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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ERA UMA VEZ UMA ESCOLA...

Era uma vez uma escola muito engraçada... tinha varandas vermelhas, alpendres cobertos, vasos floridos, cantaria tradicional, telhados que abrigavam plantas e paredes de argamassa branca entre blocos de basalto escuro...
Só que por decisão superior não tem mais crianças... apesar de continuar orgulhosamente bela.
Ontem acolá... hoje ali... e amanhã aqui, assim o riso e a gritaria das crianças vai-se silenciando pelas nossas freguesias rurais, fruto de um sistema que se julga saudável e humano por retirar as pessoas e as novas gerações do campo.

10 comentários:

José Quintela Soares disse...

Varandas, alpendres,vasos, cantaria...

E quantas crianças lá andavam?

Faço a pergunta porque não sei a resposta. E ela, provavelmente, explica o encerramento.

Compreendo a preocupação, mas há que reconhecer que escolas com meia dúzia de alunos...não são escolas, por muito bonitos que sejam os edifícios.

Abraço.

Carlos Faria disse...

@ José Quintela
Não sei quantas crianças lá andavam, mas sei que se andavam poucas é porque se tem efectuado polítcas para o despovoamento rural e do interior.
O post é um grito contra as medidas de desrespeito ao meio rural, cujas escolas são um reflexo.
Escolas com meia duzia de crianças não são escolas em Portugal, apenas o são em países Nórdicos ou Canadá, nos seus lugares mais afastados vejam se tiram de lá as crianças como neste país à beira mar.

Anónimo disse...

Por este andar, com estas políticas, vamos assistir ao ressurgimento dos antigos liceus, porque são maiores, têm melhores condições,e vá lá,sempre serão três...
Parabéns pela lembrança do edifício/ escola, numa ilha desconhecida, que está cheia de edifícios magníficos, muitos desconhecidos.

Carlos Faria disse...

@ anónimo
Dói-me ver como se tratam as pequenas localidades, tirando-lhes condições de vida, roubando-lhes dignidade, esvaziando os campos agrícolas e concentrando as pessoas em urbes maiores, a falta de alunos nestas escolas não é uma causa é uma consequência do que estão a fazer ao meio rural.
Neste caso, doeu-me muito ouvir a notícia sobre esta escola, numa ilha e freguesia que faz parte da minha vida, por coincidência, foram mais duas escolas rurais encerradas na mesma ilha

mb|Weblog disse...

De uma forma geral, num país onde a desertificação das zonas rurais é uma ameaça constante (tendência que se verifica mais no continente português do que nas ilhas, é verdade) a transferência para as cidades das poucas crianças que ainda marcam presença no meio rural acaba por ser uma ironia.

Anónimo disse...

Amigo:

Não te esqueças que a civilização não está nas escolas das aldeias/freguesias.
O que é preciso é utilizar a freguesia apenas como dormitório.
Ali, os avós já não são precisos.Aprender a amanhar a terra, brincando,já não é para as crianças, mas sim para os "importados".
Como agora se passa o ano,sem saber, o que é preciso aprender são coisas novas: novos vicios, etc.
Esta é para nós uma forma lenta de ir destruindo a familia.
Já se anunciam, "lar precisam-se".

Anónimo disse...

Carissimo
Não será culpa nossam que por egoismo, não seguimos a ordem natural das coisas, e não temos filhos?

Acaso ter filhos no tempo dos nossos avós e cria-los, era fácil?

As nossas escolas não estão vazias por maldade dos governantes.
É por egoísmo nosso que queremos tudo - carros, viagens, casas e telemóveis, mas não queremos as nossas casas cheias de crianças, com risos, choros e energia.

Carlos Faria disse...

@ mbweblog
Nos Açores a desertificação e envelhecimento da população faz-se mais nas ilhas menores, mas mesmo em São Miguel há grandes perdas de habitantes nos concelhos mais afastados de Ponta Delgada.

@ anónimo 12h16
Em parte essa foi a ideia do último parágrafo do post e que se serviu da escola das Manadas para lançar este grito.
Mesmo nas escolas, há já muito tempo que toda a vida é contada numa exaltação da vida na cidade, como se a do campo não fosse normal e uma opção com igual dignidade. Por isso, desenvolveu-se a ideia de que estudar e ser alguém era ter vida na cidade e abandonar o campo (como se aquela não tivesse amarguras tão grandes ou maiores que a vida rural).

@ anónimo das 18h34
Mas a própria escola me ensinou a mim que era sinal de falta de cultura ser-se pai de uma família numerosa e esses programas que esvaziam o valor da família, da solidariedade entre gerações numa mesma família foram promovidos pelos governantes em muitos países ocidentais e os frutos estão aí.
Não é por acaso que se subsidiou o fim da produção de muitos agricultores sem criar condições que outros em número suficiente ficassem no campo, não foi por iniciativa do povo que se tornou a agricultura de subsistência uma forma de descrédito de rendimento familiar e há muito mais, subentendido naquele último parágrafo do post.

Adelaide Martins disse...

Caro amigo:

Em Portugal continental, sobretudo no interior, é muito pior... O meu concelho de nascimento - Trancoso, no distrito da Guarda - tem cerca de 360 km2 de área e aproximadamente 10.900 habitantes. Tem 29 freguesias e, agora só tem em 3 aglomerados populacionais Escolas a funcionar... Há 30 anos tinhas mais de 50 Escolas!

Carlos Faria disse...

Pois, mas a haver situações piores não me conforta, apenas me entristece mais ainda.
Nos Açores existem mais escolas abertas porque o limite para o encerramento é mais baixo, caso fosse igual, teríamos menos escolas ainda.
Infelizmente esta sociedade leva ainda que muitos pais coloquem os filhos nos locais de trabalho e não nas suas aldeias de residência, agravando ainda mais o convívio dentro do meio rural de origem.