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segunda-feira, 25 de maio de 2009

PROCESSOS E MEIOS DE DESGASEIFICAÇÃO I

A Terra aquece gradualmente com a profundidade, Gradiente Geotérmico, e várias substâncias das rochas que se afundam liquefazem-se ou passam ao estado gasoso sob pressão. Estas, tal como na panela, tendem a libertar-se, assim a desgaseificação ocorre em muitos locais do planeta.
Nas regiões vulcânicas, o Gradiente Geotérmico tende a ser maior, há mais fusão a menor profundidade, massas que se agrupam em bolsas de magma, numa mistura de minerais sólidos, líquidos e gases. Assim, sobre as câmaras magmáticas é normal haver desgaseificação intensa por todas as vias possíveis, como se depreende da figura abaixo.

Desgaseificação numa região vulcânica, adaptado de P. Allard

A desgaseificação pode ser evidente se for de forma centrada ou focalizada como nas fumarolas, nascentes termais, geisers ou pluma vulcânica duma erupção. Sinal de condutas profundas. Quando há vapor de água vê-se o "fumo" - fumarola; se houver sulfureto de hidrogénio (H2S), surge o cheiro a ovos podres.
Um dos gases mais abundantes na desgaseificação vulcânica é o dióxido de carbono, sem cheiro ou cor. Os locais onde este se liberta concentradamente chamam-se mofetas, podem ser denunciados pela morte de plantas e de animais sem motivo evidente ou por provocarem mal estar às pessoas (a morte em situações extremas). É um risco vulcânico mesmo sem erupção!
Se a libertação concentrada de dióxido de carbono passar em parte despercebida à superfície, debaixo de água as bolhas denunciam a situação. No Faial, descobriu-se recentemente um caso em terra invisível... mas a centenas de metros deste, no mar e perto da Ponta da Espalamaca, a desgaseificação torna-se espectacular, como no vídeo abaixo.


Vídeo de Marco Aurélio Robalo Santos

Além da forma concentrada, a desgaseificação pode ocorrer de outra forma no Faial e noutras ilhas açorianas, assunto a ser tratado noutro post.

Imagem adaptada de: Allard, P (1996) Geochemistry of volcanic gases: Composition, origin and flux. Application to volcano monitoring. Proceedings of course: The mitigation of volcanic hazards. European Comission.

8 comentários:

A ilha dentro de mim disse...

Espectacular! São infindáveis os mistérios que encerram estas pequenas parcelas de paraíso. Mas fiquei curiosa: onde fica essa recém-descoberta mofeta invisível? E a submarina, como a que se vê no vídeo, também tem efeitos nefastos na população animal que tranquilamente por ela se passeia?

Carlos Faria disse...

Infelizmente, surgiu dentro de uma casa no fundo da praia do almoxarife o que obrigou à evacuação dos seus moradores à cerca de 2 anos o que surgiu na comunicação social local (tal como as fumarolas, a mofetas podem deslocar-se, surgir ou extinguir-se num sítio). Não tenho relatos de terem efeitos tão nefastos,talvez porque não retirem o oxigénio da água e subam até à superfície, enquanto que nós precisamos duma fracção relativamente fixa de O2 no ar e o CO2 concentra-se nas zonas mais baixas... mas acredito que nalguns casos possa ser catastrófico...

Pedrita disse...

sempre acho interessante como a terra se mantém nessa forma. e sempre me assusta as mudanças do tempo. beijos, pedrita

A ilha dentro de mim disse...

Ora aí está um visitante que ninguém gosta de receber. Não me lembro de ter lido ou ouvido falar nisso, embora receba o Tribuna. Mas provavelmente nessa altura andava mergulhada noutras preocupações. De qualquer maneira, continua a ser um fenómeno muito interessante. Sobretudo no mar, onde além de inofensivos são particularmente belos.

Carlos Faria disse...

à pedrita
a terra por vezes também muda de forma, umas vezes lentamente, como a separação do brasil de áfrica; outras rapidamente, como em sismos, vulcões, inundações. só que muitas pessoas se esquecem destas mudanças bruscas e não diárias e por isso não se preparam bem para quando elas ocorrerem.

à ilha dentro de mim
eu não acompanhei a notícia pelos ocs, embora a tenha visto, pois estava envolvido no processo a reconhecimento e análise da situação.

Grifo disse...

Olá

Da outra vez não tive tempo para deixar um comentário...

Na praia perto da rebentação há também uma zona onde isso acontece... lembro-me de ser pequeno e estar com os meus amigos lá de roda, e também o vi á pouco tempo... não sei se o verão passado o vi... mas está lá todos os anos... é giro ver a areia a borbulhar (isto junto á parte mais próxima do parque [+/-])... no outro lado da praia junto ao cais existe uma nascente de água debaixo de água (gelada)...

Carlos Faria disse...

acredito que tenhas visto algo que eu não vi... pois o lugar em terra é muito perto do mar e pode haver mais desgaseificações na vizinhança... lembras-te de eu ter dito que temos de estar preparados para alterações nas verdades científicas? quando fiz o trabalho sobre CO2 no faial em 2002/2003 não encontrei situações muito anómalas... o colega que prosseguiu o meu trabalho dois anos depois também não. há dois anos, eis que se descobre este caso em terra. a submarina na ponta da espalamaca já eu conheço há muitos anos por informação de terceiros e depois fui lá ver num barco com um professor meu da faculdade.

Grifo disse...

Em terra só é detectável com olhos muito atentos e em zonas urbanizadas qualquer coisa pode ter morto as plantas...

Por acaso "conheço" (amigo dos amigos) o filho das pessoas que tiveram que abandonar a casa, e essa é a pior forma de descobrir a fuga...