Páginas

quinta-feira, 11 de julho de 2019

"Os dados estão lançados" J. P. Sartre


Li o romance/novela "Os dados estão lançados" do filósofo francês laureado com o Nobel da literatura: Jean Paul-Sartre, apesar de o ter feito em ebook, esta obra existe em livro conforme o link associado ao nome do mesmo.
A obra começa com o desenrolar de dois homicídios: de Pedro - um líder revolucionário em véspera da revolta, morto por um espião; e de Eve - uma esposa rica e infeliz, envenenada pelo marido. Os assassinados no reino dos mortos podem observar sem serem vistos o que se passa no mundo dos vivos e tomam conhecimento de riscos que desejam evitar: Adão envolvendo os seus correlegionários e Eva uma armadilha montada à irmã. Entretanto aquelas vítimas apaixonam-se entre si, só que o amor só se concretiza em vida, mas um artigo da lei permite reviver pessoas que destinadas uma à outra que não se encontraram antes. Assim, terão a morte revogada para concretizar o amor num prazo pré-determinado, só que também se sentem obrigados a evitar os males a que os entes queridos estão expostos, surgindo o problema de conciliar as duas tarefas e mudar o curso da história com os dados lançados não é fácil.
Escrito numa linguagem fria, quase telegráfica e sem recorrer a figuras de estilo evidentes, a trama desenrola-se de uma forma rápida que entrecruza cenas associados aos dois protagonistas assemelhando-se a uma dramatização teatral, e talvez só não seja uma peça por necessitar de recorrer a algumas soluções técnicas para descrever a realidade dos mortos e dos vivos e complexidade de encenar numerosos quadros curtos em ambiente muito distintos.
A ideia de destino e de fatalidade da existência humana atravessa a obra sem obrigar a grandes reflexões e a  crença romântica da força do amor é posta à prova por este filósofo existencialista.
Curto, muito fácil de se ler e consegue ter bom humor no seio das situações tristes em que Pedro e Eva se veem envolvidos, terminando com uma dúvida de esperança. Gostei muito.

10 comentários:

Pedrita disse...

eu só li um do sartre faz tempo. gostei muito. mas não foi esse. beijos, pedrita

Bárbara Ferreira disse...

Tenho muita curiosidade com este, tendo lido A Náusea no ano passado e querendo ler mais de Sartre. A título de curiosidade, ontem terminei um livro desta "colecção" (Os Intérpretes, de Wole Soyinka) e ficou bastante aquém das expectativas.

Carlos Faria disse...

A Náusea é muito diferente deste, este consegue ser leve e divertir. O outro é mais pesado.

Joaquim Ramos disse...

A primeira obra que li de Sartre foi A Idade da Razão. Este livro mostra claramente a noção existencialista do autor e o perfil psicológico dos personagens - tomando decisões importantes para as suas próprias vidas. Demonstra ainda como a concepção de Sartre sobre liberdade está intrinsecamente ligada à existência humana, sendo o alvo final desta existência.
Anos mais tarde emprestaram-me Os Dados Estão Lançados, que durante décadas esteve esgotado em Portugal. Livro muito pequeno que também gostei muito e me impressionou pela originalidade.
Este ano comprei em promoção o livro de Vergílio Ferreira - Sartre, O Existencialismo é um Humanismo - Da Fenomenologia a Sartre. Vamos lá ver se me abalanço... a sinopse promete!

Carlos Faria disse...

Pois Joaquim Ramos,
Perceber a visão que Vergílio Ferreira tem de Sartre deve também ser denso. Tenho "O Ser e o Nada" o principal ensaio filosófico de Sartre, mas praticamente nem comecei a ler, mas quando ele expõe as ideias dele em ficção tenho gostado muito.

Rui Luís Lima disse...

Na adolescência li um pequeno livro de Sartre (emprestado) que adorei, já não me recordo do título, mas desejava muito voltar a lê-lo, pelo que escreve talvez seja este, vou tentar descobri-lo na biblioteca.
Bom domingo!

Carlos Faria disse...

Mister Vertigo
Espero que o encontre, continuo diariamente a ver o que publica, mesmo que poucas vezes comente. Náusea também não é grande, nem Mãos Sujas, mas são muito diferentes.

Kelly Oliveira Barbosa disse...

Gostei dos comentários, parece divertido e profundo.
Quero ler.

cafeebonslivros.blog/

Carlos Faria disse...

Apesar de uma dose de humor atravessar a obra, não é uma obra divertida, mesmo que por vezes nos faça sorrir.

Kelly Oliveira Barbosa disse...

Entendi :)