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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

"Um Crime na Exposição" de Francisco José Viegas


Excerto
"A Expo  é esse desígnio e nada a pode prejudicar, nem um crime, nem dois, nem, muito menos, três crimes como parece ser o caso. Três crimes destes seria a glória de qualquer romancista, evidentemente, não se desse o caso de estarmos a falar de Expo."

"Um crime na Exposição" de Francisco José Viegas (FJV) é o segundo romance deste escritor que leio. Uma personalidade pública dos média portugueses e se a primeira obra me tinha interessado, a segunda fez-me render ao seu  estilo particular de literatura policial.
O inspetor Jaime Ramos foi remetido do Porto para Lisboa durante a Expo'98 como pena de uma exaltação excessiva com um criminoso. Na Exposição ocorre o crime de um biólogo marinho encontrado no aquário, um investigador de rocaz-dos-Açores e a quem lhe cortaram um dedo do pé. Dois dias a seguir uma colega do oceanário, mexicana e amante daquele, também estudiosa da mesma espécie, é morta com evidências do crime ter sido perpetrado pelo mesmo autor. Segue-se o assassínio de uma arquiteta paisagística desta feira. Tal série tem o risco de gerar um escândalo que estoire o desígnio de Portugal neste evento. Entretanto, líderes políticos aproveitam-se para atacar o governo, existem relações diplomáticas em perigo por as vítimas estarem ao serviço de diferentes países ou terem aparecido em pavilhões de Estados estrangeiros. O protagonista - desenraizado do seu Porto nesta capital que lhe é estranha, com o seu vício por cigarrilhas dos Açores, a sua paixão pelo seu clube e com o seu habitual ajudante Isaltino de Jesus - vê uma teia que envolve amor, traição e espionagem científica internacional, ausculta o subinspetor Filipe Castanheiro em Ponta Delgada sobre as atividades universitárias nos Açores das vítimas, onde um cadáver é descoberto aparentemente sem qualquer relação e um professor disserta sobre estes jovens.
A originalidade da narrativa de FJV está que a investigação policial não gera um suspense acelerado. A intriga é um acessório que se vai desenrolando aos poucos, com pistas e descobertas ao ritmo do dia-a-dia, sendo atravessada por divagações, comportamentos e palavras das personagens sobre a solidão e o envelhecimento masculino; as paixões e os vícios dos portugueses, e à descrição poética da beleza geral e dos recantos magníficos que existem nos locais da ação. Uma divulgação dos principais atrativos do País e Regiões citadas.
Na narrativa há ainda a interferência de personalidades e entidades públicas reais que agem de forma coerente com a imagem delas e, de uma forma saudável, expõem-se as rivalidades conhecidas entre as instituições as pessoas mencionadas, fazendo-se uma crítica com humor à sociedade portuguesa.
Não conheço nenhum açoriano que descreva de forma tão encantadora e solitária a ilha de São Miguel e a cidade do Porto como as personagens criadas nos livros de FJV, cuja força permite que as mesmas atravessem já um conjunto de romances de anti-heróis que marcam o leitor. Por tudo isto gostei muito desta obra que é também um livro de viagens por Portugal e pela Expo'98 com uma escrita bem cuidada e de qualidade, cujo cerne é um romance policial mas não um thriller.

4 comentários:

Pedrita disse...

eu já tinha ficado curiosa na resenha anterior. e adoro livros policiais. bela capa. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

A capa é mesmo tirada da zona do oceanário no espaço onde decorreu a Expo'98, tirada no sentido sul-norte.

ematejoca disse...

Desde ontem que ando à procura deste romance na minha estante‼ Sei que o comprei numa livraria do Porto, embora ainda não o tenha lido‼

Carlos Faria disse...

e hoje entrou-me outro em casa de FJV, passado essencialmente nos Açores