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quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA - que lugar para as Ciências da Terra?

Até meados do século passado sabe-se que a divulgação científica era considerada um trabalho menos nobre no campo das pessoas ligadas às ciências.
Depois o impacte de grandes obras de divulgação científica, em livros ou na televisão, de Richard Dawkins, Carl Sagan, Steve Hawking, David Attenborough e muitos outros, ou de denúnica de problemas ambientais, como "A Primavera Silenciosa" de Rachel Carson, mostraram a importância da divulgação do conhecimento científico, de uma forma acessível ao grande público, como meio para se valorizar a ciência, cativar novas gerações de investigadores, fundos para os projectos a implementar e catapultar o conhecimento e o progresso das sociedades.
Na minha opinião, em Portugal a Divulgação Científica nunca foi um instrumento valorizado e um dos campos onde mais se sente essa lacuna é nas Ciências da Terra.
À excepção de alguns programas ligados ao 50º aniversário dos Capelinhos ou ao terramoto de Lisboa e de alguma informação de apoio nalguns programas sobre ambiente, a Geologia, Geografia física, Geofísica e Geomorfologia, etc. estão ausentes dos programas de televisão, jornais e livros de Divulgação Científica produzidos nacionalmente.
A título de exemplo e não de bairrismo, no trimestre que antecedeu ao presente Ano Internacional do Planeta Terra, a CBC, o canal de serviço público de rádio e televisão canadiano, apresentou, com grande pompa e divulgação nas duas línguas oficiais federais, uma série de cinco episódios, em horário nobre, sobre a Geologia do Canadá, com o nome "Geologic Journey" ou "Odyssée Géologique" para preparar o grande público para as comemorações a decorrer ao longo do presente ano.
Hoje a série está disponível em dvd e à venda em todas as principais lojas de produtos deste suporte audiovisual naquele país.
Em Portugal que se passa?
As orlas Mezocenozóicas, a Zona Centro-Ibérica, a Faixa Piritosa Alentejana, o Vulcanismo das Ilhas, a Tectónica e Sismicidade em Território Nacional, entre outros assuntos, não dariam temas para séries televisivas de modo a dar a conhecer ao povo português as principais características do chão nacional?
No momento em que as Ciências da Terra parecem preteridas, face a outras matérias no ensino básico e secundário, a quem interessa este tipo de desconhecimento sobre o nosso País?
Quem olha os eventos da página nacional das comemorações do Ano do Planeta Terra, vê que a maioria dos acontecimentos já ocorrem nos anos normais e apenas a dinâmica de alguns núcleos de professores permite uma concentração de acções nalgumas regiões, como no caso de Leiria (parabéns!).
Na internet, a divulgação está sobretudo a cargo de alguns blogs pessoais e escolas. Não parecem existir páginas de instituições com conteúdo e diversidade tipo USGS, Smithsonian Institute ou outras típicas de países onde o conhecimento é a alavanca para o progresso nacional.
A quem interessa esta falta de um sistema forte de divulgação científica em Portugal, com destaque para as Ciências da Terra?
Alguém dos profissionais ligados a este campo de saber está a fazer algo para mudar esta situação em Portugal?
Com esta lacuna alguém pode admirar-se com a pretensa desvalorização nacional dada às Ciências da Terra?
Dúvidas que talvez não terei resposta, mas que já não mais posso em consciência calar.

8 comentários:

RJ disse...

O ensino científico (em geral) em Portugal nunca foi muito valorizado, considerando a vertente prática.
A geologia "mainstream" no nosso país está restringida quase ao prof. Galopim de Carvalho.
As ciências da terra são algo desprezadas no percurso escolar, pois não se inserem muito nos "cursos da moda" (medicina, arquitectura, gestão, psicologia e ciências sociais). A biologia está mais difundida e acaba por apanhar mais alunos, pois insere-se na hierarquia de candidatura mais comum- Medicina, Med. dentária, farmácia, bioquímica, engª química, biologia.

A grande vantagem das geociências é o facto de grande parte dos candidatos estar no curso por vontade própria.

Discute-se tudo e mais alguma coisa por cá, mas não há muito lugar para a ciência.
Não há uma cultura de divulgação científica no nosso país. O que o portuga comum sabe é que há granito no norte e mármore no alentejo, pouco mais.

Cumprimentos

PS: Sou licenciado em Engª Geológica pela univ. Coimbra

Carlos Faria disse...

ao RJ
Obrigado por ter visitado o meu blog, venha sempre que desejar, na generalidade concordo consigo, embora quando andei pela FCUL, aluno do simpatiquíssimo e acessível Prof. Galopim, também tinha colegas que andavam em geologia como a enésima opção dentro de uma lista de outros cursos melhor colocados, mas na nossa área também existe muita gente por gosto.
Uma das razões porque penso que a geologia é tão desvalorizada em Portugal está relacionada com o facto de na nossa "classe" e país nunca nos termos virado para a sociedade e divulgado o nosso conhecimento, isso torna-nos desconhecidos e presa fácil de alguns preconceitos. Nos açores quem fala de vulcões e sismos é herói e respeitado porque o povo tem ânsia de saber sobre essas áreas, no Continente nunca se alimentou o desejo de saber temas na área das ciências da terra, embora haja minas, mármores de extremoz,termas e muitas outras coisas que poderiam servir de aperitivo à divulgação. Os biólogos nisso foram muito mais espertos, embora também exista a componente que enunciou.

Anónimo disse...

conheço pouco da ciência do solo. muito interessante seu post. beijos, pedrita

RJ disse...

Já se começa a fazer algo dentro da divulgação:
cabo mondego, museu da pedra em cantanhede
http://www.cm-cantanhede.pt/xsite_cantanhede/CantanhedeOnline/Cultura/MuseudaPedra.jsp?CH=543&PCH=533
, museu do mármore em estremoz (fraquinho a nível de atendimento), passeio geológico da foz do douro. Não estou muito ao corrente do que se faz nas ilhas, mas oferecem algo que quase não há por cá.

Já andei por Borba e Estremoz, tanto como turista como em trabalho e aquilo é espetacular, tirando as escombreiras que "desembelezam" a paisagem.

Somos um grande exportador de pedra ornamental e pouca gente sabe disso.

RJ disse...

Obrigado também por visitar o meu blog, onde escreve também um licenciado em geologia.
As temáticas abordadas são mais gerais, mas lançaremos um ou outro artigo relacionado com ciência e geologia quando calhar:

http://evilbrutalis.blogspot.com/2007/12/estes-criacionistas-ainda-so-mais.html

Lc disse...

Portugal é um país de letras, lol antigamente era dos 3 F (futebol, fado e Fátima), agora deve ser ( T de telenovelas, S,I,OT stars, ídolos ou operações triunfo, RS reality shows), cultura????
Empurra-se para a RTP 2, TARDE E A MÁS HORAS COMO DE COSTUME.
ENFIM É O REFLEXO DA MAIORIA, POR ALGUMA RAZÃO O "CONSUMO" DA INTERNET ESTÁ A SUBIR E O DA TV A DESCER. CONFESSO QUE JÁ ESTOU FARTO TAMBÉM, DAS MARATONAS DE TELENOVELAS OU DE 1 HOMEM TER DE SALTAR DE UMA PONTE PARA MOSTRAR Á SUPOSTA NOIVA QUE A AMA...

Lc disse...

O mês de Dezembro para mim, foi menos produtivo no blog, decidi descansar um bocadinho, agora tive a por a leitura em dia, sendo este blog um dos primeiros a ser lido.
Escrevo tudo isto, para agradecer a referência feita ao blog Rota das Hortênsias, no post PRÉMIO.

Carlos Faria disse...

Olá LC
o prémio foi merecido. Já agora, informo que não me esqueci que ainda estou em falta contigo por algo que prometi fazer. Feliz regresso à actividade, já vi que a imagem do blog também se alterou.