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terça-feira, 14 de junho de 2022

"Senhora Oráculo" de Margaret Atwood

 

Frase inicial na obra

"Planeei com todo o cuidado a minha morte; ao contrário da minha vida, que passou sinuosamente de uma coisa para a outra, apesar das minhas débeis tentativas para a controlar."

Margaret Atwood é sem dúvida a escritora Canadiana de quem mais obras li, se antes sempre na língua original, "Senhora Oráculo" foi o primeiro romance dela que li traduzido para português, a sensação não é a mesma, mas a velocidade de leitura compensou.

Joan Foster, ao sentir-se acossada com todos os seus problemas, decidiu simular a sua morte no lago Ontário e refugiar-se em Itália. Ali vê o seu passado: desde uma infância complexada como gorda perante uma mãe que não perdoava os seus desleixes e até ser uma figura pública com o sucesso "Senhora Oráculo" - livro que assumiu ter inspiração espírita -, só que também é uma escritora de literatura barata de cordel, personagem que esconde por vergonha num pseudónimo, sendo ainda esposa de um universitário de esquerda revolucionária e a quem mente dizendo-se ensaísta e a quem trai com um artista de choque, de repente é chantageada por um homem que descobre todos os seus segredos e decide desaparecer mas a sua situação complica-se cada vez mais. 

Ao longo da obra vamos conhecendo os receios e desejos de Joan Foster, as suas mentiras, o conforto dado por sua tia e o medo e revolta com sua mãe, os homens diversos e por vezes estranhos de que se aproxima e se relaciona, a sua experiência espírita e o esforço de criar personagens típicas da literatura de cordel mas em parte inspiradas na sua experiência de vida e excertos desta literatura sem ambições mas rentável.

É uma das primeiras obras de ficção de Atwood: uma autora profícua que intercala romances, ensaios, coletâneas de poesia, contos, e até livros infantis. Este livro já tem indícios dos caminhos que a escritora seguiria: mistura numa obra de várias narrativas, poesia, estilos distintos de escrita, factos reais, paranormais, medos e psicoses e até refere a via que a tornou famosíssima da ficção-científica. A exposição nem sempre linear e alguns pontos não me parecem totalmente resolvidos, mas é interessante ver como a autora expõe algumas dificuldades no desenrolar das personagens e da narrativa. Gostei.

6 comentários:

Pedrita disse...

eu tenho esse ainda a ler. minha amiga me presenteou com os livros que ela tinha dessa autora. esse ainda não li. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Boa tarde
É um romance que aprofunda menos os assuntos que mais tarde Atwood se tornou exímia em dissecar nas suas obras e um pouco caótico na narrativa... mas isso também não é estranho nas suas obras de maturidade.

Pedrita disse...

fiquei curiosa agora em conhecer como o seu talento iniciou. acabo de falar de livro no meu blog.

Kelly Oliveira Barbosa disse...

Nunca li a autora. Talvez seja um bom livro para começar.

Carlos Faria disse...

Kelly
Não foi o que mais gostei dela, o mais completo dela foi o booker prize de 2000 "the blind assassin" aqui em portugal "O assassino cego" mas é um livro extenso.
Na generalidade os romances dela são extensos, há um pequeno que gostei muito Hag-seed, semente de bruxa e portugal, uma transposição para a atualidade de A tempestado de Shakespeare, pequenino e fácil de ler, muito divertido.

Os mais famosos são distopias, o assassino cego tem uma distopia dentro do romance, mas the handmaid's tale é a mais divulgada, em que os EUA se tornam numa ditadura religiosa fanática, um livro pouco extenso mas muito forte.
Oryx and Crake é o primeiro de uma trilogia distópica sobre um fim da atual humanidade provocado por engenharia genética, muito duro, mas muito bom.
Noiva Vendida The Robber Bride é grande mas agradável sem distopia.
Eu não começaria por esta senhora oráculo

Kelly Oliveira Barbosa disse...

Muito obrigada pelas dicas Carlos. Me esclareceu bastante.