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terça-feira, 12 de setembro de 2017

"Ao arrepio" de Joris-Karl Huysmans


O romance "Ao arrepio", por vezes traduzido por "Às avessas", é considerado a obra-prima literária de Joris-Karl Huysmans e a mais importante do estilo decandentista surgido em França no final do século XIX e terá influenciado Wilde para Dorian Gray. Apesar de revolucionário no estilo, é uma obra algo difícil pelo grande número de géneros culturais tratados e referências a autores e seus trabalhos.
Des Esseintes é o herdeiro de uma família nobre e heróis de França, mas de uma fragilidade oposta à dos antepassados Após o colégio religioso de classe entra numa vida de prazeres à sombra da riqueza, desfrutando tudo o que a sociedade lhe pode oferecer, até sentir o declínio do mundo que o cerca. Decide então afastar-se e criar numa casa o seu mundo-museu, cerca-se de tudo o que admira para fugir à realidade e entrar no ideal que lhe traga as recordações que valoriza e admira. Assim, desde o estudo das cores dos aposentos, complementada com gemas numa tartaruga para efeitos de luz; passando pela dissertação da biblioteca de clássicos da Roma decadente; continua pela descrição de quadros e de artistas contidos nas divisões; analisa a adequação das flores do jardim para criar cenários idealizados; ensaia  aromas que geram atmosferas e lembranças; disserta sobre músicas de excelência da história e critica os escritores seus contemporâneos. Tudo isto sempre com profundidade, algum sarcasmo e indolência final. Existem momentos de uma riqueza descritiva geniais e outros surpreendentes que se arrastam até um final não menos imprevisto.
Após o romance um prefácio do autor escrito 20 anos depois, onde disserta sobre o conteúdo do romance, o seu impacte no meio cultural de Paris, até o conflito que gerou com Zola, e aponta as sementes que o levaram em seguida não só à sua conversão ao catolicismo, como os pontos desenvolvidos nos seus posteriores romances, como a personagem Durtal de "Além" que aqui falei.
Apesar de por vezes ser fastidioso nas descrições e da letargia com que Des Esseintes se reveste, gostei muito da obra, contudo a bagagem informativa e os aspetos culturais focados não a tornam fácil a um leitor ávido de desenrolares rápidos e narrativas simples dos momentos, um livro diferente entre tudo o que já li.

1 comentário:

Pedrita disse...

fiquei curiosa. beijos, pedrita