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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

"Viagem ao fim da noite" Céline


Apesar de ser um bom romance não posso dizer que "Viagem ao fim da noite" de Louis-Ferdinand Céline virá a ser um dos livros da minha vida.
Um protagonista, Bardamu, que começa por relatar como foi o seu alistamento no exército francês para a I Grande Guerra, que nos mostra magistralmente o absurdo desta, pois o cidadão do povo é mera carne para canhão útil às classes dirigentes, que não lhe reconhece qualquer outro valor, motivo que poderia justificar a sua fuga, transforma-se depois numa quase história da sua vida de fugas para a frente, não planeada e onde por norma as pessoas com que se cruza, tal como ele, são covardes, egoístas e apenas motivadas por dinheiro ou pelas hormonas que dão vida ao baixo-ventre, consequentemente as deceções são sucessivas ao longo das situações em que se vai envolvendo.
Poder-se-ia considerar uma obra de protesto ou descontentamento com a sociedade, mas também nenhuma personagem da obra serve de contraste para apontar caminho, por isso a viagem é negra e mergulhada na escuridão da noite, a loucura resulta da rotura da luta entre o mau ser que somos e aquele que temos de mostrar socialmente, tornando-se assim mais numa obra de contracultura do que formativa.
A escrita tem uma pontuação e sintaxe por vezes desconcertante, o uso de calão nem sempre é necessário, pelo que a obra valeu sobretudo para conhecer uma dos escritores mais polémicos do século XX em França.

3 comentários:

Pedrita disse...

ah, isso acontece comigo tb qd não tenho identificação com o livro mesmo ele sendo bom. eu tenho problemas com livros de aventura, lord jim, trabalhadores do mar. não me identifico. eu gostei bastante de o vermelho e o negro mas li há muitos anos. beijos, pedrita

Unknown disse...

Carlos, este foi um dos livros que mais me impressionou até hoje. Profundo,revoltado e revoltante.
Celine foi um homem estranho; doente, mesmo. Navegou entre a extrema esquerda e a extrema direita (foi mesmo colaboracionista nazi) e talvez por isso foi um homem amargurado.
Não imagino a confusão que ia na sua cabeça na parte final da sua vida.
E depois há o título; um dos mais bem conseguidos de sempre.

Carlos Faria disse...

Foi esse aspeto de homem revoltado que só vê nos outros homens egoísmo e hormonas que torna este livro sem esperança e foi por isso que me deixou desconcertado, até por que a dimensão da obra tinha espaço também para desenvolver alguma personagem com virtudes.