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quinta-feira, 6 de junho de 2019

"As Ondas" de Virginia Woolf


Excertos

"imagino que nasci destinado a encontrar, numa noite de inverno, o sentido de todas as coisas, o fio que as liga, o resumo que as completa."
"É tão estranha a maneira que os mortos têm de se lançarem sobre nós à esquina das ruas e nos sonhos!"

A escritora inglesa Virginia Woolf cria em "As Ondas" um romance cuja estrutura e narrativa são bem diferentes da forma de contar uma estória.
Acompanhamos ao longo de vários capítulos monólogos interiores de seis crianças fortemente unidas pela amizade: três rapazes e três raparigas, desde o colégio até à terceira, que refletem sobre si e os outros amigos do grupo, incluindo um sétimo que nunca fala, mas que os marca intensamente. Assim vamos conhecendo todos, as impressões e ligações entre elas, as diferenças, os medos, os gostos, anseios e ambições de cada um e o seu evoluir como ondas no tempo. Estes capítulos são separados por outros mais pequenos que cronologicamente se iniciam com a descrição da aurora que anuncia a infância, num litoral onde as ondas se vão espraiando sucessivamente e as cores da vida se definindo na paisagem e assim prossegue a evolução com a subida do sol ao longo do dia até à maturidade do meio-dia e da meia-idade do grupo avançando depois para o declínio e crepúsculo com o ocaso, o diluir das ondas e das cores e da vida a anunciar o fim destas pessoas. 
Não há um único diálogo no livro, embora praticamente se assista a confissões contínuas vindas do interior de cada um em relação ao outros e ao meio que os cerca e assim cada um se dá a conhecer a si e aos restantes elementos que formam um só corpo que forma uma flor alimentada na amizade, mas sem anular a individualidade, a solidão em cada um com os seus receios e desconfianças.
A narrativa em estilo de fluxo da consciência, além de poética marcada pela solidão, é de uma beleza e tecnicidade que nos faz sentir o evoluir da pessoa como um contínuo de ondas do mar ao longo do dia até que este passa e fica apenas a memória e virão então outros dias onde novas ondas continuarão a fluir no curso da humanidade...
Literariamente uma excelente narrativa em forma de poema temperado pelo fluxo da esperança, prazer, desilusão e dor que é a vida de cada um. Um bom livro, mas não num estilo fácil.

6 comentários:

ematejoca disse...

Toda a obra de uma das minhas escritoras favoritas não é de estilo fácil. Quanto mais gosto de um livro, quanto o leio mais devagar. Toda a obra da Virgínia como a da Agustina é para ser lida devagar. Para terminar, quero ainda agradecer a análise desta obra, análise que descreve exactamente aquilo que eu também escreveria.

Carlos Faria disse...

Sim, tal como em Agustina, são ambas escritoras que exigem tempo e concentração do leitor que leia os seus livros e amvas dizem muito enquanto escrevem.

Pedrita disse...

bonita a capa mas não condiz em nada com a obra. a capa da edição que li é bem mais instigante e bonita. eu amei essa obra, amo essa escritora. comentei aqui https://mataharie007.blogspot.com/2008/03/as-ondas.html beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Também gostei, mas não deixa de ser um texto atravessado pela solidão e um forma de escrita que embora eu goste não é muito fácil.

Bárbara Ferreira disse...

Livro de facto maravilhoso, mas muito denso.

Carlos Faria disse...

De todos os Woolf que li, foi o mais denso, mas também o mais belo.