locais depositam areias, noutros o mar escava a terra emersa e nestes movimentos os Açores não são excepção.
É fácil ver o mar invadir a Costa da Caparica no Continente e assobiar para o lado, afinal os Açores quase não tem litorais arenosos... Mas rápida ou lentamente o mar também faz recuar as nossas arribas costeiras e a construção na conhecida zona das Barrocas do Mar pode permitir uma bela vista sobre o Atlântico hoje, mas é, seguramente, uma catástrofe amanhã.

No litoral dos Açores o mar não só galga terra, como escava a ilha, o que varia é a velocidade do recuo da arrriba, que pode ser rápido, como na foto acima, deixando suspensas estruturas de moradias recentes.



Então grita-se e vocifera-se contra as autoridades que nada fazem para proteger aquelas casas sobre o mar ameaçadas de servir de moradias à fauna marinha!
E lá se fazem mais uns enrocamentos no litoral como os da foto em baixo, os quais só servem para adiar o problema hoje e agravá-lo amanhã.

Quando a razão diz que devemos viver em equilíbrio com este mundo, até quando os homens e os seus governantes continuarão a lutar para vencer a natureza?

O desenvolvimento sustentável, o ordenamento equilibrado e o bom ambiente não se exige, vive-se! E este só é possível quando todos deixarem os seus egoísmos e agirem para o bem-comum.

domingo, 29 de julho de 2007

GEODIVERSIDADE - Património Natural dos Açores

Na foto abaixo vêem-se os três vulcões da série "Três Vulcões Três tipos de Erupções" e a Baía de Porto Pim. Curiosamente, em cada um dos três lados desta baía há uma rocha de composição basáltica, mas que se apresenta de um modo diferente:
- Em primeiro plano e já erodido pelo mar, temos recifes de escoadas basálticas, na sua cor negra característica, sem dúvida a forma mais comum como as pessoas imaginam o basalto;
- À esquerda a bagacina avermelhada, a qual, devido ao modo como se formou, tem este aspecto granular, mas quimicamente é também um basalto;
- Em frente o tufo vulcânico do Monte da Guia, que apesar de pouco cristalizado, de parecer uma areia cimentada e de ter cor castanha clara (ocre), quimicamente é semelhante a qualquer outro basalto, embora esteja hidratado pela água do mar. (clique para ampliar)

Assim, além da beleza do Porto Pim, este local mostra ainda várias formas como as rochas de composição basáltica se podem apresentar e diferentes tipos de vulcanismo. Ao conjunto dos vários aspectos como a geologia se expõe aos nossos olhos chama-se Geodiversidade e também constitui Património Natural dos Açores, que importa proteger e divulgar!

sexta-feira, 27 de julho de 2007

VULCÃO EM ERUPÇÃO SUBMARINA NOS AÇORES II

Segundo informações acabadas de receber, a expedição científica realizada à zona da eventual erupção submarina nos Açores, a cerca 180 km para sudoeste do Faial, com investigadores da Universidade dos Açores pertencentes ao Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos (CVARG) e ao Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP), não obteve novas evidências da existência da possível erupção anteriormente relatada por pescadores.
Nova expedição ao local será realizada em breve e este blog procurará estar actualizado sobre as eventuais informações que entretanto possam ser prestadas pelas entidades competentes.
O CVARG, ao longo desta semana, teve a sua página oficial muito tempo inactiva por motivos de actualização de software ao nível do Sistema de Informação Geográfica, embora alheio ao facto, fica aqui o pedido de desculpas a todos os que para ali se dirigiram devido a este blog.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

TRÊS VULCÕES... TRÊS TIPOS DE ERUPÇÕES III

O Monte Queimado é uma erupção basáltica, monogenética subaérea, isto é, a sua chaminé, embora próxima do mar, não estava em contacto intenso com a água do mar. A este modo de actividade vulcânica designa-se tipo estromboliano. (Nome proveniente de Stromboli um vulcão e ilha a norte da Sicilia na Itália)


Este tipo de erupções gera explosões mais pequenas que as do tipo surtseyano, pois o efeito do vapor de água é menor, por isso o magma é expelido para o ar em pequenas gotas que arrefecem na subida e caem à volta da chamine, formando os cones de escória, cujos grãos, geralmente com diâmetros de vários centímetros, os açorianos chamam de bagacina, de cor preta a avermelhada (ver explicação) e que podem estar mais ou menos colados em função do grau de solidificação destes quando atingiram o solo.

Na foto abaixo está um pormenor da bagacina, uma moeda de 2 euros serve de escala. Nos livros de geologia portugueses mais antigos a bagacina surgia com o nome de "lapilli", é a mesma coisa em italiano, mas o isolamento das ilhas permitiu inicialmente o uso em Portugal da palavra dos geólogos italianos, em detrimento do termo usado pelos habitantes desta ilhas vulcânicas... felizmente, hoje bagacina já é usado em todos os manuais do país.


terça-feira, 24 de julho de 2007

TRÊS VULCÕES... TRÊS TIPOS DE ERUPÇÕES II

O Monte da Guia corresponde a uma erupção basáltica submarina, isto é, a chaminé por onde sobe o magma está normalmente em contacto com a água do mar, erupção do tipo surtsiano ou surtseyano, embora o seu cone tenha crescido acima do nível do mar. (clique para ampliar as fotos)
Neste tipo de erupção, a água fria em contacto com o magma quente dá origem a um choque térmico com explosões intensas, que pulverizam o magma/lava e o projectam em nuvens de vapor e cinza, que por vezes formam colunas de grande altura. A cinza ao cair deposita-se formando camadas (estratificação) de grãos da dimensão da areia e de composição basáltica, como se pode ver do lado direito da foto abaixo.

A este forma de actividade eruptiva chama-se tipo surtseyano, nome proveniente da descrição de um vulcão, ocorrido no mar, junto à Islândia e que originou uma nova ilha - Surtsey - na década de 1960. No Faial houve um pouco antes um vulcão do mesmo tipo, mas o isolamento político e científico do país não permitiram o reconhecimento internacional da descrição original daquele tipo de actividade. Assim não surgiu outro termo de origem açoriana no léxico científico internacional da geologia, ficámo-nos pela faialite!
Devido à rapidez do arrefecimento, os minerais da lava não têm tempo de cristalizarem (vidro vulcânico) formando-se um cone de cinzas vulcânicas vítreas acastanhadas, devido à oxidação de alguns metais como o ferro. Com o tempo, a chuva e as reacções químicas, os grãos ficam cimentados entre si e formam uma nova rocha conhecida por tufo vulcânico.
Na foto acima um afloramento de tufo vulcânico do Monte da Guia, cimentado e cortado para implantação da estrada. Esta rocha vista de perto parece mesmo areia com cimento, reparem na cor acastanhada, existem zonas cuja a tonalidade é a do ocre.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

VULCÃO EM ERUPÇÃO SUBMARINA NOS AÇORES

Informações prestadas por pescadores, levaram à hipótese de estar a ocorrer uma erupção submarina a 180 Km a Sudoeste da ilha do Faial.
Mapa dos Açores extraído de (COUTINHO, R. (2000) – Elementos para a monitorização sismovulcânica da ilha do Faial (Açores): Caracterização hidrogeológica e avaliação de anomalias de Rn associadas a fenómenos de desgaseificação. Tese de doutoramento

Segundo a RDP-Açores, o navio oceanográfico "Arquipélago" irá esta semana deslocar-se ao local, com investigadores da Universidade dos Açores pertencentes ao Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos (CVARG) e ao Departamento de Oceanografia e Pescas para efectuar mais investigações.
Para acompanhar o desenrolar deste acontecimento consultar o CVARG

domingo, 22 de julho de 2007

TRÊS VULCÕES... TRÊS TIPOS DE ERUPÇÕES I

Neste local da cidade da Horta são visíveis três vulcões basálticos: o Pico, mais à esquerda e situado na ilha em frente; o Monte Queimado, ao centro, forma o extremo sudeste do Faial (mapa); e o Monte da Guia, à direita, ligado à ilha por um istmo de areia. Todos eles representam um tipo de actividade vulcânica diferente e mostram a diversidade do vulcanismo açoriano. (clique nas fotos para ampliar)


O Pico é um vulcão basáltico activo com câmara magmática, ou seja, tem um depósito em profundidade que o alimenta e permite intercalar períodos de dormência (onde o depósito se enche e/ou evolui quimicamente) com períodos eruptivos mais ou menos intensos (onde a pressão da câmara magmática diminui), por isso se chama poligenético. Este tipo de vulcões tende a originar grandes aparelhos vulcânicos que, devido à sobreposição de tantas escoadas e erupções, são conhecidos por estratovulcões. Com tempo alteram-se as condições fisico-químicas e o enquadramento geotectónico e o vulcão tende a ter alterações ao longo da sua história. A evolução do Pico vista Faial encontra-se nos dois olhares do Pico.

O Monte Queimado e o Monte da Guia são vulcões basálticos sem câmara magmática contínua a alimentá-los, ou seja, funcionam como vulcões descartáveis. Têm um período eruptivo de dias ou escassos anos e sem momentos de dormência longos a separar a sua actividade, por isso se dizem monogenéticos. Entraram em erupção devido a uma fissura na superfície da terra que permitiu escoar lava que se encontrava em interstícios de rochas em profundidade, mas terminada a sua actividade, normalmente não entram em erupção de novo, embora no futuro possam ocorrer outras nas imediações.
Os vulcões monogenéticos, por norma, originam cones vulcânicos pequenos, de dezenas ou poucas centenas de metros, mas a descrição das principais diferenças estes o Monte Queimado e o Monte da Guia virão ao longo da semana para não saturar.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

FAIAL ILHA AZUL

Bem sei que por razões ambientais não deveria elogiar a Hortência. É uma flor importada dos impérios do oriente, que compete com a flora endémica e deve-se optar pela nossas plantas para embelezar os Açores, pois o azul nada tem a ver com as nossa flores naturais (por norma são amarelas a minha cor preferida no jardim). Mas cada um tem as suas fraquezas e viajar entre a Caldeira e a Ribeirinha em Julho deixa qualquer um boquiaberto perante tanta azul das hortências que delimitam as propriedades. Devido a isto, o Faial tem o cognome de Ilha Azul e eu considero a estrada que passa pelos matos da Ribeirinha a mais bonita da ilha, ora vejam o puro prazer para os olhos que ali passam. (clique para aumentar)
Os pastos da freguesia de Pedro Miguel e os Matos da Ribeirinha

Vista dos Matos da Ribeirinha para os pasto de Pedro Miguel

Matos da Ribeirinha

Ao longo dos Matos da Ribeirinha obtêm-se magníficas panorâmicas para o mar e as ilhas do Pico, São Jorge e Graciosa (esta última não visível na foto) além da vista relaxante das vacas a pastar livremente.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

ILHAS E TERRAS DOS AÇORES: escultura da lava em Ponta Delgada

Há longos anos que tenho forte ligações a Ponta Delgada, a maior cidade açoriana. A técnica do garimpeiro é a melhor forma de descobrir os tesouros desta urbe, vageando com calma na baixa citadina, numa rua onde tudo parece incaracterístico ou mesmo degradado, pode estar um diamante de primeira água arquitectónica, um templo ou uma casa particular. É assim esta cidade, cheia de contrastes, entre os imóveis simples estão monumentos que ostentam magníficos rendilhados de rocha vulcânica e não conheço outra terra onde esta arte de trabalhar as dádivas dos vulcões tenha atingido nível tão alto como Ponta Delgada. (clique para aumentar)
Igreja do Colégio: uma fachada barroca onde a lava traquítica foi a matéria-prima principal

Igreja da Conceição: rendilhados em lava básica (basalto a havaíto)

O Manuelino da Matriz: calcário importado na porta principal, basalto esculpido e ignimbrito nas molduras

Complexo de imóveis do Museu Carlos Machado - novos rendilhados de lava másica

Pormenor das janelas no complexo do Museu

A facilidade de trabalhar o traquito é proporcional à susceptibilidade à erosão, mas depois de um restauro...

Pormenor basáltico/havaítico sobre o topo de um portão no museu

Mas Ponta Delgada tem muito mais em ruas escondidas, em pormenores de fachadas de casas e em reflexos de estilos arquitectónicos de épocas diferentes...

sábado, 14 de julho de 2007

ILHAS E TERRAS DOS AÇORES: Cores de Angra do Heroísmo

Na última semana, por motivos profissionais, estive sempre deslocado por outras ilhas e cidades açorianas. Pelo que inicio uma nova etiqueta referente a "ilhas", que penso desenvolver ao longo do tempo, de forma mais ou menos periódica.
Hoje falo de Angra do Heroísmo, elevada a património mundial, por ser a primeira cidade planeada por europeus fora deste continente, que possui um conjunto notável de imóveis e uma arquitectura muito marcada equilibrada.
Angra nunca me cativou excessivamente, mas sempre me deslumbrou pelas cores e estilo dos seus edifícios, mas o meu gosto pela cidade cresce sempre que ultimamente ali vou.
Deixo algumas das muitas fotos que tirei, antes ou após o trabalho, enquanto deambulava por muitas das ruas íngremes de Angra.

Baía de Angra e cidade ao fundo vista do Monte Brasil

Império dos Quatro Cantos


Igreja da Misericórdia


Palácio na Rua Direita


Edifício na Rua do Galo


Imóvel na Rua da Sé


Rua do Galo com a Sé ao fundo

quinta-feira, 12 de julho de 2007

A MONTANHA DO PICO: Dois olhares

Recentemente um jornalista demonstrou-me a sua admiração pelo facto de um colega meu, físico de vocação, formação e profissão, ser amante de poesia, escrever lindos textos e ser apaixonado por fotografia. Claro que estranho que haja quem pense que os homens da ciência estejam amputados da sensibilidade de admirar a beleza, seja de que tipo for, ou de expressar-se com arte.

A um geólogo e a partir do Faial, é verdade que esta Montanha mostra a história da sua formação, com maior pormenor com que a Bíblia relata a criação no Génesis.

Assim, desde o nível do mar, até quase meia altura, as suas vertentes são suaves, devido a se ter formado num período em que as erupções eram muito efusivas e pouco explosivas, pois o magma que alimentava o vulcão era pobre em gases e sílica, mas rico em minerais ferromagnesianos e extremamente fluído, por isso espraiava-se. O líquido percorria então grandes distâncias à superfície e não se empilhava facilmente. Foi a época em que o vulcão era igual ao actual Mauna Loa no Havaí, tipo havaiano.
Depois, de uma forma progressiva, o seu magma permitiu a agregação dos seus compostos químicos, enriqueceu-se ligeiramente em gases e tornou-se menos fluido. O vulcão passou então a rugir mais alto e a ter erupções, onde se intercalavam períodos explosivos e outros efusivos, tornou-se semelhante ao seu irmão Stromboli na Itália, por isso descrito como do tipo estromboliano e as suas vertentes tornaram-se mais íngremes devido ao maior empilhamento de lavas e menores distâncias percorridas à superfície.

Já no período estromboliano a boca da sua chaminé, dentro da cratera de então, deslocou-se um pouco mais para norte (a componente E-W não é visível do Faial) e o cone continuou a crescer com actividade estromboliana, deixando, na vertente sul, a cratera fossilizada: um degrau quase sem declive. Mais tarde o vulcão acalmou, deixou outra cratera quase no cimo da Montanha e horizontal, só que ainda teve uma pequena erupção estromboliana, mais a norte, e lá se encimou com o Piquinho.

Mas o vulcão não se extingiu, frequentemente, de manhã vejo a pluma de vapor de água a sair do Piquinho, como a dizer-me-me: Estou vivo e quiçá um dia, mais ou menos distante, não volto a expelir lava e a evoluir, até me transformar num vulcão rico em sílica e gases, muito mais explosivo (tipo vulcaniano) à semelhança do meu irmão da Caldeira do Faial e vários outros nestes Açores.
Por vezes a pressão abriu fissuras na montanha e a lava saiu, não na parte superior, mas a partir das suas vertentens, deixando alinhamentos radiais de pequenos cones, igualmente visíveis do Faial, muito evidentes na zona do Monte.

Mas alguém julga que isto me impede de ver como esta Montanha é majestosa e calma? Que a imponência da sua beleza por vezes chega a ser agressiva e o centro das atenções à sua volta? Que a Montanha mais alta de Portugal (2351 m) tem variações de cor impressionantes: entre o cinza, o azul, o verde e o castanho?

Que o Pico umas vezes surge entre a neblina de uma forma esbatida como uma aguarela, outras vezes recorda o pontilhado dos impressionistas, enquanto outras chega a ter a nitidez e o brilho da pintura a óleo e a força de uma fotografia?... mas quando o tempo se enfurece, entimida-se e desaparece do horizonte.

Todas aqueles cambiantes emocionam-me e fascinam-me e se sou Faialense hoje, o Pico tem uma grande responsabilidade no amor que tenho pela ilha em que resido.

Esta Montanha é ainda um autêncio boletim meteorológico, onde a distribuição das núvens, os matizes e gradientes de nitidez nos dizem o tempo que se avizinha e isso eu reparo também com atenção, mas o assunto fica mais tarde...

terça-feira, 10 de julho de 2007

RIBEIRINHA RECONSTRUÍDA

Eis a nova Ribeirinha agora reconstruída e reordenada, vista do meu miradouro favorito para esta localidade. Observada à distância não há cicatrizes do sismo, talvez sinal que com o decorrer do tempo as mesmas deixarão de se ver.

Próximo do horizontevêem-se parcialmente na foto duas outras ilhas irmã do Faial, que formam um Triângulo socio-económico e turístico muito especial:o Pico à direita e São Jorge à esquerda (mais difícil de se ver).

A esperança num futuro melhor mantém-se

segunda-feira, 9 de julho de 2007

SISMO DE 9 DE JULHO DE 1998: 9 ANOS, DIÁRIO DO DIA E CICATRIZES

A 9 de Julho de 1998, cerca das 5:20 h da manhã, a ilha do Faial foi abalada por um sismo, que na freguesia da Ribeirinha, a menos de 5 km do epicentro, atingiu a intensidade X da Escala Mercalli Modificada, hoje praticamente todos se encontram realojados em novas habitações, mas, como todos os grandes acidentes, ficaram cicatrizes para sempre.

Enquanto relato aquele dia de memória, deixo imagens de algumas dessas cicatrizes físicas actuais, porque as psíquicas ficarão guardadas no íntimo de cada um de nós e sem registos fotográficos.

Recordo-me que os primeiros minutos daquele dia começaram com o início da leitura de um novo livro, "Caos" de James Gleick, mas o cansaço não me deixou passar para além das páginas iniciais e deixei-me adormecer...

Pela madrugada sou abalado por tudo a tremer, aquele não era um sismo igual a muitos outros, neste... tudo parecia querer sair dos eixos. Salto e dirijo-me para o local que sabia ser o mais seguro no quarto, enquanto, os móveis eram projectados, a janela saltava fora do caixilho, ouvia as paredes a desmoronarem-se, louças a partirem-se e o ribombar de uma forte trovoada debaixo de mim. Tanto tempo deu para distinguir as famosas ondas P, S e L e sentir que chegara ao último momento de um geólogo que sempre amara e respeitara os sismos.

Depois... atordoado... foi saber se lá casa todos, mãe e animais, estávamos bem e arranjar um espaço para sair de casa à luz daquela lua cheia que inundava todos os quartos, através daquilo que antes eram paredes. Objectivo conseguido....

...iniciou-se a fase de saber quantos estavam bem na freguesia, como controlar e reunir pessoas em pânico, solicitar ajuda aos mais capazes de discernimento, aproveitar todos os bons conselhos e aguardar o auxílio que, apesar de parecer uma eternidade a surgir, foi rápido e eficiente...

Durante o dia preparou-se o primeiro acampamento, houve o milagre da partilha da comida disponível pelas habitações acessíveis e a solideriedade de muitos vindos de todos os cantos da região e do país,

mais tarde chegaram a electricidade, os carros de bombeiros com água, os socorristas, os técnicos, os geólogos (alguns amigos) e as autoridades políticas regionais e nacionais... só mais tarde percebi, através de fotografias, que os recebera e os conduzira na minha comunidade em pijamas.... mas nunca ouvi qualquer comentário então.

Não sei quantas 24 horas teve aquele dia, sei que após algumas noites, adormeci sentado num banco de um corredor... e a reconstrução com virtudes e defeitos, com interesses políticos a se sobreporem ao bem-comum, a velocidade mais ou menos variável, arrancou e avançou...

e há-de acabar quando tivermos as nossas feridas interiores definitivamente saradas.


A destruição desta freguesia foi quase total, um por cento da população pereceu, outros ficaram feridos, mas a vida continuou a brotar neste canto, que apesar das reduzidas dimensões, tem uma dinâmica invejável e uma alma maior que a sua terra.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

AGRADECIMENTO

O blogue da Associação Guilhermina Suggia , por solidariedade, divulgou o post sobre a casa de nascimento de Manuel de Arriaga, aqui fica o meu agradecimento público do facto e os votos para que o seu objectivo de preservação do Salão Nobre do Escola de Música do Conservatório de Música seja alcançado.
Penso que existem ideias para aquisição, implementação de alguma recuperação e atribuição de um uso à Casa de Manuel de Arriaga, até lá, é o estado de degradação que prossegue... e o desafio de analisar o tema mantém-se oportuno para quem quiser participar.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Património Construído em Ruínas II - Casa do Presidente da República Manuel de Arriaga

Após a Bagatela, eis outro exemplo do desrespeito do país pela sua história.
Aqui vivia a família Arriaga quando nasceu Manuel de Arriaga, o primeiro Presidente da República eleito em Portugal. Quem me conhece sabe que não sou um republicano convicto, mas não consigo aceitar, que este país permita, que os locais da história dos seus soberanos fiquem deste modo. Isto é uma VERGONHA NACIONAL!
Este imóvel hoje já não pertence à família, é sim propriedade da Igreja Católica, que talvez sentido-se expoliada no passado por leis nacionais, deixa agora como que uma imagem de vingança neste mundo, ao deixar degradar a memória de Portugal.

Quando adolescente aqui funcionava uma casa de acolhimento de estudantes do Liceu da Horta oriundos de outras ilhas, sobretudo do Pico, Flores, S. Jorge e do Corvo. Depois, ainda bem, foram-se construíndo escolas pelas várias parcelas dos Açores e a igreja foi abandonando o imóvel, registindo à venda a entidades com propostas de recuperação e com o objectivo de dar outros usos de interesse público, mas deixou o legado neste estado.

Janela assombrada pelo desrespeito à memória nacional

quarta-feira, 4 de julho de 2007

174.º ANIVERSÁRIO DA CIDADE DA HORTA

A 4 de Julho 1883 a vila da Horta, mercê dos esforços do ilustre Faialense Duque d'Ávila e Bolama e também em honra deste, foi elevada à categoria de cidade, pelo que não posso deixar em claro este aniversário ao Burgo que escolhi para trabalhar e ao Concelho onde resido.

Eis a minha homenagem com algumas fotos desta bela terra (clique para aumentar).
A Horta vista do Monte da Guia, em primeiro plano a baía de Porto Pim

A Horta surgiu e desenvolveu-se em virtude da sua posição geográfica e das condições de abrigo do seu porto, que a permitiram tornar-se num importante ponto de escala nas rotas marítimas entre a Europa e as Américas, a África e a Ásia. Por isso é uma cidade porto, cosmopolita, onde a comunhão entre o povo e o mar é perfeita.

A Horta e a baía do mesmo nome vistas da Espalamaca

Hoje a Horta, devido às mesmas condições ideais de abrigo da baía, localização e beleza do burgo, altamente valorizado pelo cenário que a montanha do Pico lhe confere a partir da ilha fronteira, tem o principal porto internacional de iates de recreio do Atlântico Norte e é um dos maiores centros de acolhimento turístico dos Açores.

Horta vista do Pilar, com o seu porto e marina, ao fundo o Monte da Guia

Esta terra, que bebeu cultura inglesa, americana, francesa, alemã, entre outras, presentemente, vive com a sombra do passado e anseia por um futuro tão própero como foi a sua história.

Horta vista junto à praia da Conceição

Penso que, sem deixar de olhar o mar que a abraça constantemente, está no arregaçar das mangas suas gentes e no analisar das mudanças mundiais, que sempre acompanhou e foi aberta, que pode encontrar a solução do seu futuro

Uma rua da zona alta enquadrada pelo Pico ao fundo

(fica prometido um post para montanha da ilha irmã e claro, outro para o problema lançado com o anterior )