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sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

"Berta Isla" de Javier Marías

 

Citação

"Esse conceito moderno de «crimes de guerra» é ridículo, é estúpido, porque a guerra consiste sobretudo em crimes, em todas as frentes e desde o primeiro até ao último dia."

Voltei à leitura daquele que se tornou ou meu escritor contemporâneo preferido: Javier Marías, do seu penúltimo romance de 2017 "Berta Isla" que também não me desiludiu, até manteve o fascínio e levou ao interesse de leitura de outros dele, sobretudo o seu último publicado antes de morrer, cujo protagonista é o marido de Berta Isla: Tomás Nevinson, que deu título à obra.

Berta apaixonou-se no colégio pelo seu colega Tomás, um jovem sobredotado línguas, imitar pronúncias e com dupla nacionalidade (espanhola e inglesa) com quem iniciam uma relação. Na universidade ele vai para Oxford e ela fica em Madrid, só que Tomás volta diferente, mas casam-se. Ele parece perdido, inquieto e no tem muitas viagens a Londres de que não pode falar e na sequência de um incidente ameaçador descobre que o marido tornou-se agente secreto inglês, por isso terá sempre uma vida oculta e demasiadas ausências. Por amor aceita ser uma mulher em simultâneo casada e sem parceiro, viúva e mãe de órfãos de um pai desaparecido, amada e ignorada. Tudo isto gera um conjunto de reflexões sobre o outro, a sua intimidade e dúvidas sobre as funções do marido situadas no fio da navalha entre o bem e o mal.

Já falei nos anteriores romances que li sobre uma escrita riquíssima de sinónimos e sem pressa deste autor. Em Berta Isla, talvez, haja um menor confronto de vocabulário e as cenas curtas não se estendem por tão grande número de páginas como em O teu rosto Amanhã, ou Amanhã na Batalha pensa em Mim, existem personagens que são retomadas neste romance, todavia as reflexões éticas sobre as questões da realidade e não realidade, da vida e da morte ou existênciais estão igualmente bem desenvolvidas neste livro, tornando-o num Javier Marías puro, mas mais enxuto, sendo que neste há muito que se subentende sem se dizer, um técnica que o escritor domina com uma genialidade única. Gostei muito espero em breve ler mais romances deste que se tornou um escritor fetiche para mim, embora não escreva obras muito fáceis.

5 comentários:

Pedrita disse...

preciso lê-lo então. bela capa. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Nesta coleção as capas são generalidade bonitas, este repete duas personagens importantes da trilogia "O teu rosto amanhã" para começar entre os que já li, por ser muito bom e menos longo que a trilogia, recomento "Amanhã na batalha pensa em mim"

João Soares disse...

Olá Carlos Faria
Foi o autor que descobri este ano. É um autor um pouco difícil de entrar, mas depois é absorvente. Li a obra "Amanhã na batalha pensa em mim" e é excepcional. Vou ler este certamente.
Um abraço e votos de Boas Festas.

Carlos Faria disse...

Boas João
Também, bem mais difícil de entrar e denso é o romance "O teu rosto amanhã" são 3 volumes, tem duas ou 3 personagens que reaparecem em Berta Isla, mas a riqueza literária, densidade da reflexão e da escrita é muito maior.

Pedrita disse...

anotado. espero q 2023 seja um ano melhor pra vc pq parece q esse não foi fácil. fiz a retrospectiva no meu blog com os livros que mais gostei dos q li. fique bem. beijos, pedrita