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segunda-feira, 8 de junho de 2009

PROCESSOS E MEIOS DE DESGASEIFICAÇÃO II

Além da desgaseificação centrada em condutas preferenciais de libertação de gases vulcânicos, as restantes áreas de uma região vulcânica não são completamente impermeáveis, existem pequenas fissuras e poros nas rochas por onde os voláteis de profundidade sobem até à superfície de uma forma que se estende por quilómetros em torno de um vulcão, designando-se este tipo por desgaseificação difusa ou dos solos.

Exemplo de equipamento utilizado num levantamento para determinar a concentração de CO2 no solo: 1 – sonda (tubo oco), 2 – analisador de CO2, 3 - filtro de gases, 4 - martelo para perfuração, 5 - tubo de silicone, 6 – parafusos, 7 – livro de campo e fotografia aérea.

Consequentemente, o ar atmosférico que se encontra no solo mistura-se com os gases vindos de profundidade e nestes abunda o Dióxido de Carbono (CO2). Uma das formas de determinar a intensidade de desgaseificação difusa é calcular a concentração deste gás nas misturas gasosas situadas no solo.

Analisador utilizado na elaboração da carta de anomalias de CO2 no solo do Faial realizada em 2002

Para se estimar a concentração de CO2 no solo introduz-se uma sonda a pequena profundidade e aspira-se os gases que são conduzidos para um analisador que determina no local a percentagem desta substância, repetindo a operação por centenas ou mesmo milhares de pontos à superfície, determinam-se as variações em área de abundância de CO2. Os locais que apresentam valores acima do que seria normal face à mistura do ar e à decomposição da matéria orgânica, dizem-se que possuem anomalias de CO2.
Carta de anomalias de CO2 no solo de 2002, a vermelho anomalias mais intensas, a branco áreas não anómalas ou não levantadas na Caldeira e Península do Capelo.

Transpondo os dados para mapas e após tratamento estatístico, elaboram-se cartas de anomalias de CO2 no solo, como exposta acima, estas fornecem informações sobre a estrutura da terra em profundidade, uma espécie de radiografia da zona estudada.
Existem cartas para outros gases e parâmetros de desgaseificação, o cruzamento de informação melhora o conhecimento do interior de um vulcão. O estudo continuado no tempo destas variações pertence ao domínio da monitorização geoquímica do vulcão e pode dar indicações importantes sobre a acalmia ou instabilidade deste, utilizadas na previsão de erupções, um assunto a aprofundar noutro post.

2 comentários:

Fernando Vasconcelos disse...

As zonas com maior concentração são aquelas em que existe maior probabilidade de existência de futuras erupções ? Ou simplesmente as alterações do mapa ao longo do tempo ou de forma brusca indicam que existe uma modificação do comportamento do vulcão?

Carlos Faria disse...

não tem de haver uma correlação entre os locais das anomalias difusas e os das erupções, por norma as zonas mais anómalas tem maior fissurações em profundidade, mas na maioria dos casos não coincidem com os locais onde ocorrem erupções, é mais fácil o percurso pelas zonas de desgaseificação centrada que são quase como condutas, mas o magma pode ainda abrir outros trajectos. Em breve falarei em vários posts das monitorizações vulcânicas, incluindo com gases e talvez aí perceba melhor como se detectam as variações e as interpretações sobre o estado do vulcão, havendo algumas bruscas e outras não.