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quinta-feira, 16 de abril de 2009

FILÕES E EROSÃO DIFERENCIAL

O magma que alimenta os vulcões quando ascende da profundidade fá-lo sobre pressão, pelo que se existir nas paredes da chaminé vulcânica alguma fissura, o líquido viscoso tenderá a forçar e a penetrar nessas fracturas, alargando-as e preenchendo-as com o material vindo do interior da terra, depois de arrefecido, este transforma-se numa estrutura rochosa designada por filão, frequentemente de cor e orientação diferente das rochas envolventes, denominadas por encaixantes.
Filão de cor clara subvertical (indicado pelas setas a vermelho) bem evidente perante o encaixante escuro pouco inclinado (foto de Solange Cabeças)

No espírito de cooperação entretanto surgido entre vários frequentadores deste blog, hoje apresento acima uma fotografia efectuada por uma geóloga e colega de trabalho, que mostra um filão na ilha de São Miguel, que ficou descoberto com a retirada do solo e da vegetação para a abertura de um caminho.
Filão de basalto (s.l.) no Costado da Nau, ilha do Faial, saliente na paisagem por ser mais resistente à erosão que o encaixante, tufo vulcânico.

Quando à superfície os agentes de geodinâmica externa (vento, chuva, variações de temperatura e os próprios seres vivos) agridem as rochas, nem todas estas apresentam a mesma resistência à erosão e então dá-se a erosão diferencial. Se um filão for mais resistente que o encaixante, então fica saliente na paisagem e desnudado das rochas que o envolviam.

18 comentários:

Carlos Campos disse...

A primeira foto é espectacular, o sítio é espectacular...
É muito interessante observar os filões em perfil, ver os atalhos que a sua natureza escolheu, mas qual será o efeito de um filão que atinja a superfície (?), por várias vezes tentei seguir-lhes o rastro, mas acabo sempre por me deparar com obstáculos, quando não é o terreno, é a vegetação e quando tenho acesso, geralmente pastos, a estrutura original encontra-se destruída ou rearranjada com pequenas pedras e lajes a fazerem um montículo. Vendo o que resta á superfície dá a impressão de que se forma um mini cone, tipo hornito mas mais achatado, em que por vezes se formam pequenas escoadas (lajes).
Geocrusoe, tinha muito gosto em saber algo mais sobre filões, e se me permitir, apelar a quem tenha uma foto de filão á superfície, “intacto”, que a partilhe connosco.

Carlos Faria disse...

ao carlos campos
é provável que fale futuramente de filões, mas tal dependerá do material e condições para publicar novos posts. Eu não conheço esta zona em concreto, embora saiba onde fica e só não disse o nome por razões que considero justificáveis. assim não posso confirmar o que viste no local.

Carlos Campos disse...

"Vendo o que resta á superfície dá a impressão de que se forma um mini cone, tipo hornito mas mais achatado, em que por vezes se formam pequenas escoadas (lajes)."
Geocrusoe, este raciocinio está correcto?

Carlos Faria disse...

julgo que não, pelo que sei o hornito forma-se ao longo de uma escoada por pressão de gases que forçam uma abertura à sua superfície e por ondem é expelido algum material fluido. assim, o hornito é uma estutura "desenraizada", sem chaminé em profundidade. mas não conheço a estrutura em causa por nunca la ter estado.

Fernando Vasconcelos disse...

Okay, descodificação para um leigo: É uma espécie de molde em que o "gesso" é retirado pela erosão ficando o recheio ... isto ficava bem com uma metáfora culinária mas agora não me ocorre nenhuma .. Ficam formação espectaculares !

RJ disse...

Fernando,

A orelheira de porco é uma boa analogia se se considerar a cartilagem como o "recheio", de melhor exemplo não me consigo lembrar :)

Geocrusue,

As fotos são espetaculares, nomeadamente a segunda.

A estrutura já foi dobrada ou a fractura original apresentava essa configuração?

A cor mais clara na base da estrutura dá a entender que por ter estado coberta esteve menos sujeita aos agentes erosivos.

Há uma banda que parece ter pelo menos uns 10cm que preenche a faixa central da estrutura, penso eu (de acordo com os meus humildes conhecimentos) que devida a arrefecimento diferencial do material magmático.

Já apanhei no campo situações similares (baixo alentejo): diques de material (aparentemente por testemunho da textura)granítico no meio de xistos argilosos, distinguíveis pela cor (encaixantes cinzentas intercaladas com um corpo tabular esbranquiçado e desagregável devido à alteração).

Carlos Faria disse...

ao fernando vasconcelos
sim a metáfora utilizada está correcta e está excelente a imagem do meu colega de formação rj, por isso vendo as duas, julgo que se conclui que na cozinha há bons e substanciais modelos geológicos ;)

ao rj
a fractura deveria apresentar esta configuração, até porque a diferença de idades deve ter sido de dias ou meses, pois ambas pertencem ao mesmo vulcão monogenético surtsiano do costado da nau.
a cor mais clara na base pode ser por isso ou não, pois esta zona depois de ser sido exposta voltou a ficar coberta pelas cinzas dos capelinhos, aliás o chão é do mesmo tipo do encaixante, só que recente 1957/58 e sofreu uma erosão acelerada entretanto.
Sim o bandado no filão resulta do arrefecimento diferencial e da progressão do magma dentro da fractura.
Hoje à noite, em belas imagens, deverei mostrar um filão saliente na paisagem na ilha de são jorge que recorda o que dizes no fim, salvaguardando outros aspectos muito diferentes.

José Quintela Soares disse...

Com ou sem orelhas de porco...moldes...etc...obrigado por mais este excelente post.

Carlos Faria disse...

ao josé quintela
tenho muito prazer em ter gostado do post.

Os Incansáveis disse...

Ótimas fotos. Para um geólogo, encontrar esses "presentes" no caminho são a glória, não é mesmo? Pena que quando fiz geologia, há 20anos, não tínhamos as máquinas digitais. Teria fotos ótimas.
Denise

Carlos Faria disse...

à denise
mas pode uma vez por outra tirar boas fotos no presente e depois apresentar no vosso blog... mas de facto os açores são muito fotogénicos e mais belos ainda ao vivo

Reciclando Hábitos, Mudando Atitudes disse...

Parabesn, lindas fotos colega e excelente post

Carlos Faria disse...

obrigado, tem também um excelente post no seu blog, o qual passo a seguir a partir desta data.

Carlos Campos disse...

Peço desculpa Geocrusoe, não me devo ter exprimido correctamente.
A questão é, como se reconhece um filão quando este atinge a superfície, qual a sua forma (?), não tem nada que ver com um local em particular, é no geral. Por exemplo, quando um geólogo vai para o campo, em qualquer local, como identifica á superfície uma estrutura como sendo um filão? É parecido com o quê?

A referência ao hornito era como termo de comparação (á superfície).

Carlos Faria disse...

ao carlos campos
frequentemente os filões não chegam à superfície durante a sua instalação, caso contrário surge como um vulcanismo fissural, uma estrutura alongada ou rifte por onde sai lava... por vezes testemunhado por um pequeno alinhamento de pequenos cones ou bocas de fogo. muito dos filões que vemos ficaram à mostra apenas com a erosão (2.ª foto do post ou filão do post de hoje à noite ou aperecem durante um corte artificial na abertura de uma estrada, numa pedreira ou mina.

;) disse...

Ou acesso a áreas maritimas...

Carlos Faria disse...

claro! esqueci-me desse caso

Anónimo disse...

Individualização emocionante neste blogue, post como aqui vemos dão vida a quem analisar nesta página .....
Realiza mair quantidade deste sítio, a todos os teus visitantes.