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domingo, 3 de março de 2013

Sodoma e Gomorra - Marcel Proust

Tal como Monet, ao longo da série de quadros nenúfares pintou variações do mesmo tema: cor, luz, sombras, contrastes, estados de floração, natureza envolvente, etc. Proust, na busca do tempo perdido usa a memória do narrador para descrever várias faces da sociedade parisiense da época: hábitos, formas de expressão artística, história, desconfiança nobreza/burguesia, preconceitos e evoluções temporais destes aspetos.
Se a série dos nenúfares pode parecer repetitiva, mas cada quadro é uma obra-prima única. Também  nos volumes deste romance repetem-se convívios em salões literários típicos da transição do século XIX para o XX, onde os anfitriões e os convivas mostram as faces diferentes dessa mesma sociedade e se percebe a sua vida diária.
O crescimento do narrador é permanente, começa no escuro da sua ansiedade de criança fora do convívio  no primeiro volume e ao entrar na sociedade vai-se esclarecendo das facetas mais escuras desta: descobre o preconceito e a marca de proscritos, com destaque para os judeus e os homossexuais.
No volume anterior Proust usa o caso Dreyfuss para mostrar como o nacionalismo e a ideia de grupo/classe obscurecem consciências até estas preferirem que a justiça se molde aos seus preconceitos à descoberta da verdade dos factos.
Na primeira parte de Sodoma e Gomorra há um pico na reflexão e consideração do problema dos proscritos, agora com destaque para a homossexualidade. Proust não se torna juiz, com comparações literárias únicas vindas da natureza e a necessidade de sobrevivência dos excluídos, escreve um texto magnífico onde procura explicar comportamentos sociais, sem tomar uma posição que não seja a do relato e sua interpretação e fugindo aos preconceitos, embora, talvez para salvaguarda pessoal, esta fuga nem sempre seja conseguida.
Depois de todos os comportamentos fundamentados, voltam os convívios nos salões literários com as suas variantes habituais e prolixas, sem deixar o narrador incólume às inseguranças, vícios humanos e preconceitos que impregnam a sociedade e capazes de envenenar as relações humanas e o amor.

2 comentários:

Pedrita disse...

vc agora começa a ler a prisioneira q no brasil foi publicado como a fugitiva. eu amo esses livros. beijos, pedrita

Carlos Faria disse...

Eu não sei quantos volumes foi a edição brasileira, por cá são 7 e "A Fugitiva" é o sexto volume.
Mas ao longo dos tempos mesmo em França as edições fizeram divisões diferentes dos vários volumes da obra.