Eis como nasceu uma das estruturas mais belas do Faial!
Provavelmente ainda com erupções vulcânicas pertencentes à Formação de Almoxarife, eis que há cerca de 16.000 anos o Vulcão Poligenético dos Cedros reentrou em erupção, de uma forma altamente explosiva e durante os últimos milhares de anos parece ter repetido estas de fúrias pelo menos 14 vezes.
Algumas destas explosões foram tão intensas que expulsavam da cratera fragmentos de magma a grande temperatura que ao cairem cobriram grandes extensões do Faial com pedra-pomes. Uma rocha granular, normalmente clara, cujos grãos são muito porosos e flutuam na água (foto imediatamente acima e abaixo).
Outras vezes as explosões tiveram tanta energia que pulverizavam o próprio magma expelido da cratera e que se depositou em muitos lugares da ilha como um pó a que os geólogos chamam de cinza vulcânica.Há cerca de mil anos as explosões fizeram escoar núvens de gotícolas de magma sobre muitos vales da ilha, com destaque para os Cedros - Ribeira Funda, Pedro Miguel - Praia do Almoxarife e Flamengos.
As gotículas e lava nos vales denominadas de núvens ardente cobriram a floresta de então com dezenas de metros de cinza, pedra-pomes e areia, deixando no sei interior troncos de árvores queimados, uma espécie de carvão natural e que ainda hoje parece actual. À rocha assim formada os geólogos chamam ignimbrito e a sua origem podem destruir cidades inteiras em segundos, como São Pedro da Martinica e Plymouth respectivamente no início e final do século passado.
Como resultado destas explosões o centro do vulcão foi desmantelado e a cratera alargou-se e transformou-se numa estrutura de beleza impar, cujo nome técnico e popular se estendeu para além dos Açores - CALDEIRA - assim nasceu a Caldeira do Faial! (clique para ampliar)Desde então, talvez pouco antes dos portugueses pisarem o Faial pela primeiroa vez, uma pequena erupção ocorreu no seu interior e formou-se um cone vulcânico na base da Caldeira, provavelmente sinal de um outro vulcanismo que já estava igualmente a nascer no Faial.
Na noite de 12 para 13 de Maio de 1958 uma pequena explosão no fundo da Caldeira cobriu o seu interior de uma fina camada de cinza... talvez para nos lembrar que o Vulcão dos Cedros e que nós faialenses chamamos de Vulcão da Caldeira pode estar a dormir, mas não morto.
Curiosamente a pedra-pomes destas explosões por vezes chegaram à ilha de São Jorge, transportadas pelo vento, mas parece que a nossa ilha irmã do Pico nunca foi tocada por estas fúrias, talvez sinal da fraternidade destas duas ilhas que geologicamente parecem siamesas.
Apesar de tudo os faialenses devem saber que o início de uma erupção é sempre vigiado pelo Centro de Vulcanologia e por isso podem dormir descansados que alguém vigia o vulcão 24 horas por dia...
A tese de doutoramento de PACHECO, J. (2001) – "Processos associados ao desenvolvimento de erupções vulcânicas hidromagmáticas explosivas na ilha do Faial e sua interpretação numa perspectiva de avaliação do hazard e minimização do risco"... é uma das fontes deste e de outros posts deste blog.

4 comentários:
É sem dúvida, um dos locais mais belos da nossa ilha.
Obrigado pela explicação, sobre um local que visito sempre que estou no Faial.
Bem, a formação da caldeira é a minha parte favorita: explosões, gotículas de lava a percorrerem os vales e a incendiarem tudo por onde passam. Isso esteve mesmo dantesco. Então a pedra-pomes chegou mesmo a S. Jorge. E não chegou ao Pico, por solidariedade.
Se tiverem, de novo, problemas com o vosso vulcãozito, o que sinceramente não desejo, nós certamente retribuiremos e disponibilizaremos o nosso grande hospital e aeroporto, com ligações frequentes a qualquer lado.
Gostei muito da excelente descrição.
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