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sábado, 24 de janeiro de 2015

"O vermelho e o negro" de Stendhal


"O vermelho e o negro" de Stendhal, pseudónimo de Henri-Marie Beyle, escrito em 1830, poucas décadas depois da revolução francesa por um bonapartista convicto, é um romance que possui uma estrutura característica do século XIX, a limpidez da escrita, a linearidade da história e capítulos intitulados seguidos de frases ou citações que nos introduzem no conteúdo dessa divisão da obra, possui também um conjunto de pormenores que o distanciam do romantismo e o colocam como precursor do realismo. A análise social omnisciente do autor coloca virtudes, defeitos e contradições em todas as classes sociais e as personagens possuem todas essas características, não havendo bons perfeitos e maus apenas diabólicos, o clero é constituído por pessoas que encerram todos os vícios da sociedade e digladiam-se para conservar o poder individual terreno e egoísta.
Stendhal desenvolve uma trama onde o ainda adolescente Julien Sorel, de origem humilde é marcado pela ambição como marca do estrato baixo que olha para os outros sentido-se em desvantagem por condições de nascimento, o que lhe perturba as paixões. Os burgueses e nobres lutam para garantir o seu estatuto social, os primeiros ascendendo com a revolução e os segundo em declínio desde da monarquia e sentem-se com direitos adquiridos e olhas as pessoas como peças do seu xadrez. As suas mulheres de sociedade são escravas dos seus sentimentos e não se limitam aos seus iguais, são capazes de ver em Sorel um amante a esconder. Tudo isto gera conflitos, ora os novelescos do amor, ora sociais e políticos, onde o protagonista inseguro procura a ascensão numa idade imatura das paixões, tornando-se vítima desta rede de interesses.
Se podemos ver uma história de paixões, existem numerosas subtilezas e críticas sociais ao século XIX e ruturas com a ética e a moral prevalecente no passado, pelo que o romance vai muito além do amor para se tornar numa profunda análise e retrato pensado da sociedade francesa contemporânea de Stendhal, o que o torna numa obra-prima no seu género, cheio de ensinamentos e agradável de se ler. Gostei muito.

5 comentários:

Pedrita disse...

eu tb gostei muito mas li há anos. esse do conrad eu não li. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Compreendo, um livro arrojado para a época em que foi escrito.
Segundo tenho ouvido dizer, este Conrad é o mais denso e escuro de todos, mas ainda li poucas páginas, embora seja pequeno.

Denise disse...

Olá Carlos!

Eis um livro que prometi a mim mesma tirar da estante de uma vez por todas.
Quanto ao "O Coração das Trevas", que já li, é de facto um livro muito denso, pesado, profundo... mas igualmente bom.

Beijinhos e boas leituras!

fatimapomboimagem disse...

ADORO! e também o outro A CARTUCHA DE PARMA, são livros para ler e reler, sempre.....

Carlos Faria disse...

Espero agora ter oportunidade de ler a Cartuxa de Parma.