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segunda-feira, 12 de maio de 2008

50.º ANIVERSÁRIO DA CRISE SÍSMICA E DESTRUIÇÃO DA PRAIA DO NORTE

Ao longo dos 13 meses de actividade eruptiva do vulcão dos Capelinhos, nenhum período foi tão catastrófico como a noite de 12 para 13 de Maio de 1958, em que centenas de sismos foram sentidos pelas populações do Faial, que conduziram a avultados danos em moradias nas localidades de Ribeira do Cabo do Capelo, Ribeira Funda dos Cedros, Espalhafatos da Ribeirinha e à destruição praticamente total da freguesia da Praia do Norte, felizmente sem vítimas humanas que, devido às características da crise, atempadamente abandonaram as suas habitações e refugiaram-se noutras zonas da ilha menos expostas ao tremor quase contínuo.
Durante a noite ocorreram igualmente fortes explosões no interior da Caldeira que expeliram um pó esbranquiçado que ultrapassou os bordos daquela estrutura geomofológica, que deram origem ao aparecimento de fumarolas no seu interior, as quais se prolongaram por vários dias.

Cientificamente sei que subsistem ainda dúvidas em geólogos sobre o que na realidade aconteceu naquela noite. Terá sido entrada de novo magma na região do vulcão? A injecção do mesmo material em falhas na ilha do Faial? Nomeadamente na Caldeira, onde se gerou uma explosão devido ao contacto deste magma quente com a água subterrânea? Terão sido estas movimentações do magma que provocaram a crise sísmica ou, embora talvez menos provável, terá sido um abalo local que despoletou um conjunto de reacções com reflexos no comportamento do vulcão? Certo é que a partir desta data o vulcão passou a ter uma actividade sobretudo do tipo estromboliana.

Tendo em conta o que senti quando assisti à destruição quase total da Ribeirinha, 40 anos depois daquela crise, compreendo esta catástrofe de uma forma muito particular, por isso fica aqui a presente mensagem como homenagem a todos os sinistrados de então, independentemente da forma como ultrapassaram a situação, pois sei que, internamente, ficam marcas dolorosas que nunca mais se apagam.


[Fotos extraídas de: Machado, F. e Forjaz, V. H. (1968) "Actividade Vulcânica do Faial - 1957-67" Ed. Com. Reg. Turismo Distrito da Horta]

8 comentários:

Pedrita disse...

tenho visto matérias constantes do vulcão do chile que depois de anos resolveu voltar a ativa. e da dificuldade que estão para tirar os moradores das regiões que podem ser atingidas. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

evacuar ou realojar pessoas com base em perigos potenciais não é fácil, o amor à terra é visível e sente-se, muitos dos perigos naturais não são tão evidentes a curto prazo para arrancar as pessoas às suas raízes...

RJ disse...

A maior dificuldade para as autoridades é a de convencer as pessoas a não voltarem a casa.

Há casos em que a evacuação é feita ao menor sinal de perigo. Se o início efectivo da erupção demorar muito tempo desde essa evacuação(alguns dias) as pessoas começam a ficar impacientes e muito difíceis de reter.

Lc disse...

Finalmente, tenho um debate online, e como veio "daqui" a primeira sugestão para acontecer, acho que devias participar, na qualidade de Faialense e de homem atento a estas questões.

Um abraço

Anónimo disse...

Um pequeno desabafo. Este fim de semana, passei no alto dos Espalhafatos, é doloroso para mim verificar que tudo ou quase tudo desapareceu: a ermida de Santo António, a Casa do Império, a casa do Tio Fontes com o seu jardim sempre florido, o botequim, o baloiço da quinta; da casa do Luís, mantêm-se o forno resistindo às intempéries destes 10 anos.É doloroso ver aqueles fantasmas semi-enterrados no tempo.
Sei que vai responder que foram construidas novas habitações, algumas melhores e mais confortáveis. Sim, estou de acordo.
Mas o alto dos Espalhafatos desapareceu.

Carlos Faria disse...

Está enganada Nanda... nunca diria: "foram construídas novas habitações, algumas melhores e mais confortáveis". Uma verdade - mesmo que parcial, pois nem todos ficaram em melhores condições - não apaga uma memória.
É verdade que houve um reordenamento para se evitar que o Alto dos Espalhafatos não tivesse uma destruição por geração, a penúltima faz hoje 50 anos, mas apesar de eu ser favorável a um reordenamento, também tenho coração e ainda hoje por vezes choro perante alguns fantasmas que todos os dias vejo à minha volta e me trazem muitas recordações... SAUDADES.
Mas não me lembro de nenhuma ermida para além da igreja de Santo António e pelo vistos acabei de descobrir quem é a sua família.

Carlos Faria disse...

rj
tens razão no que dizes, mas o aspecto focado nos dois comentários anteriores mostram a dureza de uma situação mesmo pós catástrofe, é que também temos sentimentos com memória.

lc
já participei, mas lembra-te que nesta discussão eu não gozo a tua liberdade.

Anónimo disse...

A vida é assim. Nós mudamos, a natureza muda e é mais forte do que o homem.
Mas, os sentimentos existem

A minha avó materna era irmã da esposa do Fontes do "botequim", o meu avô materno também era dos Espalhafatos.Quando vinha de férias ao Faial, passava uns dias nos Espalhafatos, não gostava da noite, porque não havia luz eléctrica, mas achava imensa piada ao alçapão que ia para o botequim.Memórias