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terça-feira, 30 de julho de 2013

De Marx a Darwin, a desconfiança das Ideologias - Onésimo Teotónio de Almeida

Não tem é muito comum dissertar aqui sobre livros do género ensaio, algo que também gosto de ler em simultâneo com literatura e ciências.
Onésimo Teotónio Almeida é um Açoriano, formado em filosofia, que leciona em universidades na Nova Inglaterra temas relacionados com a sua área, mas também escreve ficção e tem vários livros de contos.
"De Marx a Darwin" reflete sobre o aproveitamento da teoria científica da evolução das espécies e sobrevivência dos mais aptos no suporte de determinadas ideologias neoliberais, como se a ciência validasse ideologias e modelasse a ética, bem como o esforço de uma ideologia, baseada na razão e em princípios éticos e morais por si só tivesse valor científico sem a validação do método experimental.
Entre o ser assim e o deve ser  ou como deve ser e querer que a realidade se submeta, vai uma grande diferença e uma dose de humildade nos partidários da ideologia e nas ciências é preciso para reconhecer a impertinência de se impôr ao outro face à ignorância que ainda domina o conhecimento alcançado.
Por fim os reflexos de Darwin sobre três Açorianos: Sena Freitas, um padre que procurou desmontar o evolucionimo com a humildade de sentir mais faltas de provas na época do que argumentos religiosos; Nogueira Sampaio cauteloso e vítima da intolerância religiosa contra teorias científicas; e Arruda Furtado, um discípulo de Darwin com quem teve uma correspondência profícua para a sua curta longevidade.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Já então a raposa era o caçador - Herta Müller


Terminei de ler "Já então a raposa era o caçador" de Herta Müller, escritora romena de expressão alemã e vencedora do prémio Nobel de 2009.
O livro descreve uma série de cenas curtas que mostram o dia-a-dia de cidadãos romenos de várias profissões pouco antes da queda de Ceausescu.
Devagarinho monta o retrato daquela sociedade, uma grande maioria atravessada pelo medo, miséria, corrupção, exploração, humilhação humana e resignada, mas conhecedora da classe dominante gestora do sistema, minoritária e com acesso a alguns bens, essenciais ou não, que parecem sempre um luxo reservado.
Sente-se o receio da maioria pelos sinais deixados de uma polícia secreta que tudo controla e se insinua por pistas simbólicas: na pele de uma raposa, nas cascas de pevides que deixa, nos inquéritos que promove e pela proteção e prendas a quem cativa.
Gostei da estória, das personagens e dos símbolos. Não gostei da escrita: troca de atributos dos sujeitos das frases com os complementos, o que amplia o efeito das pessoas como autómatos impotentes perante a realidade; metáforas por vezes forçadas e desagradáveis; e ausência de pontos de exclamação e de interrogação, um estilo que não me agradou.
Apesar de tudo, pelo retrato que constrói nos tempos em que vivemos: recomendo a leitura.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A paixão segundo G. H. - Clarice Lispector


Há livros que se podem ler muitas vezes que nunca são relidos, pois o que seria uma releitura resulta em algo completamente diferente do anterior. "A paixão segundo G.H." de Clarice Lispector é uma dessas obras de uma originalidade rara e pronta a se apresentar como sempre nova diante de nós.
O texto, escrito no estilo de fluxo da consciência, resulta num caudal torrencial de ideias, questões e revoluções da mente que mais não são que a busca sobre o que é a plenitude da vida e do ser, bem como a ânsia de alcançar a comunhão ou numa transubstanciação do eu com a raiz das coisas, com a essência do universo, da alma ou de Deus, mas sem se atrever a definir nenhum deles e sobretudo este último, pois tal seria contê-lo nas nossas limitações e cobri-lo com o tempero a que nos habituámos a ver, ouvir, saborear e a sentir o que nos cerca.
Tal avalanche não torna o livro fácil, antes pelo contrário, e o incidente que desencadeia este turbilhão pode-nos dar a volta ao estômago, provocar-nos náuseas, vómitos e é um murro que nos deixa zonzos, perdidos, mas que só nos pretende levar a reencontrarmo-nos e a ter vontade de mais:
"Provação. Agora entendo o que é provação. Provação: significa que a vida está me provando. Mas provação: significa que eu também estou provando. E provar pode se transformar numa sede cada vez mais insaciável."
Descobrir Lispector através desta paixão é provar um bom escritor, um existencialista que deve ser único na nossa língua e no universo literário, mas não um mundo de facilidades...

sexta-feira, 12 de julho de 2013

História da ilha do Faial - das Origens a 1833 - Edição C. M. da Horta

Acabei de ler o Volume I da "História da Ilha do Faial - das origens a 1833", uma edição de luxo da Câmara Municipal da Horta .
O primeiro volume é uma excelente coletânea de excertos de crónicas das partes referentes ao Faial e escritas por portugueses (açorianos ou não) e estrangeiros, nomeadamente espanhóis, ingleses, flamengos e italianos, entre outros. Estas estão ordenadas cronologicamente desde o século XV até 1833, ano da elevação da Horta a cidade, e descrevem o povoamento, a geologia, a demografia, a divisão administrativa, batalhas, a conquista desta terra aquando do domínio de Portugal por Espanha, a agricultura, o comércio internacional, as tradições, a religião, o património desta ilha e os passos que levaram à instituição do ex-Distrito Autónomo da Horta.
Na última parte há uma análise crítica de historiadores contemporâneos sobre o conteúdo dos textos listados na obra e o seu contexto político.
A obra dá-nos um retrato da evolução desta ilha, a importância dos flamengos no povoamento do Faial, a resistência que os espanhóis encontraram por aqui, o peso desmesurado da religião, descrições do vulcão da Praia do Norte, a impossibilidade dos estrangeiros conquistarem a ilha a partir da Ribeirinha, as fragilidades desta terra e uma apreciação bastante crítica dos estrangeiros sobre o modo como os portugueses, faialenses e a religião desperdiçavam as potencialidades geoestratégicas, condições de abrigo da baía da Horta, climáticas e pedológicas para a economia do Faial.
Uma excelente volume, mesmo para quem não adquira a coleção constituída por mais dois que abordam aspetos diferentes da História do Faial. altamente recomendável a qualquer Faialense.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Franz Kafka - Os contos - Volume 1

Livro que reúne os escritos de Franz Kafka publicados durante a sua vida, desde textos muito pequenos, até alguns contos quase novelas dos mais famosos do autor como " A transformação" (A metamorfose) , "Um Artista da Fome", entre outros.
Como coletânea de textos escritos em momentos diferentes da vida de Kafka não há uma homogeneidade de estilo, alguns contos tocam o absurdo, outros alimentam esperanças no futuro e alguns expõem medos reais e uma sociedade onde os seus membros não se sabem relacionar. A uni-los uma qualidade de escrita que terminada a obra fica a saber a pouco e convida a comprar o segundo volume... adorei e devorei rapidamente o livro, mas confesso: sou um admirador deste Boémio.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Sismo de 9 de julho de 1998 - 15 anos

Quinze anos em que esta Ribeirinha onde resido foi atingida por um sismo, a freguesia mais devastada e mais próxima do epicentro desta catástrofe, tanto a sua localidade com o mesmo nome, como a localidade dos Espalhafatos foram destruídas praticamente em 100% das suas moradias, espaços de culto religioso, farol e edifícios de apoio agrícola.

Uma reportagem para recordar e homenagear todos os sinistrados que naquela altura deram as mãos e comigo colaboraram a enfrentar os momentos mais difíceis da Ribeirinha em toda a sua história iniciada em 1666.


Infelizmente, ainda hoje aqui na Ribeirinha há gente que desde então nunca mais teve condições dignas de habitação. Poucas, é certo, mas são seres humanos esquecidos e vítimas desta catástrofe!

sábado, 6 de julho de 2013

MOLLOY - Samuel Beckett

Um romance que disserta sobre a identidade do indivíduo, dividido em duas partes que parecem jogos simétricos de situações diferentes mas onde onde se vão descobrindo semelhanças:
A primeira, contada na primeira pessoa, narra linearmente a vida quotidiana de Molloy e o mundo que o cerca e com que se relaciona; lentamente, num exercício de memória sobre o passado, passa de incógnito e vai descobrindo a sua identidade, a começar pelo nome, nas lembranças recorda que explora a mãe sem o pretender, amou mulheres sem o desejar e deixa-se encontrar num mundo do qual ele é diferente dos outros.
A segunda, novamente na primeira pessoa, alguém apresenta a sua personagem nítida, os seus hábitos, as suas relações e lentamente ao caminho no futuro vai-se isolando do mundo, perdendo a sua identidade, discorda da suas agressões ao filho mas justifica-se, obediente perante superiores sem querer mas sem contestar, vai numa busca mas não se deixa encontrar num mundo no qual ele seria mais um ser igual aos outros.
Narrações bem estruturadas num mundo estranho onde já se perspetiva o absurdo da peça dramática "À espera de Godot" que Beckett escreveu pouco depois. Um texto de fácil leitura sem ser um romance fácil, mas uma obra que literariamente dá para entender por que se está perante um grande escritor. 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

HORTA: 180.º aniversário de elevação a Cidade

A 4 de julho de 1833 a então vila da Horta, onde se situava a melhor baía e porto natural dos Açores e preferido pela navegação que unia a Europa às Américas do Norte e do Sul, pela sua importância marítima, distância, potencial económico, pujança cultural e distanciamento a outros centros de decisão foi elevada a cidade.
180 anos depois, o mar continua a ser a sua marca da Horta, conhecida como cidade-mar, é a principal entrada em Portugal no centro Atlântico Norte, aqui escalam navios de recreio de todo o mundo, atraídos pela sua posição estratégica no oceano, beleza paisagística, hospitalidade das suas gentes, cosmopolitismo dos povos que cruzam e o majestoso cenário da montanha do Pico.
Nem tudo corre bem aos sonhos que se desejam a esta cidade, mas hoje é dia de festa: Parabéns cidade da Horta pelo teu aniversário!

segunda-feira, 1 de julho de 2013

1.º de julho - dia do Canada

Fundado a 1 de julho de 1867, o Canada será sempre o meu País natal, o meu primeiro berço e um Estado de que me orgulho de ser cidadão.
Feliz dia do Canada a todos os Canadianos.
Uma história reduzida deste grande País que é o Canada

Oh Canada - Hino nacional numa versão algo diferente do habitual