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sábado, 16 de dezembro de 2017

"Homer & Langley" de E. L. Doctorow


O romance "Homer & Langley", do escritor americano E. L. Doctorow, ficciona a vida dos dois personagens reais, os irmãos Collyer cujos nomes dão o título à obra. Estes nascidos na década de 1880, filhos de um casal de classe média alta noviorquina que após a morte dos pais e da cegueira de Homer, já no século XX, foram progressivamente se isolando do exterior e recolhendo-se na sua luxuosa vivenda na 5.ª Avenida de Nova Iorque à custa da confortável herança, tal aconteceu não só por quezílias destes com as autoridades e vizinhos, mas, sobretudo, por Langley com traumas vindos da 1.ª Grande Guerra Mundial ter passado a sofrer de uma desordem psicológica de acumulação compulsiva que o levava a trazer para casa um grande número de bugigangas e todos os jornais publicados na cidade enquanto cuidava do seu irmão que fora pianista de cinema mudo.
O escritor imagina a vida destes dois irmãos narrado pelo cego Homer, sobretudo o quotidiano dentro de casa e as obsessões de Langley. Todavia Doctorow extravasa em muito a vida dos irmãos, uma vez que morreram vítimas da sua situação em 1947, enquanto na obra a sua vida estende-se até à década de 1980, servindo assim de meio para contar o evoluir da sociedade, da tecnologia e a sucessão dos grandes acontecimentos locais e mundiais, até o aparecimento de movimentos juvenis ao longo de quase um século de história dos Estados Unidos.
A biografia ficcionada é contada sempre na primeira pessoa na perspetiva de Homer, incluindo as suas paixões e interpretações do que assistia, até às suas adaptações para compensar a cegueira, passando pela crítica subtil do evoluir da sociedade e ainda o impacte dos novos utensílios que só conhecia por descrição de terceiros e fins a que se destinavam.
A escrita é de uma grande elegância e beleza narrativa, mas sempre com um tom nostálgico de quem gostou de coisas agradáveis da vida, o que confere um enorme prazer de leitura a quem aprecia um bom texto bem escrito que relata 100 anos em apenas 172 páginas. Gostei muito.

4 comentários:

Pedrita disse...

acho que eu não leria. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Não sei porquê, um dos livros mais bonitos que li este ano, um sinal que justifica o facto de Doctorow ter sido um dos maiores escritores americanos do século XX, capaz de transformar um mito urbano triste numa pérola literária.

Kelly Oliveira Barbosa disse...

Oi Carlos,

Eu gosto muito de ler biografias, acho que iria gostar de uma ficcional.

Achei interessante.
Abs.

Carlos Faria disse...

Penso que a vida real deve ter sido mais triste que o tom nostálgico do livro criado pelo escritor, que até temperou muito de modo muito agradável tal isolamento dos manos