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quarta-feira, 11 de junho de 2008

O TRAQUITO NA CONSTRUÇÃO FAIALENSE 2

O Colégio dos Jesuítas na Horta é sem dúvida o maior conjunto arquitectónico da ilha e a sua fachada principal a mais imponente dos Açores. Não só devido à sua grande dimensão, mas sobretudo, devido ao facto de nesta cidade, em anfiteatro, os templos serem colocados, por norma, em locais sobreelevados na encosta, virados ao mar e ao Pico, o que lhes amplia a volumetria aparente e a monumentalidade. (clique nas fotos para ampliar).

A dimensão deste conjunto, numa vila de poucos milhares de habitantes, mostra quão importante era a Horta como escala nas rotas marítimas do império português do século XVII e XVIII. A sua construção, entre o período barroco e rococó, foi favorecida por uma época em que a arquitectura católica exaltava a força da religião, por isso, não admira que o interior estivesse preparado para acolher todos estes princípios e a talha dourada...

Só que enquanto o templo se construía, o Marquês de Pombal expulsou os Jesuítas de Portugal e a igreja ficou com a decoração incompleta. Não sei como seria se tal acontecimento não tivesse ocorrido, mas a sua ocorrência permtiu que a importância do traquito na traça arquitectónica ficasse bem evidenciada. Num espaço cuja grandiosidade interior apresenta paredes laterais que mais parecem alçados exteriores, com uma elegância que, por mais que olhe, nunca deixo de admirar.

Paredes brancas, com arcos, altas, modeladas pela cantaria cinza clara e alguma talha dourada quanto baste, conferem a este templo uma beleza muito própria e uma dignidade ao traquito que não conheço em mais lugar nenhum.

Transformada em Matriz da Horta no século XIX, devido à ruína e desmoronamento da antiga Matriz, em consequência das várias crises sísmicas, intempéries e incêndios que a afectaram. A nova Matriz passou a ter o orago da anterior, São Salvador, dignamente colocado no altar-mor, concluído pelos jesuítas, cercado de líndissimos azulejos, mas onde é notória a falta de talha dourada a cobrir a capela e... claro está, ficou evidenciado o traquito.

No lado sul do templo, o único altar e respectiva capela concluídos, servem de perspectiva de como, provavelmente, seria este templo: caso os jesuítas tivessem completado a obra. Seria muito belo e rico, mas preservaria a elegância que possui presentemente?

O magma traquítico, como disse no post anterior, é frequentemente expelido dos vulcões de forma explosiva... passa então a ter outro nome e aspecto, mas isso fica para o próximo post.

5 comentários:

Pedrita disse...

eu fico sempre assombrada com os lixos das igrejas no brasil e em portugal e imaginar que todo o ouro era saqueado e levado de minas gerais. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Cada época tem as suas acções criticáveis quando vistas de fora, mas no momento essas injustiças não eram tão evidentes à luz da mentalidade da altura e dos modos de vida. Hoje vemos uma civilização que vive do saque do petróleo (um rocha em estado líquido), caminhamos para que essa mesma civilização fique refém desse mesmo recurso e continuamos impávidos a assistir à destruição de comida na economias mais fortes para manter preços e condições sociais de grupos, enquanto quase um terço da humanidade tem fome e morre mal nutrida. Porquê criticar o passado se, pelos vistos, apenas mudámos o estilo de fazer a injustiça?

Anónimo disse...

A pergunta que deixei mais abaixo era para deixar aqui, que vem mais a propósito. Qual é a pedra da igreja de S. José em Ponta Delgada?

Paulo Pereira disse...

Assim, de memória, era capaz de dizer que a igreja de s. josé é de ignimbrito de vila franca.
O teatro micaelense será de traquito.
Mas o geocrusoe é que irá tirar dúvidas.

Carlos Faria disse...

à ana rita
Uma pergunta lógica, mas que eu não estava preparado, tenho que passar por lá, ver e reparar se por dentro e no exterior é a mesma rocha... embora em ponta delgada predominem o basalto e o ignimbrito da povoação, mas como já mostrei, também há traquito e calcário importado...sei apenas que é uma rocha escura no exterior, em breve julgo poder dizer o que observei. Geólogo nem sempre está atento ao mundo à volta.

ao paulo pereira
já pensei que seria ignimbrito, mas só vendo e reparando intencionalmente para confirmar, mas a ser ignimbrito, julgo que seria o da povoação, que é mais consistente, não conheço ignimbrito suficientemente consistente da vila franca, mas posso estar errado.