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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Prémio Príncipe das Astúrias 2008: MARGARET ATWOOD

Poucos escritores vivos me marcaram tanto quanto Margaret Atwood. Hoje, ao abrir o computador de manhã, lá estava a notícia: Margaret Atwood ganhou o prémio Príncipe das Astúrias para as Letras, diante de 32 candidatos, venceu perante nomes consagrados, cujo marketing não precisa de ultrapassar as barreiras que a cultura canadiana tem de enfrentar para vencer fora de portas.
O prémio Príncipe das Astúrias, sem dúvida, actualmente um dos de maior projecção mundial na literatura, que várias vezes precedeu ao prémio Nobel, este ano foi entregue a esta escritora canadiana, cujos livros muitas vezes conjugam uma beleza e uma crueza ímpar, que nos fazem reflectir sobre as principais disfunções desta sociedade onde vivemos.

(foto extraída de Wikipédia)

Margaret Atwood, através da criação de mundos imaginados a partir de vários aspectos da realidade recente, é nalguns livros uma versão feminina e actual de George Orwell, Ray Bradbury e Aldous Huxley, num estilo sombrio designado em inglês por "dystopian", mas onde o sentimento e a reflexão estão sempre presentes.
Noutros livros, expõe a ternura, o amor e a complexidades dos laços sociais que se formam nas pequenas comunidades, onde se misturam os tabus religiosos e culturais, que afectam, sobretudo, os mais frágeis.

Parte da sua obra está traduzida em português, não conheço as traduções, mas destaco três livros por terem sido aqueles que mais me marcaram.

"The Handmail's Tale", o relato da vida de uma mulher após a instalação, de uma forma quase natural, de uma ditadura nos Estados Unidos. Um livro arrepiante, por vezes mesmo chocante, mas corajoso e proibido nalguns locais do ocidente mais conservadores, devido ao seu conteúdo arrojado. Governor General's Award, o prémio literário mais prestigiante no Canadá.


"Oryx and Crake", passo a passo, como foi o fim da civilização humana actual com base no evoluir da situação presente. Uma obra perturbadora, que denuncia de uma forma muito dura o abismo para onde o nosso mundo corre actualmente, com o domínio da internet, das multinacionais, da genética etc. Finalista do Governor General's Award, um feito que mostra a grande qualidade desta obra, mesmo face à sua crueza.


"The Blind Assassin", Booker Prize do ano 2000, o prémio mundial dos livreiros de língua inglesa e o livro que mais gostei de ler no século XXI: o amor, a ternura, a complexidade das relações humanas, a ficção científica, a realidade histórica, o feminismo e o seu oposto. Tudo se reúne nesta obra complexa de uma beleza difícil de igualar, recomendável a todos os tipos de leitores, mais sensíveis ou desejosos de emoções mais fortes, mas apesar de tudo, o espírito de denúnicia da autora nunca desaparece de todo no seio das magníficas páginas da obra.

13 comentários:

Pedrita disse...

nunca li nada dela, anotado. beijos, pedrita

Anónimo disse...

Nao venho dar marteladas, mas tirar o chapéu a um artigo sobre a Margaret Atwood, que muito admiro, e da sua obra, muito, muito arrepiante, e bem profunda.
Vim para falar de Brecht e Kurt Weil, e encontro um artigo destes.
Agradeco, pois ainda nao tinha conhecimento.

A versao da Ute Lemper também conheco. Há imensas versoes, até o Frankie Boy e Nina Hagen cantaram o Mackie Messer. Escolhi esta versao por ser a mais antiga e por ser a mulher dele a cantá-la.
O relacao dos dois era identica à do Joyce com a sua mulher Nora. Compreende o que eu quero dizer?

Fico feliz por se interessar pela cultura e língua alema.

Saudacoes de uma Alemanha em delírio, depois de derrotarem a Turquia.

Unknown disse...

Ja tinha lido sobre Margaret Atwood mas nunca li nada. Deixaste-me muito curioso. Ja sei o que comprar este fim de semana.
Abraco.

José Quintela Soares disse...

Desde que um certo português ganhou o Nobel da Literatura...que questiono muito a validade de prémios literários....

(A propósito...aconselho vivamente, a quem se quiser divertir, a leitura de uma entrevista feita por esse Nobel à viúva de Borges....)

Mas neste caso, de Atwood, parece-me inteiramente justo. E concordo com a análise de geocrusoe.

Os Incansáveis disse...

Mais uma autora para a minha interminável lista de livros "a ler".
Denise

Avó Pirueta disse...

Olá , Geocrusoe. Vim visitá-lo a sua casa e gostei do que vi. Primeiro, sobre si, quero dizer-lhe que acho que tem uma profissão apaixonante e tê-la e exercê-la nos Açores deve dar-lhe um enorme prazer. Parabéns, se for o caso, porque não há nada de mais gratificante do que fazermos aquilo que gostamos de fazer.
Agora vamos a Margaret Atwood: o último que li foi precisamente o "Assassino Cego", traduzido, mas fiquei muito desconsolada. Foi muito bem feito, porque prefiro sempre ler no original se conhecer a língua e andei a ensinar Inglês ( e ainda ando, embora de forma muito diferente e para cumprir outros objectivos), logo, não se justificava a tradução. Já agora, permito-me dizer-lhe que raramente fico satisfeita com uma tradução e as do Círculo de Leitores têm exemplos absolutamente aberrantes. Reclamo, claro, nem posso deixar de reclamar, mas as coisas ficam na mesma. Bem, já lhe retribui a visita, já sei muito de si, gostei do que vi, li e adivinhei e de vez em quando virei visitá-lo. Ah, e vou comprar "The handsmail's tale". Assim, à cautela...
Um abraço, Carmo Cruz, mais conhecida internacionalmente (...) por Avó Pirueta

Luís Galego disse...

Margaret Atwood ganhou o prémio Príncipe das Astúrias

ficou muito contente com a noticia e igualmente feliz porque a divulgas....

Um abraço

Luís Galego disse...

onde se lê "ficou, leia-se "fiquei"

Outro abraço

Carlos Faria disse...

não poderei responder um a um por já serem muitos, o que me alegra, porque gosto de receber comentários e, neste caso, o tema era sobre uma escritora que muito admiro e do meu país natal.
Reconheço que apesar de Margaret Atwood ser brilhante, nem sempre as suas obras são de fácil leitura (sobretudo as dystopian stlyle), a denúncia de injustiças e disfunções sociais, mesmo de uma fora artística e simbólica, é por vezes díficil, veja-se o quadro Guernica.
Para quem não a conhece, entre os livros que citei, o mais fácil e que tem todas as vertentes da escritora é "O assassino cego", não conheço a tradução, mas considero o original brilhante.
Por isso, para quem não a conhece, recomendo-a, mas se quiserem aventurar-se logo pelos mais orwellianos, preparem-se... orwell também era chocante. Mas vale a pena conhecer...

James Joyce conheço muito mal, inclusive a sua relação com Nora.

Carlos Faria disse...

à maria do carmo cruz
julgo ser a primeira vez que se aventura por cá, seja bem-vinda.
não faço precisamente o que gosto, pois não investigo geologia, nem estou inteiramente dedicado a ela. Todavia, gosto de parte do que faço, o que já é bom. trabalho na administração regional em ambiente, sobretudo num campo onde estamos próximos da investigação: a avaliação de impactes ambientais. Paralelamente, colaboro ainda de modo esporádico com o centro de vulcanologia da Universidade. Mas consigo tirar sempre algum gozo daquilo que faço e que os Açores me dão, o que é mesmo muito. Leia Atwood em inglês, é mais seguro. Até à próxima

ematejoca disse...

Tenho a mania de mencionar os aniversários de algumas pessoas. Hoje faz anos a Margaret Atwood.
Quando ela ganhou o Prémio Príncipe das Astúrias 2008 o geocruseo escreveu um artigo excelente. Lembrei-me dele e levo a hiperligacao. Obrigada!

Pedrita disse...

a autora me impactou muito tb. nem lembrava mais dela qd ganhei os livros. eu ganhei tb o oryx and crake. talvez o assassino cego tb. foram muitos livros e muita correria, não olhei ainda com calma.

Pedrita disse...

fiquei impressionada com handmaid´s tale. como pode alguém escrever tão bem sobre sistema ditatoriais e só vamos percebendo os horrores nas entrelinhas, pq cada um pouco sabe do todo. genial.