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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

"Servidão Humana" de Somerset Maugham



Tendo muito de autobiográfico, "Servidão Humana" é um livro sobre as dores do amadurecimento de uma pessoa desde a infância até à entrada na vida adulta, um período que se inicia cheio de esperanças no futuro que se vão desmoronando à medida que embatem no mundo real e deixam o amargo triste da desilusão e da frustação.
A obra começa com a perda dos país de Phillip aos dez anos, a ida para casa dos tios onde a religião faz parte da profissão e das decisões, assim ainda criança o protagonista começa logo por ver-se numa teia de crenças que condicionam as suas decisões e a insegurança para romper essas amarras, quando consegue finalmente as primeiras libertações no final da adolescência é altura de serem as dificuldades da vida e as limitações humanas a evidenciarem que dificilmente se totalmente livre.
Na transição para a vida adulta novas lutas pessoais entram em jogo, as amarras das paixões, a necessidade de autossustento para sobrevivência num mundo que nem sempre é justo ou compreensivo com o protagonista e onde os erros também contribuem para essa servidão, até que se descobre que viver é saber adaptar-se a tudo isto.
Um excelente livro, magnificamente escrito, que mostra a educação e o crescimento de uma criança na classe média inglesa, onde o peso da religião e dos costumes tem muita força e cheio de referências ao mundo do estudo da arte em Paris, com destaque para a pintura e da medicina em Londres no início do século XX, bem como da realidade de sobrevivência difícil de então.
Apesar de se saber que é um romance muito autobiográfico, a obra tem uma densidade, ternura, irritação e reflexão com uma magnífica narrativa que a torna numa obra-prima literária. Recomendo a quem aprecia excelente literatura. Gostei muito.