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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA DAS ILHAS VULCÂNICAS III: o Recuo da Linha de Costa 3

Raramente uma arriba é constituída apenas por um único tipo de material, consolidado rígido ou brando, normalmente estas intercalam rochas com características diferentes, inclusive, as escoadas basálticas apresentam, frequentemente, um topo e uma base desagregada, denominada clinker, assim quando estas se sobrepõem, na arriba alternam camadas coesas com soltas.
Escoada típica de lava escoriácia, pouco espessa com uma zona central consolidada mas com o topo e a base constituidos de material desagregado (clinker)

Esta variabilidade faz com que o mar comece a erodir os materiais desigualmente, em função do grau de resistência destes, erosão diferencial, originando, por vezes, grutas litorais - algumas de grande beleza -, mas responsáveis por recuos bruscos da arriba, devido à possibilidade de colapso dos respectivos tectos. Esta situação pode colocar casas litorais sob ameaça de destruição e aconselha a que se planeie convenientemente as zonas de construção urbana junto à costa, de modo a se evitarem zonas de risco.
Aspectos da erosão diferencial por resistência diversificada das camadas sobrepostas, à direita uma plataforma de abrasão de material resistente ao nível do mar e ao centro grutas de material mais brando à mesma cota.

Esta diversidade de materiais é responsável, além das grutas, pela criação de arcos, enseadas (onde saltamos para o mar), poças (que transformamos em piscinas naturais) e uma grande geodiversidade de aspectos que dão grande beleza do nosso litoral.
A evolução natural duma arriba com sobreposição de materiais diferentes, grandes desnível e inclinações...

Mas, mais lenta ou rapidamente, em função das proporções de materiais brandos ou consolidados e da intensidade dos agentes erosivos externos, o mar vence sempre a longo-prazo, o recuo progressivo do litoral é um facto. Assim, as ilhas vulcânicas com o tempo, além de ficarem mais baixas, também se tornam mais pequenas e todos os post desta série se encaminham para a desfecho final desta luta, que para o caso dos Açores mostrará uma hipótese que corresponde a uma surpresa para alguns.

7 comentários:

Grifo disse...

AS pessoas querem que as coisas sejam assim... basta ir á ponta furada e ver que lá tem uma casa (já muito destruída) isso demonstra muita irresponsabilidade da pessoa que lá construiu a casa, infelizmente as coisas não mudaram... pelo menos de forma visível na mentalidade das pessoas...

Carlos Faria disse...

ao grifo
no passado não muito longínquo julgava-se que o mundo à nossa volta era praticamente imutável. poderia surgir um vulcão, um sismo, um temporal e uma inundação, mas no geral pouco mudava, só mais recentemente é que se começou a estudar e a informar publicamente que a natureza muda. há o recuo da costa, alteração dos leitos dos rios, a formação das montanhas e a sua destruição e mais rápida ou lentamente o mundo é mesmo composto de mudança, por isso não podemos julgar os mais antigos. hoje com mais informação fazem-se erros graves e dpois com o dinheiro tenta-se emendar da pior forma o erro efectuado.

Lc disse...

Com esta luta pela sobrevivência, podemos nós bem...lol
Quanto à outra, e ao uso desse teclado com o qual nos presenteias com estas curiosidades geológicas, não esperava outra coisa de ti, caro amigo, espero ansiosamente por tal artigo(ART vs Triângulo), cada vez mais a critica está reduzida a alguns,e a maioria que escreve nos jornais desta terra, devia era estar calado, não é o teu caso felizmente.

Carlos Faria disse...

Pois se não surgir outro tema e não houver um assunto que me abafe, será sobre aquela triste frase a minha próxima crónica quinzenal no diário local, mas só depois de iniciar o documento é que sei exactamente do que falarei.
Sobre esta luta pela sobrevivência das ilhas, alertei para outros riscos e julgo que haverá curiosidades no próximo post, vamos a ver se gostam...

Anónimo disse...

à acção do mar contrapõe-se a dos vulcões, que ocasionalmente vão repondo o que aquele leva.

RJ disse...

Esta triste realidade dos recuos da linha de costa é frequente ao longo do país. Apesar da desagregação de muitos taludes de costa já em si algo "fraquinhos" geotecnicamente muita autarquia permite a construção em massa nas imediações de falésias em risco, tal como acontece na costa algarvia, por exemplo.

A diferença de consolidação ou de cimentação entre camadas é um dos factores mais importantes a considerar num estudo geológico-geotécnico de um talude ou arriba. Associado a outros factores (presença de água, inclinação das camandas, diaclasamento e fracturação, etc...) pode-se estimar o grau de probabilidade da ocorrência de instabilidade e, consequentemente, de acidentes.

Mesmo que o material não aparente estar desagregado, com a inclinação certa, uma camada argilosa (ou uma marga) intercalada entre outras mais duras se apanha água por qualquer motivo fica tipo manteiga e torna todo o talude como potencialmente instável. É caso para dizer que se comporta como uma tosta mista onde o queijo está derretido...

Carlos Faria disse...

ao maugastamanhas
Claro que isso por vezes acontece e está referido no post II desta série onde refiro:
"Assim, as ilhas crescerão sempre que a actividade eruptiva for do tipo construtivo e emitir, de uma forma mais ou menos calma, lava ou piroclastos em maior quantidade do que aqueles materiais que estão a ser destruídos pelos Agentes de Geodinâmica Externa"
Infelizmente os próprios vulcões também podem ser destrutivos e mesmo quando constroem, cobrem campos anteriores, pelo que a melhor solução é não construir em litorais instáveis e demasiado próximo das arribas.

ao RJ
concordo plenamente com tudo o que dissestes, não fui tão profundo, limitei-me aproveitar esta sub-série de post para alertar do risco do recuo das arribas, para consciencializar as pessoas a não construírem demasiado próximo destas, pois cedo ou tarde a arriba e o mar vão-lhes bater à porta.