Páginas

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

CHÃO QUE DEU UVAS

Tempos houve, não muito distantes, que no meio rural do Faial não havia dinheiro disponível. Apenas abundava o milho, o trigo, a batata doce ou da terra, a laranja, a maçã, o pêssego, o figo, a ameixa, a nêspera e a uva, o peixe acabado de pescar, a carne de vaca ou de porco (tanto fresca, como salgada), as couves para acompanhar ou a cebola, o alho e a salsa para aromatizar e ainda o vinho feito por um conhecido da Praia do Norte, do Capelo ou, sobretudo, do Pico e... vi eu bem, muito alegria no trabalho.
Hoje, o dinheiro circula no campo e os bancos cobram as dívidas da casa, do carro, da adega ou da mobília nova e dos electrodomésticos, mas o chão que deu uvas cobre-se de ipomoeas de flores roxas que se alastram pelos quintais e desfeiam as zonas balneares...

Antigamente o chão de pedras - chamados mistérios ou biscoitos - dava uvas e figos que se transformavam em vinho e aguardente. Agora... jaz abandonado, estéril, triste com saudades dos campos alegres sem crise...

13 comentários:

Grifo disse...

actualmente já ninguém tem paciência de tratar das vinhas e de fazer o vinho... só no pico onde é um grande negocio... pena... é património que se perde,mas digo que não era eu que ia fazer isso, mas tenho pena de ver pessoas do Faial ir para o Pico fazer isso, deixar as vinhas Faialense ao abandono...

Pedrita disse...

os campos como eram realmente parecem sonhos hj. beijos, pedrita

LPGarcia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
LPGarcia disse...

Hoje em dia não compensa ter a tal dita vinha que voces tanto falam, pois especar, sulfatar, tirar folha etc fazer o vinho, não dá para o gasto.

Carlos Faria disse...

grifo
outros interesses, necessidades e gostos levantaram-se e vieram ocupar o tempo e o gosto que havia nos nossos quintais e vinhas... e a memória do passado vai-se apagando.

à pedrita
pois as coisas mudaram mesmo e não ficou mais bonito.

ao pseudocódigo
como deve saber tenho o meu quintal com fruta e produtos hortícolas e os meus jardins com flores e espaços verdes roçados ou aparados... ainda há muito a melhorar, mas descobri o prazer no amanho da terra que não descobrira quando novo, mas não preciso de mais terrenos tenho qb.
Pois acredito que a despesa com o prazer do amanho da vinha não dê para o gasto, antigamente era a necessidade que cobria a despesa.

spring disse...

Caro Geocrusoe!
Dizem que os tempos mudaram, mas cada vez são maiores as desigualdades no mundo, olhamos o passado quando conversamos com os mais velhos e descobrimos que nesses tempos dificeis, eles conseguiam construir a felicidade com tão pouco, enquanto hoje no século xxi, a sociedade de consumo,oferece-nos uma felicidade enganadora e quando passamos pela pessoas na rua é cada vez mais difícil encontrar um sorriso, esse sorriso que é sinónimo de bem estar com a vida.
Abraço cinéfilo
Paula e Rui Lima

Carlos Faria disse...

ao rui luis lima
Vi que compreendeu perfeitamente uma das principais mensagens do post: as pessoas aspiraram o estilo de vida urbano e, como consequência, os campos foram abandonados, atrás de um mito que deixa as pessoas mais preocupadas, menos felizes e as paisagens rurais degradadas.

Maria Silva disse...

Pois é, esse chão dá deu sustento. Do modo que as "coisas" se estão trajando, vai voltar a ser utilizado na sobrevivência alimentar.

Bom fim de semana

Carlos Faria disse...

à nanda
só lamento que se pense que só volta a dar sustento devido aos problemas da humanidade e não pelo gosto de se saber e querer tirar o proveito da nossa Terra... os custos dos erros e da vivência enganosa da civilização moderna são mais espinhosos que o viver em equilíbrio social e ambiental.

maugastamanhas disse...

Pergunte-se a essas pessoas, antigas, que cultivavam esse chão, se querem voltar a esses tempos. Todos gostam de bucolicamente os evocar mas poucos quererão penar como se penava na altura por falta de alternativas. À mínima oportunidade era abalar dessas ilhas para as Américas. É bonito pôr essa hipótese, por opção, escolhendo. Mas quem vivia dessa agricultura de subsistência raramente o fazia por opção. Momentos de alegria e beleza que escondiam muitas vezes a fome e a miséria .... Essa época, na minha opinião, não era um mar de rosas nem a civilização moderna é um degredo deprimente.

Carlos Faria disse...

ao maugastamanhas
reconheço que muitas maugas havia... mas vi que se vivia com dificuldades, honra e dentro das possibilidades do seu trabalho. será que hoje os açorianos vivem do que produzem, não haverá ilhéus que digam que os açores precisam de subsídios enquanto deixam o seu solo abandonado? A fome e miséria de antigamente era menos digna que a dívida ao banco de hoje?
Não se pede a ninguém que invente riqueza, mas considero vergonhoso que numa das regiões mais pobres da europa se reivindique apoios ao exterior e se deixe os seus terrenos abandonados e sem produção, não é ser-se bucólico é uma questão de moral. O passado não podemos alterar, os erros do presente precisam e podem ser corrigidos, para isso há que mudar mentalidades

Rui Coutinho disse...

Talvez 2009 comece a ser o ano do regresso à terra, ou à fomeca.
Um abraço

Carlos Faria disse...

ao rui
Compreendo a tua indirecta, mas preferia que fosse o gosto voluntário por ter os espaços em torno das nossas casas "amanhados" e produtivos que levassem ao desaparecimento destas manchas abandonadas junto das moradias dentro das nossas freguesias, em vez das imposições duma crise que resultou de um acumular de erros.